O homem da ponte tinha a mesma estatura de Oliver e sua voz também se parecia a dele. Eu não posso acreditar, não mesmo, isso não seria verdade, não podia ser ele, de modo algum! Como não o reconheci no primeiro dia? Talvez por estar cheia de medo e enfrentando meus próprios problemas, não pude focar em sua verdadeira identidade, ainda mais depois da notícia da morte do outro homem. Acreditei fielmente que se tratava da mesma pessoa. Que coincidência estranha.
Lembrei do que Denise disse.
“Ele tentou tirar a própria vida, mas na hora algo aconteceu e o fez pensar melhor, voltando para casa”
Seria possível serem a mesma pessoa? Mas será que ele também não havia me reconhecido no outro dia?
A interrogação da minha cabeça durou a madrugada toda, eu não dormi nem um segundo. Pela manhã, me lembrei de algo. O homem daquela noite possuía um carro esportivo vermelho, com o símbolo de um cavalo. Lembrei também que, quando cheguei a primeira vez aqui, vi que na garagem havia um carro coberto com uma capa preta. Iria até a garagem e tiraria a capa do carro, o olharia, aí, sim, confirmaria minha suspeita.
Eram cinco da manhã, quando desci para a garagem. Ainda estava escuro e a névoa pairava lá fora, parecia até cena de filme de terror. Noah havia acabado de dormir outra vez. Andei com muito cuidado e silêncio, não queria que Oliver visse o que iria fazer. Entrei na garagem e logo vi o carro que Joaquim dirigia, ao lado, num canto, estava o outro carro coberto, andei em direção a ele, quando a voz de Oliver estrondou no ambiente.
— O que está fazendo aqui? — O mini infarto veio na hora. Oliver era profissional em testar a força e utilidade do meu coração.
Esse homem parecia estar em todo o lugar.
— Ah, bom dia, senhor, eu vim… — Pensei numa desculpa rápida. — Vim ver se uma coisa que comprei ontem caiu por aqui no chão, ou até mesmo no carro.
— Que coisa?
Esse homem também não dava trégua. Eu colocava minha imaginação para funcionar a cem quilômetros por hora e inventava uma mentira atrás da outra, já estava me incomodando muito. Eu não era assim, a Aurora verdadeira não era desse jeito, não tinha segredos ou escondia algo, tentava ser o mais transparente possível.
— Ah, um brinco. — Continuei. — Fui olhar minhas sacolas e não o achei, talvez tenha caído no interior do carro, ou aqui na garagem quando desci.
Oliver me olhava desconfiado, mas mesmo assim acreditou na minha história.
— O carro está trancado, espera que abro para você olhar.
Ele abriu a porta e comecei a fazer minha cena de procurar por algo que nunca acharia, pois não havia comprado nenhum brinco, porque nem as orelhas furadas eu tinha. Olhei em todos os cantos do carro, após alguns minutos, mostrei minha melhor cara de frustração.
— Não está aqui, provavelmente eu o tenha esquecido na loja. — Fiz uma cara triste.
Não era fácil mentir toda hora, Oliver estava a todos os momentos me sondando, eu realmente não queria isso, mas estava tão curiosa para descobrir a verdade, que quase soltei minha dúvida para ele.
— Estou indo para a capital agora, se quiser aproveitar a carona, se arrume rápido e assim você os busca.
— Ah, não precisa, era um brinco simplesinho, bijuteria, sabe? — Tirei meu corpo fora. A história do brinco já estava rendendo demais. — Foi tão baratinho, que nem vale a pena ir atrás.
— Tudo bem, então, volta para dentro da casa, está muito frio aqui fora.
Eu já ia saindo e voltando para o quarto quando Oliver entrou no carro e fechou a porta, dando partida. Eu poderia esperar que ele saísse para voltar a espionar e tirar minhas dúvidas, mas algo me tocou, para que perguntasse a ele diretamente. Bati no vidro do carro e ele o desceu, me encarando e esperando que falasse algo.
— Senhor Oliver.
Sei que estava sendo muito impertinente, mas seria sincera dessa vez. Acho que o Oliver já ouviu muitas mentiras ultimamente, eu falaria a verdade, de agora para frente, por mais que minha vida estivesse de cabeça para baixo, não queria perder minha essência, nunca!
— O que foi? — Respondeu impaciente.
— Eu não vim aqui procurar brinco algum. — Ele continuou me olhando sério. — Na verdade, eu vim para tirar uma dúvida que está rondando o meu pensamento e não me deixou dormir. — Oliver desligou as chaves e parou para prestar a atenção no que eu iria falar. — Que cor é aquele carro que está coberto ali?
Ele olhou-me surpreso, parecia haver ouvido uma piada e começou a rir.
Eu ainda estava em estado de choque, acabei literalmente salvando a vida de um homem, que seria na frente meu patrão, a pessoa que, querendo ou não, me acolheu quando precisei. Um sorriso tímido surgiu dos meus lábios, estava feliz em saber que Oliver era o homem da ponte, eu sabia dos seus motivos para não querer mais a vida, e não o julgava.
Que bom que ele não chegou a fazer tal ato, ainda tinha muito para viver pela frente! Também tinha um filho para cuidar, apesar de não se aproximar do Noah no momento, não deixava nada faltar para ele, era só questão de tempo para as coisas se organizarem em sua cabeça e ele começar a criar vínculos com o filho.
— Estou feliz em saber que está bem. Desde que cheguei aqui, não parava de pensar no que havia acontecido, me preocupava de verdade. Quando li aquela notícia, pensei haver encontrado um monstro, mas não! Você é uma boa pessoa, com um lindo filho que precisa muito de você. — Sorri com o meu sorriso mais sincero.
Ele arregalou os olhos, parecendo filtrar tudo o que acabara de ouvir, talvez não achasse que era isso que eu iria dizer, então, percebendo que ainda me segurava, soltou meu braço e continuou em silêncio.
Cobri novamente o carro.
— Estou entrando. — Disse, virando as costas e saindo da garagem. Oliver entrou no carro, dando partida.
Me lembrei de fazer mais uma pergunta.
— Oliver! — Ele me olhou assustado. — Você sabia quem eu era quando cheguei aqui?
— Você é bem lerdinha mesmo, hein? Eu sabia que era você, desde que te vi deitada nua no feno.
Sua cara de chacota havia voltado, logo ele subiu o vidro do carro e acelerou, saindo do meu campo de visão, e eu fiquei ali, com a cara no chão. Ele havia me visto pelada?
Entrei na casa, perecendo de vergonha alheia, como eu olharia em seus olhos outra vez?
Tomei um café com torradas, enquanto olhava Noah pela babá eletrônica. Quando fui lavar meu copo, vi um pote no escorredor da pia, igual ao que guardei o restante da sopa na noite passada. Então me lembrei de tirá-lo da geladeira e deixá-lo descongelar do lado de fora. Para a minha surpresa, ele não estava mais lá, então percebi que o pote no escorredor era o mesmo usado por mim. Oliver havia comido a sopa que eu havia guardado.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Caminho Traçado - Uma babá na fazenda
Os capítulos 73. 74 estão faltando ai ñ da para compreender e ficamos perdidas...
Alguém tem esse livro em PDF ?...
Do capítulo 70 em diante não se entende mais nada, pulou a história lá pra frente… um fiasco de edição!!!...
A partir do capítulo 10, vira uma bagunça, duplicaram a numeração dos capítulos, para entender é preciso ler apenas os lançados em outubro de 2023, capítulo 37 está faltando, a rolagem automática não funciona, então fica bem difícil a leitura! Uma revisão antes de publicar não faria mal viu!!!...
Nossa tudo em pe nem cabeça, tufo misturado, não acaba estórias e mistura com outro, meu Deus...
Lindo demais...