Caminho Traçado - Uma babá na fazenda romance Capítulo 46

Haviam se passado três dias após aquele horrível ocorrido, meus olhos ainda estavam inchados, mas conseguia abrir um pouquinho, meu corpo ainda estava dolorido, e havia hematomas por todo lado. Ainda me sinto mal, quando me lembro do Sandro, de suas agressões e de sua falta de pudor, me arrepio e chego me desesperar.

Mas quando me lembro de Oliver chegando, e tirando aquele mostro de cima de mim, na hora que ele tentaria me violar, eu me sinto aliviada, a psicóloga que está me acompanhando pediu que só pensasse nas coisas positivas, e estou focando nisto.

Denise veio para a capital e está cuidando de Noah, ela tem sido minha companheira de todas as horas, me fazendo rir e esquecer as coisas ruins, a enfermeira que está cuidando de mim se chama Sara, ela já tem 45 anos, e é muito prestativa também, tem sido maravilhosa, e quando nós três nos juntamos no quarto, só saem gargalhadas.

Oliver, tem sido um amor comigo, eu não tenho palavras para expressar minha gratidão, por ele mover todo aquele pessoal para me encontrar o mais rápido possível, meus olhos chegam a lacrimejar de tanta gratidão, ele vem me ver diariamente, e conversa comigo, é estranho porque ele parece outra pessoa, está mais calmo e compreensivo, deve está voltando a ser quem realmente era, antes de a bruxa da Liana ter aparecido em sua vida, ele tem dormido no quarto ao lado, já que estou ficando no seu, aqui é bem mais confortável, e eu posso tomar sol da varanda, sem precisar sair ou descer as escadas, pois meu corpo ainda dói.

Saio dos meus devaneios, quando ouço batidas na porta, e logo Selma entra.

— Aurora, tem uma senhora lá em baixo e disse que quer falar com você.

— Senhora? — Fiquei confusa, pois não estava esperando ninguém. — Ela não disse o nome?

— Não, só disse que você já sabia, ela está acompanhada de uma criança.

— Ué, não estou esperando ninguém, pode pedir para a pessoa subir? Não consigo descer as escadas ainda.

— Sim, só um minuto!

Selma saiu do quarto, logo vesti meu roupão, pois estava ainda com roupas de dormir, não sabia quem era, e me sentei na poltrona da varanda aguardando.

Logo a porta do quarto foi aberta, e vi uma menininha correndo em minha direção para me abraçar.

— Rora! — Alice estava ali, linda como sempre, com uma calça jeans azul, e uma blusinha rosa, a coisa mais fofa do mundo, sua franjinha estava enorme, e suas bochechas rosadas. — Eu estava com saudades Rora.

Ela falava do jeitinho dela, mas eu estava com mais saudade ainda, lágrimas correram do meu rosto, minha irmãzinha estava ali, após meses sem vê-la.

Logo, minha mãe também entrou, não acreditava que ela estava ali, seu rosto estava com olheiras, a sua aparência era uma das piores que já vi, senti um misto de emoções ao ver minha mãe, parecia sermos duas estranhas.

— Olá Aurora.— Seu tom era triste.

Acho que minha mãe percebeu a burrice que seu marido havia feito, e que agora, sim, ela acreditava em mim realmente!

— Mãe, o que faz aqui? — Perguntei ainda abraçada a Alice, mesmo dolorida, eu não queria soltar a minha irmã.

— Tive que vir para cá, depois de toda essa situação, como não tinha ninguém para ficar com a Alice, também tive que trazê-la, ela ficou o caminho todo perguntando por você, então resolvemos fazer uma visita.

— Eu estava morrendo de saudades de você, sua baixinha. — Falava olhando para minha pequena.

— Por que seu rosto está assim Rora? — Falou referindo as manchas roxas em meus olhos.

— Eu me machuquei meu bem, mas estou bem agora.

— Ah! Está acontecendo coisas ruins né? — Perguntou passando a mão no meu rosto.

— Só aconteceu isso meu amor, eu vou ficar boa logo.

— Não foi só isso não Rora! — Falava com expressão de surpresa.

— O que aconteceu, Alice?

— Rora, o papai está preso.

Escutar isso da boca de minha irmãzinha, me fez engolir seco, olhei para a minha mãe, que esperava que eu dissesse alguma resposta para a minha irmã.

— Escuta, você quer comer alguma coisa? Tem bolo de chocolate aqui.

— Êba, eu gosto de bolo de chocolate! — Respondeu animada, o melhor das crianças é a sua inocência.

Logo pedi Selma que trouxesse algo para servir as minhas visitas inesperadas, após se empanturrar de bolo de chocolate, liguei o notebook e dei para a Alice assistir desenho, ela se deitou na minha cama e se distraía.

Enquanto eu preparava tudo para Alice, minha mãe continuava sentada na varanda, ela observava de longe, o mar e as ondas.

— É um lugar bonito não é mesmo mãe?

— É sim. — Parecia medir as palavras.

Eu a entendia, estava sem jeito, e com certeza morta de vergonha pelo que o marido fez, pedir desculpas não seria nada fácil para ela, pois, depois de tudo que contei, ela ainda havia ficado do lado do marido.

— Vejo que você está muito bem acomodada Aurora.

— Tive sorte de encontrar pessoas boas no meu caminho.

— Quem é esse pessoal, para quem você trabalha?

— Ah, o senhor Oliver é um grande empresário no ramo agropecuário, eu trabalho cuidando do filho dele.

— Ah, é? — Disse surpresa. — E a esposa dele, o que faz? — Parecia está interessada.

— Ele não é casado não! — Disse curta e grossa, não cabia a mim falar da vida do meu chefe.

— Então, você vive na casa de um homem que vive sozinho com o filho?

— Moro na casa onde trabalho, e onde tem outros funcionários também! — A cortei.

— Belo quarto. — Falou insinuando para dentro. — Todos os funcionários dormem em quartos assim, com varanda para o mar?

— Onde está querendo chegar mãe? — Perguntei um pouco mais alterada, a conversa não estava chegando onde eu imaginaria que chegaria.

— Aurora, vejo que está com uma vida ótima, melhor do que quando vivia lá em casa, e olha que lá não te faltava nada.

— Acho que está falando da vida que eu tinha antes de papai morrer, não é? Porque depois disso minha vida virou um inferno.

— Escuta! — Levantou a mão, para que eu parasse de falar, e que ela continuasse. — Você está morando em uma boa casa, comendo bem e sendo bem tratada, vejo que ter saído de casa não foi tão ruim assim, além disso, parece que seu patrão tem certo apreço por você e te dá algumas regalias. Eu nem quero imaginar o que você anda fazendo para retribuir. — Disse me olhando de cima a baixo.

— Eu não acredito no que estou ouvindo, sério que você está insinuando isso de mim mãe?

— Eu não posso dizer ao contrário, você fugiu de casa, veio parar há quilômetros de onde morávamos, em poucos meses já está tendo uma vida de princesa, acha mesmo que acredito que não está acontecendo nada entre você e seu patrão?

— Por que é tão difícil acreditar em mim mãe? Eu não saí de sua casa por querer, eu saí para não ser estuprada, o seu marido é um monstro, olha para mim mãe, olha para meu rosto, olha para o meu corpo! — Me levantei e abri o roupão, expondo todas as marcas de agressão. — Ao invés de me perguntar como estou me sentindo, você veio me falar absurdos e insinuar coisas que não existem! — Disse nervosa.

— Ei, abaixa o tom, a Alice vai nos escutar.

Queria gritar várias coisas na cara da minha mãe, mas naquele momento, ela tinha razão, minha irmã não merecia ouvir nossa discussão, me sentei novamente.

— Tudo bem. — Voltei a falar baixo. — Se você não veio aqui para saber como estou, ou para me pedir desculpas por duvidar de mim, em relação ao monstro do Sandro, o que veio fazer?

— Bem. — Se ajeitou na cadeira. — Quero que você retire a queixa que fez sobre o Sandro!

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