Christian Müller-
Laura estava sentada na beirada da cama, com o olhar fixo no pequeno corpo adormecido de Nathan.
Eu a observava da porta, sem querer interromper aquele momento entre mãe e filho.
— Christian — ela chamou, em um tom baixo, sem olhar para trás.
Me aproximei devagar, parando ao lado dela.
Eu ia dizer alguma coisa, mas ela se levantou devagar, caminhando até a cômoda de Nathan. Laura abriu a gaveta com cuidado e retirou um pequeno objeto o estendendo para mim.
— O que é isso? — perguntei, franzindo o cenho, sem entender.
Laura respirou fundo antes de responder, e o olhar dela encontrou o meu com uma intensidade que me fez gelar por dentro.
— Essa é a sua recompensa por me ajudar hoje. Eu pensei muito antes de decidir te entregar isso, Christian, mas acho que você precisa ouvir.
Peguei o gravador da mão dela, ainda confuso, analisando o objeto como se ele pudesse me explicar o que estava acontecendo.
— O que tem aqui?
— É uma prova contra o seu pai.
Senti o chão sumir sob meus pés.
Meus dedos apertaram o gravador com força e por um momento, tudo ao meu redor pareceu ficar em silêncio.
— Escuta no caminho — ela completou, sem conseguir segurar as lágrimas que começaram a escorrer pelo rosto.
Me aproximei dela, passando a mão de leve por seus cabelos, e depositei um beijo demorado em sua testa.
— Obrigado — murmurei, segurando o queixo dela para que ela me olhasse. — Eu volto no final do dia.
Ela assentiu e eu me afastei, com o coração em guerra dentro do peito. Ela talvez não soubesse, mas essa prova era tudo o que eu precisava para completar o quebra-cabeça na minha família.
Eu sempre desconfiei dele, tinha também as memórias de fatos que comprovavam alguns atos dele, mas nada era concreto. Ninguém confiaria na palavra de uma criança contra um adulto na época.
Respirei fundo segurando aquele gravador com a minha vida e entrei no carro, ligando para Mark antes mesmo de dar partida.
— Christian? — ele atendeu de imediato.
— Mark, preciso que emita um mandado de busca e apreensão para o escritório do meu pai. Agora.
Do outro lado da linha, o silêncio durou alguns segundos antes que ele respondesse:
— Mandado contra o seu pai? Christian, posso perguntar o motivo?
Eu fechei os olhos por um instante, engolindo em seco antes de responder.
— Eu tenho provas de que ele assassinou minha mãe.
Ouvi o suspiro pesado de Mark, claramente surpreso.
— Christian... Isso é muito importante!
— Eu sei. – Respondi o ouvindo respirar fundo.
Apertei os dentes, respirando fundo para não pular por cima da mesa e enfiar o punho naquele rosto arrogante.
— Eu escutei. — Falei, mais firme. — Eu ouvi cada palavra. A confissão. Você dizendo que envenenou a minha mãe.
O sorriso dele vacilou, quase imperceptível, mas eu percebi.
— Não sei do que está falando — respondeu ele, forçando um tom de tédio.
Ri, sem humor, e tirei o celular do bolso, abrindo o arquivo e dando play.
A voz dele preencheu a sala, clara, sem possibilidade de negação:
"Ela sempre foi fraca... nunca teve estômago para lidar com o poder. Eu fiz um favor para ela, e para mim. Norma sabia exatamente o que eu precisava. Não uma esposa doente, mas uma parceira de verdade. Então, eu me livrei dela. Eu dei o que ela pedia, a paz.
Pausei a gravação antes que ele pudesse se mexer. Seus olhos, antes calmos, agora tinham um brilho frio, calculista.
— Você acha que isso vai te ajudar? Acha que alguém vai realmente acreditar em você?
— Eu não preciso que ninguém acredite. Só preciso que você saiba que eu sei. Que nunca mais vai colocar as mãos em nada que pertença ao grupo Müller.
Ele se aproximou, apoiando as mãos na mesa, ficando cara a cara comigo.
— Você acha que está no controle, Christian? Eu construí isso. Eu fiz de você o que você é. Sem mim, você não passaria de um moleque mimado e fraco.
Me aproximei mais, encostando quase o rosto no dele, sentindo o hálito de uísque barato que ele sempre carregava.
— Você nunca me fez forte, isso eu aprendi sozinho, mas vou te provar meu poder quando eu te colocar atrás das grades. Me aguarde!

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