Laura Stevens –
O controle remoto escorregava da minha mão sem que eu percebesse.
A televisão estava ligada há horas, mas só agora as imagens começaram a se fixar como navalhas nos meus olhos. A antiga sede da Müller Group aparecia em chamas de poeira, coberta por ruídos de demolição e sirenes. Máquinas rasgavam concreto como se aquilo fosse só mais uma obra, como se aquele prédio não fosse um marco — Como se não fosse um pedaço do que estávamos vivendo.
O mundo ao meu redor pareceu perder o som. Eu só ouvia meu coração batendo forte.
A câmera tremia. No meio da confusão, um vulto familiar atravessava os destroços. Eu o reconheceria mesmo no fim do mundo.
Christian.
Levei uma das mãos à boca e a outra apertou a barriga, como se isso pudesse proteger o bebê da avalanche de pânico que crescia dentro de mim.
Amanda apareceu atrás de mim, com uma xícara de café que tremia levemente na mão. Ela olhou pra TV, franziu o cenho e ficou em silêncio por um segundo. Um segundo que pareceu uma vida.
— Se fosse há alguns meses atrás... ninguém imaginaria que seria assim. Que o império Müller viraria esse caos.
Ela não disse por mal. Era só a constatação crua de um fim anunciado. Mas eu não consegui engolir a frase.
— Nem me fale — respondi, sentindo o gosto amargo da impotência na boca.
Eu ia dizer mais alguma coisa, mas então ouvi o som que me rasgou mais do que qualquer imagem daquela demolição.
— Mamãe...
Nathan apareceu cambaleando no corredor, com as mãozinhas prensando a barriga e os olhos apertados de dor.
— Tá doendo...
Meu instinto foi mais rápido que meu corpo. Me abaixei com dificuldade por causa da gravidez, tentando envolvê-lo nos braços. Toquei a testa dele e senti.
Quente. Quente demais.
Meu coração deu um tranco.
— Amanda... — minha voz saiu falha. — Ele está com febre.
Ela já estava discando. Não hesitou.
— Vou ligar para o Dr. Sandro agora! – Disse ela com desespero e preocupação na voz.
Nathan chorava baixinho encostado no meu peito, tentando ser forte e aquilo partia meu coração em pedaços invisíveis.
A ligação demorou a completar. Ouvíamos só o som do viva-voz e a respiração ansiosa da Amanda.
— Doutor? É a Amanda. É sobre o Nathan. Ele está com febre alta, dor na barriga... Está muito quente.
A voz do médico veio abafada, como se estivesse em outro planeta.
— Hoje eu estou no ambulatório. Tá cheio por aqui, não consigo sair nesse momento... vocês conseguem vir até mim?

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