Laura Stevens –
A lâmina encostava na minha pele com precisão, como se ela soubesse exatamente onde aplicar o corte para me calar de vez.
— Você não devia estar aqui! — Eu sussurrei, sentindo minha voz se quebrar antes mesmo de sair por completo.
O cheiro do hospital — aquele misto de álcool e desespero contido — parecia mais forte naquele banheiro pequeno e frio. A luz fluorescente piscava acima de nós, lançando sombras duras sobre o rosto dela. Um rosto que eu conhecia bem demais. O tipo de rosto que visita pesadelos mesmo quando você está acordada.
— E ainda assim... olha só onde eu vim parar — Ela disse, com a calma assustadora.
Norma.
O nome dela era um veneno antigo. Tão antigo quanto as cicatrizes que carrego até hoje.
— Achei que já tinha te perdido naquela explosão... — Ela disse, com um sorriso torto, irônico. — Mas veja só... Ivy. Ou seria Laura? Ainda não decidi qual nome combina melhor com você
Meu coração batia como um tambor de guerra. Eu sabia que ela era perigosa. Sempre soube. Mas vê-la ali, a menos de um palmo de distância, com uma faca na mão e olhos vidrados de ódio, era encarar o próprio inferno com rosto e cheiro.
— Você tentou me matar — engoli em seco. — E matou pessoas inocentes.
Ela arqueou uma sobrancelha, como se aquilo fosse pouco demais pra ser mencionado.
— Inocentes? — Ela riu com um tom seco, perverso. — A mãe do Christian era uma idiota. Fraca. Apegada a valores idiotas. O pai dele, um fantoche. O avô? Um velho ultrapassado que não via além do próprio nariz. Não foram perdas... foram ajustes de rota.
— Você matou a família dele por ambição. Por poder. Como pode ser uma pessoa tão cruel?
— Por direito! — Ela corrigiu, se aproximando ainda mais. — Eles me subestimaram. Todos vocês. E agora, olha só... estou aqui, viva, livre e com a chance de terminar o que comecei.
— Você foi presa... — sussurrei, tentando manter a voz firme. — Tentou sequestrar o Nathan. E agora fugiu da cadeia. Você devia estar trancada.
— Ah, querida... — O sorriso dela cresceu. — Não existe cela no mundo que prenda uma mulher como eu. Não quando o mundo ainda me deve.
— O mundo não te deve nada. – Rebati com raiva.
— Deve sim! — Ela sibilou. — Me deve o império que construí com minhas próprias mãos e que vocês destruíram. Me deve a herança que me foi negada porque Christian resolveu brincar de herói. Me deve o silêncio de quem devia ter morrido naquele carro. No caso... Você.
As palavras dela vieram como t***s. Secos. Rápidos. E cada uma delas trazia o peso de anos de silêncio, de dor, de medo engolido a seco.
— Você matou minha identidade... — sussurrei. — Me transformou em uma sombra. Me jogou num túmulo vivo.
— Mas você rastejou de volta, não foi? — Ela inclinou a cabeça, com a faca ainda pressionada no meu pescoço. — E ainda trouxe um novo herdeiro ao mundo. Que belo ciclo. Vai me dizer que achou que ele estaria a salvo? Que o filho de Christian e da mulher que me tirou tudo ia crescer longe da minha mira?
Meu corpo inteiro enrijeceu.
— Você não vai tocá-lo.

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