Christian Müller –
O corredor do hospital cheirava a antisséptico e medo.
Era um cheiro que entrava pelas narinas e se alojava direto no peito, misturando-se com a angústia que me corroía por dentro.
Estava sentado em um dos bancos duros da sala de espera, com a cabeça baixa, tentando organizar a tempestade que girava na minha mente. Tudo parecia um borrão desde que eu recebera aquela ligação desesperada de Dominic. Minha filha. Minha mulher. Em risco. E eu... tão longe.
Levantei os olhos quando vi Amanda se aproximar. Ela vinha a passos firmes, os braços cruzados à frente do peito, a expressão dura. As sobrancelhas franzidas denunciavam que ela não ia pegar leve. Eu já sabia o que vinha.
— Você tem noção do que quase aconteceu? — ela disparou, sem cerimônias. A voz dela, normalmente firme, agora estava embargada de preocupação e raiva. — Se a sua filha não estivesse com um peso e tamanho bons, talvez agora estivesse numa incubadora... ou nem tivesse resistido.
As palavras dela bateram forte. Doeram mais do que qualquer soco.
Fechei os olhos por um instante, tentando me proteger daquela verdade cruel. Passei a mão pelos cabelos, tentando encontrar algum resquício de calma dentro de mim.
— Eu não fiz nada de errado, Amanda — minha voz saiu rouca, carregada de frustração. — Porra, será que pelo menos você pode confiar em mim? A gente se conhece a mais de trinta anos! Quando foi que você me viu ser esse tipo de Homem?
Ela respirou fundo, fechando os olhos brevemente, como se o que eu dissesse a tocasse, mas não fosse suficiente para abrandar a situação. Balançou a cabeça em negação.
— Chris... agora está nas suas mãos — disse ela, com a voz mais baixa, porém firme. — Ela não vai me ouvir. E, no fundo, nem vai ouvir você.
Me encostei no banco, sentindo o peso da exaustão me arrastar para o fundo do poço.
— Então é isso? — perguntei amargo, com o gosto da impotência subindo pela garganta.
— É isso — respondeu Amanda, com uma expressão de quem também estava sofrendo, mas sabia que precisava ser racional.
Olhei para ela, o coração apertado, o corpo inteiro implorando por descanso e pela chance de consertar aquilo. Mas ainda assim, eu sabia: era agora ou nunca.
— Eu vou limpar a minha barra — Falei entre dentes cerrados. — Mas não agora. Ela precisa engolir o orgulho dela primeiro. Que tipo de pessoa cai em uma armadilha tão ridícula como essa?
Amanda soltou um riso baixo, quase de pena.
— Sinto muito, Christian — ela deu de ombros. — As mulheres... são movidas por pensamentos e emoções. Sua mão estava na perna dela, Chris. O que você esperava? Que a Laura não acreditasse?
Meus olhos escureceram na mesma hora. A raiva que eu vinha engolindo ameaçou explodir, mas me controlei.
Não era Amanda o problema.

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