Christian Müller -
O som agudo do choro da minha filha me arrancou de um cochilo leve.
Abri os olhos devagar, piscando para afastar a névoa do cansaço. O quarto ainda estava mergulhado naquela luz fraca, mas agora o ambiente parecia mais denso, carregado. Meus músculos doíam, e a poltrona onde eu estava parecia ainda mais desconfortável do que algumas horas atrás.
Me levantei rapidamente, indo até o bercinho.
Ela chorava com força agora, o rostinho vermelho, os bracinhos agitados em busca de conforto. Peguei-a nos braços, sentindo o corpinho quente e trêmulo contra o meu peito.
— Shhh... calma, minha pequena — murmurei, embalando-a suavemente.
O choro diminuiu um pouco, mas ela ainda se contorcia, inquieta. De repente, ouvi um movimento na cama.
Virei a cabeça e vi Laura se mexendo, despertando aos poucos. Ela piscou algumas vezes, confusa, até que seus olhos encontraram os meus. E, instantaneamente, o gelo entre nós se fez presente novamente.
Ela se sentou na cama com dificuldade, apoiando as costas nos travesseiros, e olhou para mim e para a bebê, o olhar duro.
— Pode deixar que eu cuido dela — disse ela, a voz rouca, mas carregada de ressentimento.
Fiquei parado por um segundo, tentando decidir se deveria insistir ou não. No fim, me aproximei devagar e coloquei a pequena nos braços dela.
Laura ajeitou a bebê no colo com naturalidade, como se aquele fosse o único lugar certo do mundo para ela.
Fiquei ali, de pé, sem saber exatamente o que fazer com as mãos ou com a avalanche de palavras que queria despejar.
Ela não disse nada, concentrada em acalmar a filha, mas eu sabia que a tensão entre nós era palpável. O quarto, pequeno e silencioso, parecia se tornar ainda menor.
Respirei fundo, tentando procurar as palavras certas.
— Laura... — comecei a falar, deixando a voz sair mais baixa do que eu queria.
Ela ergueu os olhos para mim, frios como eu nunca tinha visto antes.
— O que foi, Christian? — perguntou, sem esconder o cansaço e a mágoa. — Vai inventar mais alguma desculpa?
Engoli seco, sentindo a acusação pesar sobre meus ombros.
— Eu não estou aqui para inventar nada. Eu só quero que você me escute. Só isso.
Laura riu, um som curto e amargo.
— Escutar? — ela balançou a cabeça, com um sorriso triste nos lábios. — Eu escutei, Christian. Escutei o que precisava.
Dei um passo em direção à cama, mas ela desviou o olhar, focando na bebê, como se eu fosse invisível.
— Aquilo foi uma armação — insisti, sentindo a urgência crescendo dentro de mim. — Amanda viu a foto. Mark encontrou algo suspeito. Aquela mulher... ela já me seguia há algum tempo. Não foi um acidente. Foi planejado.
Ela continuou com sua expressão endurecida, enquanto amamentava Tereza.
— E você acha que isso muda o que eu senti? — murmurou, a voz quebrando um pouco. — A humilhação? A vergonha? A sensação de que... de que eu não era o suficiente?
Aquelas palavras me atingiram como uma facada no peito.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Casamento Secreto com o meu Chefe