Christian Müller –
Nathan ria alto enquanto corria pela sala, puxando as peças da pista de corrida para perto de mim.
Me sentei no tapete macio, pronto para ajudá-lo a montar aquele verdadeiro labirinto de curvas e descidas radicais. Era engraçado como meu pequeno era incansável; mesmo com tanta emoção rolando desde que Laura e Tereza chegaram, ele parecia mais energizado do que nunca.
— Papai, essa parte aqui é a descida! — explicou Nathan, apontando para uma peça laranja curvada.
— Isso mesmo, campeão — respondi, rindo. — Vamos fazer a maior pista de todas!
Enquanto encaixávamos as peças, eu olhava para Nathan e sentia uma paz difícil de explicar. Minha família estava em casa. Completos. Tereza, tão pequena e frágil, e Laura, a mulher que lutou tanto para nos dar tudo isso. O amor que eu sentia por eles parecia maior que o próprio mundo.
Nathan se inclinou para colocar um carrinho azul brilhante no topo da rampa recém-montada e, juntos, contamos até três para lançá-lo:
— Um... dois... três! — gritamos.
O carrinho desceu veloz, fazendo Nathan gritar de empolgação.
— De novo, papai! De novo! — gritou ele com animação.
Eu ri, deixando que ele se divertisse, satisfeito em apenas estar ali, dividindo aquele momento tão simples e tão valioso.
Mas então, o som do telefone fixo da casa tocou, cortando aquele clima mágico.
Franzi o cenho. Era raro o telefone tocar ali; quase tudo era resolvido pelo celular hoje em dia. Levantei-me devagar, limpando as mãos na calça jeans, e fui até o aparador onde o aparelho descansava.
Nathan continuou brincando, os carrinhos deslizando pela pista improvisada.
Atendi, esperando que fosse algo trivial.
— Alô? — falei, com a voz ainda carregada de diversão.
— Senhor Müller? — uma voz formal soou do outro lado. — Aqui é da Penitenciária Estadual. Preciso informar que Arthur Müller foi levado às pressas para o hospital.
Senti o chão fugir por um instante sob meus pés.
— O quê? — perguntei, endireitando a postura, meu corpo inteiro ficando alerta. — O que aconteceu?
— Ele sofreu um acidente. Um envenenamento — explicou o funcionário, a voz fria e burocrática. — Já foi estabilizado, mas o estado dele é delicado. Não temos autorização para divulgar muitos detalhes, mas como o senhor é o único parente registrado, precisávamos notificá-lo.
Fechei os olhos, sentindo uma onda de emoções conflitantes me invadir.
Arthur. Meu irmão, mas que talvez ainda não sabia que não termos o mesmo sangue.
Ele nunca foi uma má pessoa. Estava pagando por erros que não eram apenas dele — foi cúmplice do próprio pai, arrastado para escolhas que não merecia carregar. E agora, mais uma vez, parecia prestes a perder a batalha contra si mesmo.
— Ele... ele pediu para me chamar? — perguntei, a voz mais baixa.
— Não, senhor. Pelo contrário. Ele pediu para não incomodá-lo. — respondeu o homem, e eu quase podia vê-lo, com aquele orgulho tolo, recusando-se a admitir que precisava de ajuda.
Naquele instante eu soube. Arthur não tinha sofrido um acidente. Ele tinha causado o próprio acidente.
Justo agora, tão perto do julgamento, quando havia uma chance real de reconquistar a liberdade. Por que ele faria isso?

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