Christian Müller –
Eu ainda não conseguia acreditar no que estava vendo. E nem ouvindo.
Naquele momento, meu peito se apertou. Como tudo pode ter chegado aquela situação? Por que ele estava com marcas no rosto e o que verdadeiramente aconteceu para que ele tenha mudado de ideia? – Aquelas perguntas estavam rodeando a minha mente.
Eu fiquei parado ao lado da maca, com os braços cruzados, sentindo a raiva ferver sob a superfície da pele.
Raiva dele, da situação e de mim. Principalmente de mim.
Arthur não dizia nada. Fitava o teto com uma expressão vazia, a mandíbula tensa, como se estivesse pronto para aguentar qualquer golpe que viesse.
Um velho reflexo de defesa.
Suspirei pesado me virando para o olhar.
— Você é mais teimoso do que eu lembrava — falei com a voz baixa, controlada.
Ele virou o rosto devagar, me lançando um olhar cansado. Mas não respondeu.
Me aproximei um passo, sem pressa. Não estava ali para forçá-lo a nada. Não adiantava.
— Não vim para fazer discurso, Arthur. Não sou bom nisso — continuei. — Só queria olhar para você e saber se ainda tem alguma coisa aí dentro. Alguma vontade de lutar.
Por um segundo, algo brilhou nos olhos dele. Um lampejo de dor ou vergonha, talvez. Mas sumiu rápido, substituído pela máscara de apatia que ele usava tão bem.
— Eu já lutei — disse ele, a voz rouca. — Só perdi. E do que adianta continuar? Eu não quero ser estorvo para ninguém. Meus pais me deixaram e eu ainda me pergunto se foi o suficiente depois de tudo o que eles fizeram você passar.
Mordi o interior da bochecha, segurando a vontade de retrucar. Não era hora de discussões.
— E por isso você se envenenou de propósito? A sua vida vale menos que as deles? — perguntei, direto.
Arthur fechou os olhos. Seu peito subiu e desceu com um suspiro pesado. Ele não negou. Não confirmou.
— Entendi — falei, dando um passo para trás.
Parte de mim queria sacudi-lo, gritar que ele era covarde, que estava desperdiçando tudo, mas isso era o que o velho Christian teria feito. Aquele que achava que sentir era fraqueza.
Agora, eu sabia que raiva só empurraria Arthur ainda mais para o buraco.
— Se você quiser desistir, não posso impedir. Você é livre para fazer suas escolhas. Mesmo as erradas. Quer assumir uma culpa que não te pertence? Vá em frente. Eu não vou te obrigar a sair e viver diligentemente.
Arthur abriu os olhos e me olhou com uma expressão estranha. Como se esperasse outra coisa de mim — talvez um sermão, talvez promessas vazias de que "vai ficar tudo bem".
Mas eu não era esse tipo de homem.
Respirei fundo mostrando estar cansado de falar e então, continuei com meu último aviso.

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