Quando meus olhos se abriram, o quarto estava com meias luzes acesas e foi então que me lembrei que eu não estava em casa. Meu corpo ainda parecia cansado, mas algo me chamou atenção antes que eu pudesse me mover.
Christian.
Ele estava ali, ao meu lado, com a cabeça encostada na maca, adormecido. Sua expressão estava carregada, e sua mão segurava a minha com força, como se tivesse medo de me soltar.
Eu fiquei o observando por alguns instantes, sentindo meu coração me trair.
O homem sério, sempre impecável e dono de um olhar afiado, agora parecia vulnerável.
E então, a lembrança do que aconteceu tomou conta de mim, e minha respiração se tornou pesada.
Eu me movi levemente e isso foi o suficiente para ele despertar.
Seu olhar imediatamente encontrou o meu e ele soltou um suspiro longo, como se aliviasse ao me ver acordada.
Christian ameaçou tocar meu rosto, mas antes que seus dedos encostassem em mim, desvencilhei do toque dele, me afastando.
Ele parou o movimento no ar, como se tivesse levado um golpe invisível e me encarou com um misto de culpa e frustração.
— Ivy… — sua voz saiu baixa, contida. — Me desculpa por não ter confiado em você.
Cruzei os braços o encarando, sentindo meu peito subir e descer de raiva contida.
— Me desculpa? Você realmente achou que eu tentaria contra a vida do meu próprio filho? Que tipo de pessoa eu sou para você? - Perguntei mostrando estar muito brava com ele.
Christian fechou os olhos por um instante, como se minhas palavras doessem. Eu então, continuei a falar.
— Se fosse no começo, ainda poderia ser questionável, mas agora? Depois de tudo?
Ele me olhou com intensidade e balançou a cabeça, exalando fundo.
— Eu errei e já estou cuidando de tudo.
Franzi o cenho.
— Como assim "cuidando de tudo"?
Christian se ajeitou na cadeira ao lado da maca, exibindo sua expressão séria e carregada de algo que eu não conseguia decifrar.
— Foi uma armação. — Ele apertou os lábios por um momento antes de continuar a falar. — De agora em diante, quero que seja mais cuidadosa. Não aceite nada de ninguém, nem água, nem comida, a menos que eu mesma a entregue.
Minha confusão só aumentou.
— Christian, o que está acontecendo?
Ele me encarou por longos segundos antes de soltar a bomba:
— Se lembra quando eu tentei te afastar?
Assenti lentamente. Como poderia esquecer?
— Era para evitar isso.
Meu estômago revirou.
— Isso o quê?
Christian passou uma mão pelos cabelos, com seu olhar me atravessando.
— Que minha mãe não resistiu.
Meu coração apertou no peito, e uma dor silenciosa tomou conta do meu corpo. Eu nunca o tinha visto tão vulnerável.
— Meu pai desapareceu antes disso... — Christian continuou a falar, voltando seu olhar para mim. — Desde que minha mãe descobriu que ele tinha uma amante e um filho fora do casamento, ele sumiu.
Um frio percorreu minha espinha.
—Arthur...- Falei baixo o olhando, vendo-o assentir em silêncio, mas logo em seguida ele continuou a falar.
— Meu pai era um homem rico. Ele construiu a empresa ao lado da minha mãe, mas nunca foi um homem digno. Depois que ela adoeceu e decidiu ficar em casa cuidando de mim, ele a traiu e começou a se envolver com coisas ilícitas. Vendeu a empresa, acabou com tudo que ela ajudou a construir.
Meu peito apertou ainda mais.
— Nós só não falimos porque meu avô comprou a dívida e nos ajudou. Mas com uma condição. Eu teria que comandar tudo no futuro e fazer o que ele mandar.
E foi aí que as peças começaram a se encaixar.
—Por isso do casamento falso? - Perguntei o vendo assentir novamente, me olhando com os olhos perdidos.
— Eu não posso perder essa empresa.
Eu o olhei nos olhos e então, respirei fundo.
—Acho que se me contou é porque confia em mim e precisava dividir isso com alguém. Agora sou eu quem te pergunto. No meio disso tudo, Christian, você acha que consegue se permitir ser amado por alguém?
Ele se calou.

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