Christian Müller -
Ivy entrou no quarto mais uma vez.
O lugar parecia mais frio agora.
O corpo da avó de Ivy ainda estava ali, mas já não havia vida. Apenas o silêncio pesado e o som baixo da respiração de Ivy, que ainda segurava a mão da senhora como se pudesse trazê-la de volta.
A médica se aproximou, falando com sua voz controlada, mas carregada de respeito.
— Vocês vão acionar a assistência funerária?
Me mantive em silêncio, observando Ivy. Eu sabia que aquela pergunta exigia uma resposta imediata, mas ela parecia precisar de um momento para assimilar tudo.
Então, ela ergueu o rosto exibindo os olhos ainda brilhando com as lágrimas contidas, e s respondeu segura de si.
— Vou cremar.
Franzi o cenho, segurando seu olhar. Ela percebeu minha reação e me encarou de volta, como se soubesse exatamente o que eu estava pensando.
— Ela não tinha mais ninguém aqui que se importava com ela, além de mim. Acredito que seria melhor que as cinzas dela sejam jogadas na cidade natal, para que ela possa descansar em paz.
Algo em mim travou. Ivy era muito mais atenciosa do que eu imaginava. Mesmo naquele momento de perda, ela pensava no que seria melhor para a avó, no que ela gostaria.
Sem dizer nada, respirei fundo e me virei para a médica.
— Façam como ela deseja. Eu cuidarei de tudo.
A médica apenas assentiu e se retirou.
Voltei o olhar para Ivy. Ela estava imóvel, mas sua expressão havia mudado. Ainda havia dor, mas também uma determinação silenciosa.
— Eu... eu deveria avisar meu pai — ela murmurou, hesitante.
Peguei meu celular e o destravei, estendendo para ela sem pensar duas vezes.
— Ligue.
Seus dedos tremiam enquanto digitava o número. O telefone chamou algumas vezes, e então uma voz feminina atendeu.
— Alô?
Imediatamente, vi Ivy endurecer. Eu já sabia quem era.
A m*****a madrasta dela.
Cruzei os braços, observando atentamente cada reação de Ivy. Eu já não gostava daquela mulher antes. Agora, eu sabia que essa ligação só tornaria tudo pior.
A voz de Lea veio carregada de desprezo ao atender o telefone.
— O que você quer, Ivy? Sabe que horas são? Você não tem vergonha na cara de nos incomodar?
Ivy respirou fundo, apertando o celular contra a orelha. Eu via seu maxilar travado, tentando conter as emoções.
— Eu só preciso falar com o meu pai. – Respondeu ela com o timbre de voz fraco, mas cheio de remorso.
— O seu pai não tem tempo para você. O que aconteceu, hein? Seu maridinho rico finalmente descobriu quem você é e te colocou na rua? — Lea riu do outro lado da linha, e meu sangue ferveu.
Ivy fechou os olhos, respirando fundo como se estivesse se segurando. E então, ela tentou mais uma vez.
— Lea, por favor, só passe o telefone para o meu pai.
— Você não precisava ter feito isso… — Ivy murmurou, ainda surpresa.
Cruzei os braços, exibindo meu olhar frio sobre ela.
— Claro que precisava. Você realmente achou que eu ia deixar aquela mulher falar com você daquele jeito?
Ivy desviou o olhar, mordendo o lábio.
— Ela sempre foi assim… já estou acostumada.
— Esse é o problema. Você não deveria estar acostumada a ser tratada como nada. Você acha que precisa aceitar isso só porque foi assim sua vida inteira?
Ela ficou em silêncio, seu olhar preso ao meu.
— Eu não aceito — continuei a falar, com minha voz baixa, porém firme. — Não aceito que falem com você dessa maneira.
Seus olhos brilharam com lágrimas não derramadas, e ela piscou rapidamente para afastá-las.
— Eu… não sei o que dizer. - Disse ela com um timbre fraco, encarando os pés.
Segurei seu queixo entre meus dedos, erguendo levemente seu rosto.
— Não precisa dizer nada, pequena. Só entenda uma coisa… —Me inclinei até ela, ficando tão próximo que a minha respiração quente tocava seus lábios entreabertos. — Enquanto eu estiver ao seu lado, pequena, ninguém mais vai te fazer sentir assim.
O silêncio entre nós era intenso, carregado de algo que nem mesmo Ivy podia negar.
Ela piscou algumas vezes, tentando se recompor, e então soltou um suspiro trêmulo.
— Christian...Obrigada!

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