Christian Müller -
O céu cinzento parecia refletir o que eu sentia por dentro. A chuva fina que começava a cair não era nada comparada à tempestade que devastava minha alma.
Parecia um reflexo perfeito do que eu sentia por dentro uma escuridão densa e sufocante.
A mídia já havia estampado manchetes sobre o caso. “Esposa do CEO Christian Müller morre em trágico acidente”, diziam os jornais. “Herdeira da Müller & Co. sofre destino fatal”.
Repórteres tentavam capturar cada expressão minha, como se esperassem que eu desmoronasse em frente às câmeras.
Mas eu não desmoronei.
Eu fiquei ali, parado diante do caixão fechado, vestido de preto dos pés à cabeça, com as mãos enfiadas nos bolsos do paletó e os olhos fixos para o nada.
Porque não havia corpo.
Não ouvi o que o padre disse. Não ouvi os soluços das pessoas ao meu redor. Tudo o que ecoava em minha mente era o som dos tiros naquele vídeo maldito e a visão do carro carbonizado.
Ivy estava morta. E eu a perdi.
Prometemos nunca nos deixar enganar pelos outros, mas vendo aquele vídeo, só consegui pensar no desespero que ela sentiu.
Me virei, sentindo incapaz de suportar por mais tempo aquele inferno.
Meu corpo estava rígido, meus olhos vazios, meu coração um buraco negro que sugava tudo ao seu redor. Dei dois passos para sair dali.
E então, veio o soco. Forte, seco, certeiro.
Meu rosto virou para o lado, mas eu sequer reagi. Apenas permaneci ali, sentindo o gosto do sangue invadir minha boca.
— Ela estaria viva se estivesse comigo! — Dominic rosnou, deixando sua voz carregada de dor e ódio. — Você a destruiu! Você matou a mulher que eu também amava!
As palavras deveriam ter me atingido, deveriam ter feito algo dentro de mim se acender, mas eu não senti nada.
Apenas limpei o canto da boca, voltando a encará-lo.
Dominic estava furioso, os olhos queimando em fúria e luto.
Eu? Apenas um vazio.
Se ele queria um culpado, que fosse eu.
— Christian... — Mark tentou intervir, colocando a mão no ombro de Dominic, tentando afastá-lo.
Mas eu já estava longe dali.
Não fisicamente, mas mentalmente.
E então, sem dizer uma única palavra, simplesmente virei as costas e fui embora.
Para onde? Não sabia.
E, sinceramente? Não me importava mais.
...
Os dias se passaram e minha vida tinha se reduzido a três coisas: álcool, escuridão e arrependimento.
Os dias se misturavam às noites, e eu já não fazia ideia de quanto tempo havia se passado desde o funeral de Ivy.
Uma semana? Um mês? Dois meses? Pouco importava.
O que importava era que, sem ela, nada mais tinha sentido.
Mark tentou me tirar dessa espiral de autodestruição várias vezes. Amanda apareceu algumas noites, gritando, dizendo que eu precisava me recompor. Até Dominic veio, bebendo comigo, mas sem me dizer nada. Nenhum deles conseguiu me alcançar.
— Todos aqui, vou falar sem delongas. Christian será meu sucessor. — Ele declarou, sem rodeios. — É hora de passar a liderança da Müller & Co. para seu verdadeiro herdeiro.
Murmúrios percorreram a sala, olhares se cruzaram. Alguns pareciam aliviados, outros apreensivos.
Eu? Apenas respirei fundo e assenti.
Se havia algo que meu avô queria antes de partir, eu daria a ele, mas eu não conseguiria fazer isso sozinho. Isso estava fora de questão.
Ele então se retirou primeiro e quando todos começaram a deixar a sala, me virei para Mark o encarando confuso.
—Eu não posso... - Ele interferiu.
—Ah você pode e deve. Por ele e pela sua mãe, meu amigo. Aposto que a... ela também estaria orgulhosa de você.
Soltei um suspiro ao lembrar de quem eu estava tentando esquecer. Ou partes disso. E quando voltei a encará-lo, ele já me olhava, sabendo o que eu diria.
— Preciso de você.
Mark sorriu de lado e cruzou os braços.
— Sempre precisou, mas nunca quis admitir.
— Sem piadinhas. Você me ajuda ou não? Eu não estou em condições agora!
Ele me analisou por um instante e então deu um passo à frente, batendo uma vez no meu ombro.
— Juntos, irmão.
E foi assim que, mesmo destroçado, mesmo sem forças, mesmo sem Ivy… eu assumi o império Müller.
Um império incompleto sem a minha rainha do lado.

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