Christian Müller – 5 anos depois, Delaware, EUA.
Não fazia muito tempo em que eu havia chegado na cidade e já estava saindo de uma grande conferência.
Decidi ir direto para o salão de reuniões, fazendo o check-in somente depois que terminasse, para não perder tempo.
O lobby do hotel era amplo e sofisticado, com lustres reluzentes pendendo do teto abobadado e um aroma sutil de madeira e couro.
Eu atravessava o espaço com passos firmes, com o telefone pressionado contra o ouvido enquanto ouvia Mark do outro lado da linha.
— Então, Christian, já teve tempo para analisar as oportunidades por aí? — A voz dele era profissional, mas com um tom familiar.
— Algumas. O evento atraiu nomes interessantes. Pode ser útil para futuras parcerias. — Respondi, ajustando a manga do terno, enquanto eu esperava na fila.
— Ótimo. Sabia que você não iria apenas marcar presença. Me mantenha informado — Mark disse, satisfeito.
Antes que pudesse responder, um vulto passou correndo pelo canto da minha visão, seguido por um impacto contra minha mala. Dei um passo para trás, segurando firme a alça para evitar que tombasse.
Olhei para baixo e vi uma criança, provavelmente com cinco ou seis anos, com cachos bagunçados e olhos brilhantes de diversão. Ele riu e disparou pelo saguão sem sequer perceber a confusão que causou. Minha atenção se voltou para o local onde ele estivera e, então, vi uma mulher.
Minha respiração vacilou por um instante, como se o mundo tivesse parado.
Aquela mulher, a forma em que ela andava.
Os passos perfeitamente alinhados como se ela desfilasse com charme e elegância, fazia com que todos os olhares iam sobre ela.
Um déjà vu me atingiu. E no mesmo instante, me peguei lembrando de Ivy e sua fantasia de coelha.
Talvez fosse a postura elegante, a forma como seus cabelos castanho-mel caíam em ondas suaves sobre os ombros, ou a forma como sua camisa branca e sua saia sofisticada moldavam suas curvas sem esforço. O chapéu pequeno e os óculos escuros adicionavam um toque de mistério, quase como se ela quisesse passar despercebida, mas fosse impossível ignorá-la.
— Christian? Você ainda está aí? — Mark chamou do outro lado da linha, mas minha mente estava longe.
Porque algo naquela cena, naquela mulher e no caos inesperado que ela trouxe, fez algo em meu peito apertar. Não por ela em si, mas pela lembrança cruel de como conheci Ivy.
O desencontro. A confusão. O destino nos colocando um diante do outro como um jogo perverso.
Apertei os olhos por um segundo, afastando os pensamentos.
No instante seguinte, um homem alto e esguio se aproximou dela, segurando um cartão de acesso, entregando a ela com um sorriso discreto, ao mesmo tempo que segurou a mão do menino.
E foi aí que eu desviei o olhar.
— Eu te ligo depois, Mark. Preciso resolver algo. — Finalizei a chamada e segui para fazer o check-in.
Alguns minutos depois, já no meu andar, segui pelo corredor até meu quarto. E então, ao olhar para o lado, vi a mesma mulher entrando no cômodo ao lado do meu.
Meu corpo ficou tenso ao perceber que ela acompanhava a mesma criança arteira de antes.
Ao entrar no quarto, soltei a mala ao lado da cama e afrouxei a gravata. Mas, ao abri-la, uma ruga se formou entre minhas sobrancelhas. Roupas femininas. Vestidos, blusas de seda, lingeries delicadas…
Minhas mãos pousaram sobre o tecido macio e, ao notar o tamanho pequeno das peças íntimas, fui jogado sem aviso para um passado que passei anos tentando esquecer.
Ivy.
Bati na porta ao lado, com o coração martelando contra o peito.
Alguns segundos depois, a porta se abriu, revelando o homem que eu vira antes.
Ele me olhou com uma expressão neutra.
— Sim?
Minhas mãos apertaram a alça da mala antes de erguê-la levemente.
— Essa mala pertence a vocês. Peço que tomem mais cuidado com a criança. — Minhas palavras saíram controladas, mas meu olhar se movia rapidamente pelo ambiente, tentando captar qualquer sinal.
O homem pegou a mala com um aceno de cabeça, me entregando a minha.
Em seguida, a porta foi fechada antes mesmo que eu pudesse a ver.
Fiquei ali por um momento, ainda absorvendo o que acabara de acontecer. Então, sem mais nada que pudesse fazer, dei meia-volta e voltei para meu quarto.
Assim que passei pela porta, senti meu mundo desabar.
—O que eu estou fazendo? – Perguntei deixando que aquele pensamento alto, me trouxesse de volta.
De repente, meu celular tocou e eu imediatamente o atendi, já dando minha ordem.
—Mark, procure outro lugar para mim. Eu não posso mais ficar nesse hotel nem mais um segundo.

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