Christian Müller –
A mala errada já não estava mais em minhas mãos, mas o peso da dúvida continuava me esmagando.
Me afastei da porta, fechei os olhos por um instante e tentei ignorar o martelar da minha pulsação.
Aquela voz... Não poderia ser ela. Era impossível, ela estava...Morta?
Afrouxei a gravata de novo, como se precisasse desesperadamente de ar.
Meu peito subia e descia em um ritmo descontrolado, e eu odiava isso. Odiava que um simples engano, um detalhe ridículo, tivesse sido o suficiente para me arrancar de anos de controle impecável.
A voz dela não deveria estar ali. Mas estava.
Caminhei até a janela, observando a cidade abaixo, luzes cintilantes espalhadas em um mosaico vibrante. Delaware não significava nada para mim até agora.
Um destino escolhido por conveniência, por negócios, mas naquele instante, parecia que o universo ria de mim, como se tivesse me arrastado para esse lugar com um propósito cruel.
Meu celular vibrou na mesa de cabeceira, arrancando-me do torpor. Quando peguei o aparelho, vi a mensagem de Mark piscando na tela:
"Há um hotel disponível na mesma região. Quer que eu faça a reserva?"
Minha primeira reação foi dizer sim. Sair dali, me afastar, continuar com minha vida como fiz todos os dias desde que perdi Ivy. Mas minha mão hesitou sobre o teclado.
Eu deveria ir embora.
Mas se eu ficasse?
A ideia era absurda. Desnecessária. Mas algo me corroía por dentro, como um espinho cravado sob a pele. E se minha mente estivesse pregando uma peça? E se fosse apenas uma coincidência cruel?
Joguei o celular sobre a cama e passei as mãos pelo rosto, irritado comigo mesmo. Desde quando eu hesitava? Desde quando permitia que fantasmas do passado me atormentassem dessa forma?
Mas, no fundo, eu sabia a resposta.
Desde que ouvi aquela voz.
Suspirei pesadamente, puxei minha mala para perto e comecei a abrir a primeira gaveta para guardar algumas roupas. No entanto, um som suave atravessou a parede ao meu lado. Vozes. Baixas, quase abafadas. Parei por um segundo, prestando atenção.
— Laura, tem certeza de que está bem? — a voz masculina indagou, carregada de preocupação.
Laura. A mulher da mala. O nome dela não era Ivy.
Um alívio estranho percorreu meu peito, mas foi tão passageiro quanto minha determinação de ignorar aquilo. Antes que pudesse me afastar, outra voz soou. E dessa vez, foi como um soco no estômago.
— Estou, sim. Só preciso descansar. Foi um dia longo. — A resposta dela veio suave, mas o tom...
Eu conhecia aquele tom.
Engoli em seco.
Meus dedos se fecharam ao redor da borda da gaveta, exibindo os nós dos dedos brancos pela força do aperto. O homem disse algo mais, mas eu já não ouvia.
Meu coração batia forte demais e havia um zunindo em meus ouvidos.
Eu deveria parar. Deveria dar um passo para trás e esquecer isso. Mas ao invés disso, me vi caminhando em direção à parede, como se pudesse enxergá-la do outro lado.
Horas depois, decidi sair do quarto. Precisava esfriar a cabeça. Peguei meu laptop e desci até a área da piscina do hotel. O ambiente era tranquilo, iluminado pelo reflexo das luzes na água calma. Me sentei em uma das espreguiçadeiras e abri o computador, tentando focar no trabalho. Mas minha mente insistia em vagar.
Sem pensar duas vezes, saí do elevador e corri para as escadas.
Meu coração martelava enquanto subia os degraus dois a dois, indo atrás dela. E então, antes que pudesse pensar, estendi a mão e segurei um pulso delicado a fazendo se virar para mim.
O choque me atingiu como um raio.
Minha garganta secou. Meus dedos se afrouxaram. Meu mundo inteiro pareceu parar.
— Quem é você? — Minha voz saiu mais rouca do que pretendia.
Os olhos dela encontraram os meus e por um instante, tudo ao meu redor deixou de existir.
Mas... não era Ivy.
Os traços eram diferentes. O nariz levemente empinado, os lábios mais preenchidos, a pele mais fina e delicada... Mas os olhos. Os olhos eram idênticos.
E eles carregavam algo. Um peso, uma profundidade que me atingiu em cheio. Como se ela também estivesse presa a algo do passado.
Ela permaneceu imóvel por um segundo. Então, com delicadeza, desfez o toque e recuou um passo.
Eu deveria ter dito algo. Deveria ter insistido, mas paralizei ao vê-la diante de mim.
Ela me olhou por mais um instante. Então, sem uma palavra, virou-se e desapareceu escada acima.
Fiquei ali, parado, tentando absorver tudo. Por um instante absurdo, eu jurei que tinha visto Ivy.
—Eu vou enlouquecer!

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