Christian Müller -
A noite foi longa. O sono nunca veio, foi difícil pregar o olho com tanta coisa acontecendo ao meu redor. Eu até perdi o foco sobre o que vim realmente fazer nessa cidade.
Eu permaneci deitado, olhando para o teto escuro do quarto, enquanto minha mente repetia a cena no corredor incontáveis vezes.
A voz dela ainda ecoava na minha cabeça, junto com a sensação de suas mãos contra meu peito.
Quando o sol finalmente bateu conta as cortinas, eu desisti de tentar dormir.
Me levantei e tomei um banho frio, me vestindo com a mesma precisão de sempre.
Eu até poderia parecer apresentável, mas só eu sabia a bagunça que eu estava por dentro.
Desci para o café da manhã antes da conferência, esperando que um pouco de cafeína pudesse afastar a exaustão.
O restaurante do hotel estava tranquilo, apenas algumas poucas pessoas sentadas às mesas. Peguei uma xícara de café e servi até a borda, sentindo o aroma forte subir no ar.
E então, senti o impacto.
Algo, ou melhor, alguém, bateu contra mim, fazendo o líquido quente transbordar e se espalhar pela minha camisa impecável.
— Merda... — soltei entre dentes, afastando rapidamente a xícara para evitar mais estragos.
Olhei para baixo e vi o pequeno garoto da noite passada, com os olhos arregalados em surpresa e culpa.
— Eu... eu não queria! — ele disse, com a voz tremendo.
Antes que eu pudesse responder, uma figura se aproximou rapidamente.
— Meu Deus, me desculpe! — Laura surgiu ao lado dele, abrindo a bolsa apressadamente e tirando um lenço.
Eu respirei fundo, fechando os olhos por um segundo para não deixar minha irritação escapar.
Só uma coincidência. Só uma criança desastrada. Só uma manhã ruim.
Mas então, senti o toque dela.
A ponta dos dedos pressionando levemente o tecido da minha camisa, tentando limpar a mancha. Os movimentos eram cuidadosos, porém persistentes.
Minha mandíbula se contraiu.
Cada fibra do meu corpo queria recuar, criar distância, mas ao mesmo tempo, havia um magnetismo insuportável naquele toque.
Virei o rosto para o lado, deixando que ela continuasse, enquanto eu tentava controlar minha respiração para que minha própria mente não me traísse.
O tempo pareceu desacelerar. Laura permaneceu ali, focada no tecido, mas em algum momento, senti o olhar dela subir para o meu rosto.
Fiquei imóvel, fingindo não notar.
Mas eu notava.
O dia seguiu como deveria. Ou pelo menos, era isso que eu tentava me convencer.
A conferência era um evento de peso, reunindo executivos, investidores e estrategistas de mercado. Eu deveria estar completamente focado nos números, nos gráficos e nas oportunidades de negócios.
Mas minha mente ainda estava presa àquela manhã.
Ao toque dela.
À maneira como seus olhos me observaram por tempo demais.
Sacudi a cabeça, ajustando o nó da gravata enquanto me sentava na plateia. O auditório estava lotado e o mestre de cerimônias começou a anunciar os próximos palestrantes.
O bar do hotel estava moderadamente cheio, um jazz suave preenchendo o ambiente. Pedi minha bebida e me sentei ao balcão, soltando o ar lentamente.
E então eu a vi.
Laura estava alguns bancos à frente, girando o copo sobre o balcão enquanto encarava o liquido nele. Sua bebida já não parecia tão interessante quanto antes.
Eu me aproximei lentamentedela, pedindo um whisky duplo.
— Você parece uma caixa de surpresas. — Comentei, sentando ao seu lado.
Ela respirou fundo, como se já esperasse por aquilo.
Lentamente, Laura se virou para mim, exibindo seus olhos presos aos meu e um sorriso que me deixou em alerta.
— Eu estava mesmo te esperando. - Disse ela com um timbre doce, me pegando de surpresa
Minha sobrancelha se ergueu e meu corpo ficou tenso por um segundo.
Ela não parecia estar brincando.
Antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa, Laura estendeu a mão para mim, exibindo a sua postura se tornando quase profissional, séria, mas com um brilho desafiador no olhar.
— Que tal fazermos negócios, senhor Müller? Estamos procurando concorrentes à altura.
O nome soou familiar saindo de sua boca. Familiar demais.
Apertei os olhos levemente, tentando decifrá-la, mas ela manteve a expressão firme.
— Isso foi um convite ? – Perguntei a vendo sorrir de lado, se aproximando mais para cochichar.
— Talvez. Que tal tentar descobrir?

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Casamento Secreto com o meu Chefe