Cap. 14
Gabriel continuava parado, os fones pendendo do pescoço, enquanto observava.
No início, pensou que a mulher de salto alto e aparência impecável fosse ajudar a moça caída no chão, e que aquilo tinha sido apenas um acidente.
Era o que qualquer pessoa decente faria. Brenda ainda assimilava tudo que havia acontecido. Estava toda suja de café, com as mãos tremendo e o rosto abaixado, tentando não chamar ainda mais atenção no meio daquela vergonha.
— Agora você vai ver o que é perder seu emprego e a pouca dignidade que tinha ao se envolver com um homem casado. — a mulher disse, olhando para Brenda, que arregalou os olhos, atônita.
Mas então, a mulher ergueu a voz.
— Olha aqui, todo mundo! — gritou, atraindo imediatamente os olhares dos funcionários mais próximos, que pararam de digitar, de andar, de falar, observando a confusão.
Brenda, ainda sentada no chão, nem conseguiu erguer o rosto. Estava imóvel, como se congelada ao perceber em que situação tinha se envolvido. Parecia que Jonas estava mesmo começando a cumprir sua ameaça.
— Olhem bem pra essa aí! — vociferou a mulher, aproximando-se com um copo cheio de café. — Essa suja! Essa destruidora de lares!
E, antes que alguém pudesse intervir, ela despejou o líquido direto sobre Brenda, como se o que já tivesse acontecido não fosse suficiente. A única reação de Brenda foi virar o rosto, tentando escapar.
O café escorreu por sua blusa já manchada e atingiu a pele de sua mão, que se avermelhou com o calor.
— Tá perseguindo meu marido desde que ele terminou com ela, porque cansou do casinho. — ela continuou, o dedo em riste. — Essa vagabunda quer que ele se divorcie de mim! Quer roubar minha família! Minha casa! Acha que pode ser a próxima esposa só porque finge ser boazinha nesse uniforme ridículo!
— Isso é verdade? — cochichou uma das funcionárias, assustada.
— Ela quer destruir um casamento com três crianças envolvidas! Minhas crianças! O que vocês acham desse tipo de pessoa trabalhando numa empresa de fama internacional? — a mulher agora chorava alto, de forma teatral, com o rímel escorrendo pelos olhos. — Ela tá OBCECADA pelo meu marido! Não deixa minha família em paz!
Outros funcionários começaram a se aproximar, formando um círculo em volta das duas. Murmúrios se espalhavam como fogo em palha seca. Alguns celulares foram apontados para a cena — alguns até riam, se divertindo com a desgraça alheia.
— Que horror…
— Que tipo de mulher faz isso?
— Sempre desconfiei dessa carinha de anjo sonsa…
— Ela devia ser demitida na hora.
Enquanto os colegas cochichavam, Brenda se apoiou nos joelhos com esforço, tentando se levantar, com os lábios tremendo.
O rosto estava corado, não de raiva, mas de vergonha. Seus olhos marejados pareciam implorar para desaparecer dali. Mas ela não dizia uma palavra. Só queria ir embora — como se não tivesse nenhum caminho para seguir agora.
— Vai fugir de novo? — a mulher gritou, agarrando os cabelos de Brenda por trás, puxando-a de volta ao chão com brutalidade. — Fala agora! Admite o que você fez!
O corpo de Brenda caiu com um baque abafado contra o chão frio e molhado de café. As roupas coladas à pele, os fios desalinhados, a dor física misturada à humilhação. Ela tentou afastar as mãos da esposa de Jonas.
— Me solta! Eu não fiz nada! Seu marido que fica me perseguindo como um cachorro sem dono! — Brenda gritou, tentando se defender, mas a mulher não soltava seus cabelos.
Brenda sentiu o estômago revirar de vergonha. Estava suja, humilhada, exposta.
Ela abaixou o olhar imediatamente, puxando o braço para longe dele, recuando.
E então saiu correndo, desaparecendo pelo corredor em direção ao banheiro, com o barulho dos seus passos molhados ecoando atrás de si.
A mulher no chão, ainda sem entender o que havia acontecido, apontou para Gabriel.
— Você tá defendendo ela?! — gritou, histérica. — Quem você pensa que é pra se meter no que não é da sua conta?!
Gabriel não respondeu. Estava em silêncio. O peito subia e descia devagar, o maxilar travado.
Ele apenas observava... observava a direção para onde Brenda havia fugido.
Queria segui-la, mas a mulher segurou em seu braço, perguntando quem ele era. O gesto fez com que ele reagisse mal, afastando o braço bruscamente — o que a fez escorregar de novo.
— Vocês viram?! Ele me agrediu! Alguém chame os seguranças, por favor! — ela berrou de forma dramática, enquanto os seguranças se aproximavam da confusão, agora indo em direção a Gabriel, que apenas ficou parado, observando a mulher de forma fria.
Os seguranças o seguraram pelo braço, indicando que ele deveria sair, mas ele se recusou.
— Senhor, se você não trabalha nesta empresa, não está autorizado a entrar. Quem usou a identificação pra você passar pela entrada principal? — o homem perguntou, arrastando Gabriel, enquanto a mulher ria, vitoriosa.
Foi quando Andrews surgiu na entrada, encerrando uma ligação e percebendo o caos instalado no centro da recepção.

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