Alexander
Evelyn veio calada o caminho inteiro.
O único momento em que falou... nem foi comigo.
Assim que entramos no quarto, ela seguiu direto para o banheiro e, para minha surpresa, trancou a porta com chave.
Eu poderia ter usado o cartão, arrombado se quisesse.
Mas achei melhor não mexer com ela naquele momento.
Eu vi bem o olhar que ela me lançou antes de sairmos...
E ouvi ainda melhor suas palavras:
"Não pense que não vamos conversar sobre isso."
Seguida de uma ameaça:
"Dois podem jogar esse jogo."
— Dois podem jogar... — murmurei pra mim mesmo, sem perceber que ela já havia saído do banheiro.
— Cuidado. — advertiu, seca. — Dizem que o primeiro sintoma da esquizofrenia é falar sozinho.
Por um segundo, mas só por um, achei que tinha ouvido errado.
Mas aí a compreensão me atingiu como um soco.
— O que você tá insinuando? — perguntei, com a irritação evidente em cada sílaba.
Ela deu de ombros. Me ignorou.
E seguiu pegando sua roupa, como se eu nem estivesse ali.
Tirou a toalha e começou a se trocar com a calma de quem sabe que está me provocando.
Eu já sabia que estava fodido.
Só não imaginei que fosse a esse ponto.
— Evelyn. — chamei, firme.
Ela terminou de se vestir e, então, me olhou.
Duas avelãs em chamas me encarando.
— Você sabe que não tem motivo pra isso, né? — me aproximei.
— Achei que estivesse tudo resolvido.
Você se mostrou firme com Alessa, até conversou com ela na piscina.
Ela colocou a mão na cintura.
— Aí é que está! Eu me impus.
— E se eu não estivesse ali, Alexander?
Você teria dito algo? Teria falado que está comprometido? Que vai ser pai?
— Claro que sim! — retruquei, já irritado.
— Dúvido, Sterling.
Vi muito bem a sua expressão.
Desconforto. Surpresa. Tesão disfarçado talvez?
— Bem... realmente foi uma surpresa.
Faziam dois anos desde que nós…
Travei com minhas palavras. Tarde demais.
— Desde que o quê? — ela perguntou, os olhos ainda em mim.
Me aproximei, envolvendo meus braços em sua cintura.
Dei um beijo em seu ombro, tentando mudar o clima.
— Amor... eu não quero falar sobre a Alessa.
— Mas eu quero! — Ela se soltou dos meus braços num movimento seco.
— Sabia que ela é apaixonada por você?
— Sim. — respondi sem hesitar.
E me arrependi no segundo seguinte.
— Ótimo! Maravilhoso! — exclamou, jogando os braços pro alto.
— Agora é que eu não vou ter paz mesmo! — bufou, cruzando os braços.
— Evelyn, é sério isso?
— É sim, Alexander!
A Alessa é linda, inteligente…
E por mais que eu esteja morrendo de ciúmes dela… preciso admitir: a cretina é legal.
Ela me deu as costas.
E eu? Eu quase ri.
O ciúme dela era completamente sem sentido.
Sim, tive meu momento com Alessa.
Mas nunca, nem com ela, nem com nenhuma outra, senti o que sinto pela Evelyn.
Com Alessa, foram apenas alguns instantes de prazer.
Com Evelyn…
É amor.
Não existe outra depois dela.
Nunca vai existir.
Evelyn é pra vida toda.
Caminhei até ela. Sem pressa.
Quando parei atrás, segurei sua cintura…
E colei meu corpo no dela.
— Sabe que te conheço bem o suficiente pra saber que não é só isso.
Sussurrei em seu ouvido, deixando um beijo leve em sua orelha.
— Só isso? Saber que uma mulher daquela quer o meu homem… pra você é só isso?
— Você disse tudo, amor. Seu homem.
Inclinei o rosto e a beijei no pescoço, bem ali no ponto exato que eu sabia que a fazia arrepiar.
Ela respirou fundo e tentou disfarçar.
— Não vai funcionar, Sterling. Tô falando sério.
— E eu também. — murmurei contra sua pele. — Tão sério quanto essa sua teimosia em achar que a Alessa é uma ameaça.
— Agora fala pra mim. — Apertei meus braços ao redor de sua cintura. — O que tá te corroendo por dentro?
— Não consegui convencer a Jo a desistir daquela história. — Evie foi direta.
Eu sabia que o ciúmes era real. Mas também notei seu olhar perdido desde que voltamos.
Tinha mais coisa ali.
— Ela não vai conseguir fazer nada sozinha. E já alertei o Hugo sobre isso. — tentei tranquilizá-la. Virei-a de frente pra mim.
— Tem mais uma coisa. — disse ela, com os olhos fugindo dos meus.
Passei o polegar pelo seu rosto, incentivando-a a continuar.
— A Alessa parece conhecer muito bem o Brandon. Melhor do que a gente.
Me afastei por um instante, sentindo o peso disso bater.
— Senti isso no Enzo também… — falei, passando a mão pelos cabelos, tentando colocar os pensamentos em ordem.
— O que exatamente ela disse?
— Primeiro, que eles sempre souberam que Brandon estava vivo. — respondeu, indignada.
— Isso eu já sabia. Quando estávamos em Boerne, o Chen comentou que o Enzo queria a cabeça do Brandon. Na época não fazia sentido… Ele já tinha a informação da morte dele.
Evelyn caminhou até a cama e se sentou na beirada.
— Não vejo os Mancini como ameaça, Alexander. Mas eles sabem mais do que dizem. Principalmente sobre o Brandon.
— A Alessa disse mais alguma coisa?
Me sentei ao lado dela, atento.
— Ela falou sobre umas armas que o Brandon não entregou… seriam pagamento por uma ajuda.
— Ajuda? — perguntei, e ela assentiu com a cabeça.
— Enzo teria ajudado ele a despistar o “cara” que, segundo a Alessa, eles não sabem quem é.
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