Alexander
Robert queria respostas. E eu as tinha. Talvez não a que ele gostaria de ouvir.
— Foi um acidente. Mas quase fatal.
Ele me observava atento. Avaliava cada gesto, cada palavra. Provavelmente contava até quantas vezes eu piscava.
— Acidente? Onde foi que aconteceu?
Respondi com a história que havia criado no caminho até o hospital. O Prefeito tinha feito sua parte e abafado a situação. Minha equipe, por sua vez, deixou a galeria impecável antes de David aparecer.
— Estou com novos recrutas — comecei. — Evelyn me acompanhou porque prometi levá-la à galeria depois.
Suspirei, passando a mão pelos cabelos.
— Ela insistiu em entrar comigo. Um idiota, que mentiu dizendo que tinha experiência, deixou a arma cair assim que me viu. A arma caiu… e disparou.
Meu tom era seco. Calculado. Não podia deixar escapar nenhuma emoção, se não, ele perceberia.
— Erro de principiante. Que quase matou a Evelyn.
Eu disse, com raiva forjada. Como se aquilo fosse imperdoável.
Robert pareceu engolir a história. Claro, eu já havia instruído minha equipe a confirmá-la.
Doutor Brown apareceu logo em seguida com uma atualização. Disse que permitiria a entrada dos Anderson para verem Evelyn.
Susan ficou visivelmente abalada. O que era mais do que compreensível. Dois meses atrás, ela havia enterrado o próprio filho. E agora, ver Evelyn, alguém que ela ama como filha, naquele estado...
Mexeria com qualquer um.
— Vamos indo.
Robert me olhou firme.
— Nos avise quando ela for para o quarto. Quero vê-la acordada. E bem.
Era mais do que um pedido. Era um aviso.
Por enquanto, ele aceitaria minha versão dos fatos. Mas não por muito tempo.
Jackson os acompanhou até a saída. Assim que sumiram de vista, Jordan se aproximou.
— Será que eu consigo vê-la agora?
A voz dela saiu suave, contradizendo a garota durona que fingia ser.
— Vou falar com o Doutor Brown.
Ela assentiu, em silêncio. Me esperou enquanto fui ao encontro do médico.
— Senhor Sterling — ele me chamou antes mesmo que eu dissesse algo.
— Estava indo ao seu encontro.
O tom dele era sério.
Senti o coração acelerar.
O medo tomou conta por um instante.
E se as notícias não fossem boas?
— Tenho boas notícias — disse com um sorriso contido. — Evelyn reagiu muito bem ao pós-operatório. Pensei que teria que ficar mais tempo na UTI, mas a senhorita Parker é uma moça forte. Já solicitei a transferência para um quarto.
O alívio tomou conta de mim. Minha garota estava bem. Logo estaria em meus braços.
— Ainda não temos previsão de alta. A cirurgia foi complexa e envolveu uma área sensível — ele continuou, mais sério. — Mas acredito que seja em breve. Assim que tudo estiver pronto, mando buscá-los.
Agradeci, e fui ao encontro de Jordan, que parecia ainda mais ansiosa do que eu para ver Evelyn. Vieram nos chamar, e comecei a sentir meu coração bater com tanta força que parecia querer saltar do peito. Era inacreditável o efeito que Evelyn causava em mim… desde o primeiro instante, naquele cemitério.
Antes de abrir a porta, a enfermeira nos alertou:
— Ela ainda pode se sentir confusa. A sedação está passando aos poucos. Mas está ansiosa para vê-los.
Agradeci, e abri a porta, deixando Jordan entrar primeiro.
Evelyn estava sentada, com a cabeça recostada no travesseiro. Os olhos fechados, os cabelos soltos cobrindo parte do rosto. Tanto eu quanto Jordan ficamos parados ali, na porta. Como se a mesma força invisível que me prendia no lugar, segurasse também a menina ao meu lado.
Evelyn havia nos conquistado. A nós dois.
E eu sabia que, assim como meu sentimento por ela era genuíno, o de Jordan também era.
Ela levantou a cabeça e, ao abrir os olhos, encontrou os meus.
— Algum problema com os pés de vocês?
Disse com um sorriso leve.
Eu jamais permitiria isso, porque sei dos riscos que ela está correndo.
Mas também nunca a obrigaria a ficar comigo.
— Meu bem… me afastei só por um dia.
Me sentei na beirada da cama.
— E foi o suficiente pra eu não conseguir dormir. Não consegui nem entrar no meu quarto.
Deus… quem é esse falando?
Eu jamais demonstraria tamanha vulnerabilidade. Para ninguém.
— Bem-feito! — disse em tom divertido, batendo a ponta do dedo no meu nariz.
A encarei, arqueando as sobrancelhas.
— Eu senti a mesma coisa quando voltei pra Boerne. Tudo me incomodava, tudo parecia fora do lugar — ela disse, me olhando fundo nos olhos. — Mesmo com a camisa de Brandon em minhas mãos… ainda não era aquilo que eu precisava. Foi nesse dia que percebi: era você. O que estava me faltando… era você.
Ela envolveu os braços ao redor do meu pescoço.
E eu… fiquei paralisado.
Suas palavras estavam mexendo comigo de formas completamente novas.
— Por isso, senhor Alexander Sterling… não importa o que aconteça. Mesmo nos seus dias difíceis e irritantes… — ela encostou a testa na minha — promete que nunca vamos nos afastar um do outro?
Suspirei com suas palavras. Ela tinha acabado de acordar, ainda nem havia se recuperado… e mesmo assim, percebeu o quanto era difícil para mim abaixar a guarda dessa forma.
Me expor.
Ela quis me mostrar que isso não era fraqueza.
Que a falta que senti dela nessas quase quarenta e oito horas… era a mesma que ela sentiu de mim.
E pela primeira vez... Depois de tanto tempo... Tive medo de uma promessa, eu sabia dos meus sentimentos por ela. Eram novos, mas reais. Mas ainda tinha muita coisa para acontecer. Mas não fujo, e faria de tudo por ela.
Afastei nossas testas e encarei aqueles olhos que me cativaram desde o primeiro dia.
Beijei suavemente seus lábios vermelhos e respondi:
— Prometo.

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