Amber
Cada movimento era uma agonia. Me arrastei pelo corredor, usando a parede como apoio, guiada pelos gritos das crianças. Meu corpo inteiro protestava, mas o medo pelo que Peter poderia fazer era maior que qualquer dor física.
"FAÇA ESSAS PESTES CALAREM A BOCA!" A voz dele trovejava do quarto dos gêmeos.
"Senhor, eles só estão assustados," ouvi a babá tentando acalmar a situação. "Se o senhor pudesse..."
"CALE A BOCA VOCÊ TAMBÉM!"
Quando finalmente alcancei a porta do quarto, a cena me gelou o sangue. Louis, meu pequeno príncipe corajoso, caminhava em direção ao pai com os braços estendidos, como sempre fazia quando queria colo.
"Papai..."
O empurrão foi brutal. Meu filho caiu sentado, seus olhos arregalados em choque antes do choro explodir ainda mais forte. Bella se encolheu em seu cantinho, abraçando o ursinho com força.
Vi a mão de Peter se erguer, pronta para descer sobre Louis.
"NÃO!"
Não sei de onde tirei forças, mas me joguei entre eles, empurrando Peter com toda energia que me restava. "Não ouse tocar neles! Se quer bater em alguém, bata em mim!"
Peter olhou para a babá, que tremia num canto do quarto. "Saia. AGORA!"
A porta mal tinha fechado quando os gêmeos se agarraram às minhas pernas, seus pequenos corpos tremendo. O choro diminuiu para soluços abafados, eles já sabiam que barulho só piorava tudo.
Peter se aproximou lentamente, seus dedos agarrando meu queixo já machucado. "Escute bem, sua vadia," sua voz era apenas um sussurro, mas carregada de veneno. "Você nunca mais vai me envergonhar. Nem em festas, nem na frente dos empregados. Nunca mais."
"Me bata o quanto quiser," sussurrei, "mas não toque neles."
"Como você está valente hoje, Amber. Está querendo se provar para quem?" continuei a encará-lo. "Você não vai me impedir de educar esses moleques. Eu sou o pai deles e posso fazer o que eu quiser!" sua voz era ríspida.
"Não, não pode. Não ouse tocar neles, ou eu.. eu te denuncio." falei, minha voz perdendo intensidade no final.
"É mesmo?" Ele riu, um som frio e calculado. "Então se despeça deles. Amanhã mesmo vou providenciar um colégio interno." seu sorriso destruiu tudo dentro de mim.
Quando finalmente dormiram, me levantei com cuidado. Precisava pegar o celular. Precisava de ajuda.
O silêncio na casa era absoluto, exceto... ali estava. O ronco de Peter vindo do quarto principal. Tirei os sapatos, amarrei o vestido num nó apertado para não fazer barulho, e abri a porta com todo cuidado.
Desci as escadas na ponta dos pés, cada degrau uma eternidade. A sala estava escura, mas consegui localizar minha bolsa e, embaixo do sofá, o celular que Leonardo me dera.
"Graças a Deus, com bastante bateria." escondi o objeto na bolsa, e subi rapidamente as escadas.
De volta ao quarto dos gêmeos, tranquei a porta e me escorrei por ela até o chão. A tela do celular mostrava várias mensagens de áudio dele, mas não havia tempo para isso agora.
Com dedos trêmulos, digitei:
"Se você me conhece de verdade, por favor, salve a mim e aos meus filhos. Escola Gold Bear. 5670 SE. Smith Av. Chegaremos às 7:30 da manhã. Por favor. Faço o que você quiser, só nos tire desse inferno."
Apertei o celular contra o peito, olhando para meus filhos adormecidos. Pela primeira vez em três anos, permiti que a verdade me atingisse completamente. Talvez aquela não fosse a única vida que eu tinha.

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