Leonardo
Apertei o nó da gravata em frente ao espelho, ajustando o último detalhe do terno enquanto Amber ainda estava no banheiro. O som da água correndo misturava-se ao eco dos meus próprios pensamentos. Caminhei até a mesa onde o laptop estava fechado, pegando o pen drive que agora parecia pesar mais do que deveria.
Coloquei-o no bolso interno do paletó, sentindo o contorno do pequeno objeto pressionando contra minha camisa. Minha mente não conseguia parar de girar em torno do que havia dentro dele. As informações, as anotações... por que Amber tinha aquilo? E mais importante, como tudo foi parar no apartamento dela antes da briga? Ela não voltou lá, foi atropelada logo depois da nossa discussão.
Essas perguntas me deixaram acordado a noite toda, mas as respostas pareciam cada vez mais distantes. As circunstâncias haviam mudado drasticamente. Amber não se lembrava de nada, e os segredos que antes poderiam existir agora estavam enterrados na parte da sua mente que se recusava a se revelar.
O som do chuveiro cessou, e segundos depois Amber apareceu no quarto, secando os cabelos com uma toalha. "Pronta?" perguntei, cruzando os braços enquanto a observava.
"Quase," respondeu com um sorriso cansado, mas ainda assim encantador. Pegou uma roupa no armário e começou a se vestir.
Descemos juntos para a sala de jantar. As crianças ainda dormiam, o que tornava o ambiente silencioso e um pouco estranho. Amber percebeu o horário e me lançou um olhar curioso. "Estamos saindo muito cedo, não acha?" questionou enquanto se servia de café.
"Sempre foi assim. Sempre fui o primeiro a chegar na empresa," respondi, passando manteiga em um pedaço de pão. "Essas últimas semanas alterei tudo por causa da nova rotina com vocês. Mas hoje quero sair cedo. Preciso garantir que não perco a reunião que foi remarcada."
Ela assentiu, sem argumentar, e tomamos um café rápido antes de sairmos.
O trajeto até o hotel foi tranquilo, o silêncio no carro interrompido apenas por algumas conversas leves. Amber estava olhando pela janela, os olhos distraídos acompanhando os primeiros raios de sol que tingiam o céu.
"Mudamos muito a sua rotina, não é?" ela perguntou de repente, virando-se para mim com um sorriso meio sonolento.
"Só um pouco," respondi, segurando o volante com uma mão enquanto a outra descansava em sua perna. "Mas confesso que a nova rotina com vocês me fez desacelerar um pouco. Agora, eu começo a achar que gosto mais do ritmo mais tarde."
Ela arqueou uma sobrancelha, o sorriso se ampliando. "Isso foi um elogio indireto à nossa bagunça matinal com as crianças?"
"Bagunça organizada," corrigi, um canto da minha boca se levantando. "Embora eu tenha que admitir que ter leite derramado no terno e bonecas esquecidas no carro não faziam parte da minha rotina antes."
Ela soltou uma risada suave. "Se quiser, posso pedir para as crianças te darem uma folga. Só hoje."
"Nem pense nisso," retruquei rapidamente, fingindo indignação. "Estou começando a gostar de ser atacado por mini dragões e princesas antes das reuniões. Mantém a vida interessante."
Amber riu mais, e aquele som foi como um bálsamo para os pensamentos pesados que rondavam minha mente desde a noite anterior.
Quando estacionamos e subimos para o andar da empresa, o ambiente estava quase deserto. Os passos de Amber ao meu lado ecoavam levemente no corredor vazio.
"É estranho estar aqui assim, tudo fica tão deserto. Parece... um lugar diferente," ela comentou, olhando ao redor.
"Essa calma não dura muito," avisei, apontando para o relógio. "Dê mais uma hora, e você vai ouvir conversas, telefones tocando, e Layla marchando de um lado para o outro com papéis nas mãos."



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