Amber
Meu coração dói ao deixar as crianças dormindo, mas Martina me chama novamente. Seus gritos ecoam pela mansão, como se ela quisesse que todos soubessem seu poder sobre mim.
"Amber!" Sua voz é cortante como navalha. "Onde você enfiou minhas roupas novas?"
Entro no quarto principal para encontrar todo o guarda-roupa jogado no chão, vestidos de grife, sapatos italianos, lingeries francesas espalhados como lixo. Martina está sentada na poltrona, um sorriso cruel nos lábios pintados de vermelho.
"Eu... eu as organizei por cor e ocasião, como a senhora pediu."
"Errado!" Ela se levanta num movimento brusco. "Eu pedi por estilista, depois por cor, depois por ocasião. Você é burra ou só finge não entender?" Ela chuta um vestido na minha direção. "Recomece. E dessa vez, faça direito."
Minhas mãos tremem enquanto começo a recolher as peças do chão. Cada movimento é observado por seus olhos de águia.
Alinho cada peça em seu closet, deixando de lado as que precisarão ser passadas novamente, para que nenhuma ruga apareça. Era a 4 vez que ela mandava eu ajustar seu guarda-roupa, desde que decidiu que meu trabalho não era o suficiente.
"Meu chá." Ela estala os dedos. "Agora."
Corro para a cozinha, preparando o chá exatamente como ela especificou. Quando retorno, ela toma um gole e cospe de volta na xícara.
"Isso está nojento! Amargo demais." Ela j**a o líquido quente no chão, algumas gotas respingam em minha perna. "Limpe essa sujeira e faça outro. Dessa vez, tente não ser tão incompetente."
As horas se arrastam. Cada tarefa é uma nova oportunidade para humilhação.
"O banho está pronto, senhorita."
Ela mergulha um dedo na água e faz uma careta. "Frio demais. E esses sais? Não sente esse cheiro ordinário? Como Leonardo pôde trazer alguém tão... básica para esta casa?"
"Desculpe, vou preparar outro..."
"Sabe," ela interrompe, sua voz melosa escondendo veneno, "você deveria agradecer de joelhos a chance que Leonardo está dando para seus bastardos. Mas olhe só para você, nem um simples banho consegue preparar direito." Ela se aproxima, seu perfume caro me sufocando. "Talvez seja por isso que você carrega essas marcas pelo corpo. Pessoas como você só entendem na dor, não é mesmo?"
Engulo o nó na garganta, concentrando-me em regular a temperatura da água, adicionar novos sais.
"Patético," ela murmura. "Você está abaixo do pior funcionário que já pisou nesta casa. Mas continue assim, logo Leonardo vai perceber o erro que cometeu e nos livrará da sua presença. Isso se eu mesmo não o fizer."
Quando finalmente chego ao quarto, passa da uma da manhã. Meus pés latejam nos sapatos, e cada músculo do meu corpo implora por descanso. Preciso estar de pé às cinco para começar tudo novamente.
"São adoráveis," ela garante. "Mas..." ela hesita, "eles parecem tão maduros para a idade. Sempre se desculpando, sempre tensos com qualquer pequeno erro."
Olho para eles que parecem pequenos anjos, meu coração pesado. "O pai deles... ele é muito perfeccionista, muito duro. Por isso fugi."
Valéria segura minhas mãos nas suas, seus olhos cheios de compreensão. "Você pode contar comigo, querida. Para qualquer coisa. Não sei o que passou, mas te garanto que agora você tem uma amiga a quem recorrer, sempre que precisar."
"Obrigada, Valéria." limpo meus olhos assim que ela se afasta. "Eu...preciso de um carregador, você não teria?" ela olha para a entrada do aparelho e nega.
"Esse celular é caro...como conseguiu?" ela me diz, olhando o aparelho novamente.
"Longa história." prefiro ocultar.
"Amanhã peço para Lucius ir à cidade comprar um para você. Não se preocupe. Agora descanse."
Depois que ela sai, me sento no chão, pegando um dos biscoitos. Reconheço o formato irregular, o toque amador, foram feitos pelas crianças. Mais lágrimas caem enquanto mordo um deles, imaginando seus sorrisos, suas risadas enquanto os preparavam. Outro momento precioso que perdi.
Me encolho contra a parede, exausta demais para mesmo chegar até a cama. Os biscoitos têm gosto de sal por causa das minhas lágrimas, e sinto as esperanças escorregando por entre meus dedos como areia. Amanhã será outro dia de inferno, e não sei quanto tempo mais conseguirei aguentar.

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