Gabriela
O vento frio de Missoula acariciava meu rosto enquanto eu caminhava pela calçada movimentada. O cheiro de café fresco misturado ao de pão recém-saído do forno flutuava no ar, um convite para esquecer, nem que fosse por alguns minutos, a inquietação que me acompanhava nos últimos dias.
Mas eu não conseguia ignorá-la.
Desde que voltei para casa, sentia algo diferente. Uma presença. Sempre que saía, um carro preto parecia surgir de algum lugar—estacionado do outro lado da rua, movendo-se devagar pelo bairro, aparecendo nos retrovisores toda vez que eu dirigia.
Talvez fosse paranoia. Ou talvez não.
Engoli seco e olhei discretamente para o outro lado da rua. Ele estava lá de novo.
Meu coração deu um salto. A respiração ficou um pouco mais pesada.
"Calma, Gabriela", murmurei para mim mesma. "Pode ser só coincidência."
Foi nesse momento que meu celular vibrou no bolso do casaco.
Tirei o aparelho rapidamente e ao ver o nome na tela, um pequeno alívio percorreu meu corpo. Magnus.
Atendi na mesma hora, levando o telefone ao ouvido enquanto continuava andando.
"Bom dia, chefe de segurança", tentei brincar, mas minha voz saiu menos leve do que eu queria.
"Bom dia, minha loira favorita", Magnus respondeu, mas seu tom estava carregado de cansaço.
"Você não dormiu, né?"
Ele soltou um riso curto. "Está tão evidente?"
"Cristalino para mim, querido." falei observando de soslaio o carro virar na esquina que eu tinha acabado de virar.
"E você, tem conseguido relaxar, agora que está em casa?"
Mordi o lábio. Ele me conhecia bem demais.
"Tentado descansar o suficiente, mas... não estamos falando de mim, eu estou praticamente de férias, é você que acha que é feito de aço."
"Definitivamente não sou feito de aço, mas prometo que ainda aguento alguns dias sem dormir, se for necessário."
Um silêncio curto tomou conta da linha antes de Magnus pigarrear.
"Desculpa não ter te atendido aquela hora, eu estava em reunião com Leonardo. Precisava ouvir sua voz."
Meu coração deu outro salto.
"Você tá bem?"
"Estou. Só... preocupado."
Meu peito apertou.
"Comigo?"
"Sempre."
Minha mão apertou o telefone. Eu queria dizer que ele não precisava se preocupar, mas não conseguia mentir para ele.
"Magnus... tem algo estranho acontecendo."
O tom dele mudou imediatamente. "O que foi?"
"Desde que cheguei, sinto que estou sendo observada. E... acho que tem um carro me seguindo."
O silêncio do outro lado foi pesado.
"Que tipo de carro?"
"Preto. Sempre surge quando eu saio. Nunca fica no mesmo lugar por muito tempo, mas eu noto. Eu sinto."
Magnus soltou um palavrão baixo.
"Isso já aconteceu antes? Você reparou se é o mesmo carro todas às vezes?"
"Não sei. Eu não queria acreditar que era real, então tentei não ficar paranoica. Mas agora..."
"Agora?"
Engoli em seco.


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