Leonardo
O ar gélido de Aspen corta meu rosto assim que desço do avião particular. As montanhas ao fundo estão cobertas por nuvens escuras e pesadas, como se o próprio céu pressentisse a tormenta que está por vir. Lucius já me espera na pista, encostado na SUV preta, seu semblante mais fechado que o habitual. Em três décadas trabalhando para mim, aprendi a ler cada ruga de preocupação em seu rosto, e agora elas gritam que algo terrível aconteceu.
"Como estão as coisas, Lucius?" questiono enquanto caminho em sua direção, o vento açoitando meu casaco.
Ele aperta os lábios numa linha fina, seus dedos tamborilando nervosamente na porta do carro. "Nada bem, senhor. A situação... passou dos limites."
"Explique." Magnus para ao meu lado, retirando seus óculos escuros e estendendo a mão para cumprimentar meu motorista.
"As maldades da senhorita Martina..." ele hesita, as palavras pesadas como chumbo. "Passaram do tolerável. Nem eu, nem Valéria queremos mais ficar aqui. Só não partimos ainda por consideração ao senhor. Mas se tivermos que continuar atendendo aos seus caprichos, prefiro me demitir."
O sangue ferve em minhas veias enquanto processo suas palavras. Lucius e Valéria são praticamente da família. Se eles estão pensando em partir...
"Não diga bobagens." Ajusto meu blazer, tentando controlar a irritação crescente. "Nenhum de vocês vai a lugar algum. Vou resolver qualquer coisa que ela tenha feito. Me leve até a casa, por favor."
"Sim, senhor." Ele abre a porta traseira com mais força que o habitual. Magnus dá a volta no carro, seus passos pesados na pista de pouso ecoando minha própria apreensão.
O trajeto é sufocante. Cada quilômetro percorrido pela estrada sinuosa parece aumentar a tensão dentro do carro, como se o próprio ar estivesse carregado de presságios sombrios. Meu santuário em Aspen, o lugar onde sempre encontrei paz, agora parece contaminado por algo tóxico, venenoso.
Observo o céu através do vidro fumê, vendo as nuvens escuras se aproximarem como predadores. Alguns flocos de neve começam a cair, dançando no ar antes de se desfazerem no para-brisa aquecido. O temporal está chegando, mas a verdadeira tempestade, percebo, está dentro de mim. A cada segundo minha mente conjura cenários cada vez piores sobre o que posso encontrar.
Pelo retrovisor, capturo o olhar de Lucius mais uma vez. Em trinta anos de serviço, nunca vi aquela expressão em seu rosto, uma mistura de decepção e... seria pena? A forma como seus olhos desviam dos meus quando nos encontramos faz meu estômago revirar. Minhas mãos se fecham em punhos involuntários sobre meu colo.
"Diga logo o que está lhe incomodando. O que ela fez?" Minha voz sai mais cortante que o vento lá fora.
Lucius ajusta o retrovisor, suas mãos enrugadas apertando o volante até os nós dos dedos ficarem brancos. "Senhor Martinucci... em todos esses anos, nunca pensei que o senhor fosse uma pessoa cruel."
"Como é que é?" Magnus se vira bruscamente no banco, o couro rangendo sob seu movimento súbito.
"Colocar a senhora Amber para suportar os caprichos da Senhorita Ricci..." Lucius sacode a cabeça, sua voz tremendo levemente. "Foi desumano. Na verdade, ninguém deveria passar por aquilo. Achei que gostasse dela. Alguns anos atrás ela foi recebida nessa mesma casa de forma muito diferente. O que a pobre moça fez para merecer aquele destino?"
Estreito os olhos, um arrepio gelado descendo por minha espinha enquanto o carro serpenteia pela estrada nevada. "Do que você está falando? O que ela fez?"
"MAIS RÁPIDO!" O grito escapa antes que eu perceba, fazendo Magnus se sobressaltar. "E me diga exatamente o que aquela m*****a fez!"
Um trovão explode no céu, como se ecoasse minha fúria. Martina usando meu nome para machucar Amber. Para humilhá-la. Para...
"Senhor," Magnus se vira para mim, preocupação genuína vincando sua testa. "Precisamos pensar com calma..."
"Calma?" Rio sem humor, o som áspero e frio como o vento que uiva lá fora. "Aquela víbora está fodida quando eu a achar."
"Leonardo..." Lucius começa, seus olhos alternando entre a estrada e o retrovisor.
"Não." Corto-o secamente. "Não tentem me acalmar. Se Martina acha que pode usar meu nome para ferir e magoar as pessoas, ela tem que aguentar o peso da minha fúria com total intensidade. Eu a farei pagar caro por isso. Mas o farei em seus termos. Eu vou destruir tudo o que ela ama, até não sobrar nada."
O carro acelera pela estrada enquanto os primeiros pingos de chuva começam a cair, transformando-se em neve antes de tocar o solo. Mas a tempestade que se forma dentro do meu peito é muito mais violenta que a que se aproxima lá fora. Cada quilômetro que nos aproxima da mansão é um novo grau de fúria que se acumula em minhas veias.
Dessa vez, ela vai descobrir exatamente do que sou capaz.

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