Peter
A chuva fina e cortante batia contra o para-brisa enquanto o avião pousava suavemente na pista. Itália.
De volta ao maldito lugar onde tudo começou.
Eu respirei fundo, sentindo o cheiro do asfalto molhado misturado com o combustível de aviação. Meus dedos tamborilaram contra o apoio de braço, um tique nervoso que só piorava conforme o avião taxiava até a área de desembarque. A quantos anos eu não andava de classe econômica? Eu já tinha perdido até as contas, ainda mais que tinha gastado uma pequena fortuna pelos documentos e visto falso para aquela viagem.
Eu não tinha o direito de errar. Não depois de tudo que me fizeram. Não depois de perder tudo o que eu tinha levado a vida toda para conquistar.
Dessa vez, eu não falharia.
Assim que as portas foram liberadas, levantei-me calmamente do assento, peguei minha pequena mala de mão e segui para a saída sem olhar para os lados. Eu não podia ser visto.
Magnus provavelmente já havia espalhado seus cães de guarda pela cidade.
Mas não importava. Eu estava preparado para isso.
Leonardo Martinucci estava no topo da minha lista de vingança. E Amber…
Ela seria a primeira.
A primeira coisa que fiz ao deixar o aeroporto foi pegar um carro alugado. Nada luxuoso ou chamativo, apenas o suficiente para me manter discreto e móvel. Dirigi pelas ruas escuras de Positano, mantendo a velocidade dentro do permitido, evitando qualquer comportamento suspeito. Eu precisava de respostas antes de agir.
E a primeira delas dizia respeito a Martina Ricci.
Ela deveria estar aqui. Deveria ter esperado por mim. Mas, assim como uma cobra que sente o perigo se aproximar, ela fugiu antes que eu pudesse agarrá-la pelo pescoço.
Fui até um antigo apartamento dela, um esconderijo discreto no centro da cidade. Estacionei o carro a dois quarteirões de distância e caminhei pelas calçadas silenciosas, sentindo o peso da umidade no ar.
Subi as escadas com passos calculados, cada movimento medido, os sentidos em alerta. Quando cheguei à porta, bati duas vezes, esperando uma resposta.
Nada.
Bati novamente, dessa vez com mais força.
Nenhum som veio de dentro. Nenhuma sombra cruzou o vidro fosco da janela lateral.
Minha paciência se esgotou. Peguei um grampo do bolso, um hábito que aprendi quando precisei entrar em lugares onde não era bem-vindo, e comecei a trabalhar na fechadura. Trinta segundos depois, a tranca fez um pequeno clique.
Abri a porta e entrei.
O apartamento estava vazio.
As prateleiras estavam limpas, os armários abertos, sem um único objeto pessoal deixado para trás. Ela não saiu às pressas. Ela planejou isso.
Caminhei lentamente pelo espaço, analisando cada canto, cada pequeno detalhe que pudesse ter sido esquecido. Não havia sinais de luta, nem nada derrubado como se tivesse fugido no último instante. Ela não estava fugindo.
Ela estava se reposicionando.
Peguei o telefone e disquei para uma de minhas fontes.
"Descubra para onde Martina Ricci foi. Agora."
Esperei apenas alguns minutos antes da resposta.
"Ela deixou o país há dois dias. Pegou um voo para o Brasil."
Minha mandíbula se contraiu com força.
O Brasil?
O que aquela cobra estava tramando agora? Se fosse uma fuga estratégica, ela teria ido para algum país europeu, talvez para o leste europeu, onde poderia se esconder entre criminosos que a protegeriam. Mas o Brasil?
"O que diabos você está aprontando, Martina?" Murmurei para mim mesmo, sentindo a raiva crescer.
Por um instante, considerei ir atrás dela. Mas não. Ela não era minha prioridade no momento.
Leonardo e Amber eram.
Fechei o lugar e desci rapidamente, me permitindo sentir o gosto do sangue que eu derramaria em meu próximo destino.
Se Leonardo tinha um refúgio, era na casa dos pais. Eles sempre foram uma família unida, e se Amber ainda estivesse em recuperação, poderia estar lá.
Acelerei o carro pela cidade, tomando cuidado para não ultrapassar os limites e chamar atenção. Minha mente estava afiada, focada em cada detalhe da missão que começava a tomar forma dentro de mim.

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