Magnus
O trajeto de volta ao quarto foi lento e exaustivo. Os enfermeiros não pareciam com pressa de me levar para o quarto, e ser arrastado de um lado para outro naquela cama de hospital, me deixava ainda mais irritado. Cada movimento era um lembrete do que meu corpo havia suportado. Meu braço e minha perna estavam enfaixados, o peso dos ferimentos me mantinha quase imóvel, e a dor no crânio latejava como um tambor constante. Eu estava ali, desperto, consciente, mas ao mesmo tempo vazio.
Minha mente era um abismo. Havia um buraco onde minha vida deveria estar.
Eu tentava agarrar qualquer fragmento de memória que pudesse me ancorar, mas tudo que encontrava eram sombras. Sentia que deveria lembrar, que havia algo perdido em algum canto da minha mente, esperando para ser recuperado. Mas por mais que eu tentasse, o vazio permanecia.
E então, quando entrei no quarto, eu a vi.
Gabriela estava de costas, dobrando algumas roupas e colocando-as em uma mala pequena. Seus ombros estavam tensos, seus movimentos eram cuidadosos, metódicos, como se ela estivesse tentando se manter ocupada para não pensar.
Mas no instante em que ela percebeu minha presença, seu corpo congelou.
Ela virou-se devagar, e algo dentro de mim reagiu àquela visão.
Seus olhos estavam marejados, suas feições tensas, mas era a expressão dela que me desestabilizou.
Havia algo ali… dor, dúvida, medo.
Medo de mim?
"Já estou indo," sua voz saiu hesitante, quase formal. "Não quero atrapalhar sua recuperação. Você precisa de descanso e essa tensão pode atrapalhar."
Seus olhos evitaram os meus, e meu peito se apertou.
Ela estava me evitando.
"Fique," falei sem pensar.
Ela parou no meio do movimento de fechar a mala, seus dedos apertando o zíper com força.
"Você quer que eu fique?" perguntou, sua voz mais baixa, quase contida.
Assenti. "Sim."
Ela hesitou. Por um momento, pareceu até tímida. Algo dentro de mim se revolveu ao vê-la daquela forma, como se ela não quisesse invadir um espaço que já era dela.
Respirei fundo e me ajeitei na cama, tentando ficar mais sentado, mesmo com a dor me lembrando de minhas limitações. "Você está com medo de mim?"
Ela ergueu a cabeça rapidamente, seus olhos se arregalando. "Não!" Sua resposta foi imediata, quase instintiva.
Eu estreitei os olhos, observando-a mais de perto. "Então, o que é?"
Ela apertou os dedos ao redor da alça da mala, seu corpo tenso. Eu sabia a resposta antes mesmo que ela dissesse.
"Tenho medo de que você nunca mais se lembre de mim," sua voz falhou na última palavra, e seus olhos brilharam com a umidade das lágrimas que ela segurava. "Mas não vou forçá-lo a se lembrar. Eu sei como isso funciona." ela respirou fundo e meu peito se apertou. "Eu sei que você precisa de tempo e dependendo do caso, você pode nunca recuperar 100% das suas lembranças."
Meu peito apertou.
Eu não sabia por quê.
Mas ver Gabriela daquele jeito me afetava de um jeito que eu não conseguia explicar.
Ela mordeu o lábio inferior, e algo profundo, primitivo, se remexeu dentro de mim.
Eu não sabia o que significava.
Mas eu sabia que não queria que ela fosse embora.
"Não vá," pedi, e vi a surpresa passar por seus olhos.
"Por quê?" sua voz saiu como um sussurro.
Porque quando ela se virou para sair, algo dentro de mim gritou para que eu a segurasse.
Porque, mesmo que minha mente estivesse em branco, meu corpo parecia saber que a presença dela era importante.
"Porque eu quero lembrar," falei com firmeza. "E quero que você me ajude a lembrar."
Ela piscou algumas vezes, sua expressão oscilando entre esperança e cautela. "Magnus, eu… eu quero, mas não posso começar o tratamento agora. Você ainda está se recuperando. Os médicos precisam te liberar antes que possamos iniciar qualquer análise."
Franzi o cenho, sentindo a frustração crescer dentro de mim. "Mas e até lá?"

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