Magnus
Gabriela ainda estava aninhada contra meu peito, sua respiração quente e ritmada contra minha pele. Seu corpo se encaixava no meu como se pertencesse ali, e por um instante, eu quis me perder naquela sensação.
Ela era conforto.
Era presença.
Mas, ao mesmo tempo, era o próprio caos dentro de mim.
Minha mente ainda era um campo minado, cheio de buracos onde lembranças deveriam estar. Mas o desejo de tê-la comigo não exigia lembranças. Era instintivo.
Ela suspirou suavemente e se afastou apenas o suficiente para me encarar. Seus olhos eram um oceano de sentimentos, uma mistura de ternura e dor.
"Você precisa descansar," murmurou, deslizando os dedos pelo meu rosto, afastando uma mecha do meu cabelo.
"Não quero dormir," resmunguei, segurando seu pulso, sentindo o calor da pele dela.
"Magnus…" Sua voz era suave, como se estivesse tentando me acalmar. "Você ainda está se recuperando. Seu corpo precisa disso."
Soltei um suspiro longo, porque o último lugar onde eu queria estar era preso dentro dos meus próprios sonhos.
Mas quando Gabriela se ajeitou ao meu lado, puxando a coberta para nos envolver, eu não consegui mais lutar contra o cansaço.
Fechei os olhos.
E então, o inferno começou.
O mundo ao meu redor era um borrão disforme, os contornos da realidade se dissolvendo em uma névoa espessa. Primeiro, sombras indistintas. Depois, formas começaram a ganhar vida, moldando-se diante dos meus olhos.
Gabriela estava ali.
Seu sorriso iluminava o rosto, os olhos brilhavam ao pronunciar meu nome. O som da sua voz era um bálsamo, um alívio imediato que aquecia meu peito.
Mas algo estava errado.
A luz nos olhos dela começou a desaparecer.
Os traços suaves que eu conhecia começaram a se distorcer.
Os olhos azuis escureceram, tornando-se castanhos.
Os cabelos loiros perderam o tom claro, se transformando em um castanho profundo.
O sorriso se desfez.
O coração dentro do meu peito congelou.
Ela não era mais Gabriela.
Era Liana.
A respiração ficou presa na minha garganta, um frio cortante tomou conta do meu corpo. Meu peito se apertou, e uma sensação de pavor tomou conta de mim.
Não. Isso não podia estar acontecendo.
E então, o grito dela cortou o ar como uma lâmina afiada.
Tentei correr, agarrá-la, protegê-la de qualquer coisa que estivesse vindo. Mas eu não conseguia me mover.
Meus pés estavam presos ao chão, como se fossem parte do próprio concreto.
Um vulto emergiu da escuridão. O brilho metálico de uma arma se ergueu, refletindo a pouca luz ao redor.
O olhar de Liana se fixou no meu, cheio de pânico.
O tempo desacelerou.
Eu vi o dedo no gatilho.
Eu vi o terror nos olhos dela.
E então, o tiro ecoou.
O som perfurou o silêncio como um trovão.
O impacto a jogou para trás, e o vermelho se espalhou rapidamente pela sua camisa branca, manchando tudo, cobrindo sua pele como tinta derramada.
Seus olhos se arregalaram em choque.
E então, ela caiu.
"NÃO!"
Forcei meu corpo a se mover, o pânico gritando dentro de mim. Mas quando finalmente consegui romper o torpor, já era tarde demais.

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