Amber
O grito assustado de Louis cortou a noite como uma lâmina. Em meu sobressalto, rolei para fora da cama, minha mão machucada batendo no chão seguida por minha cabeça no criado-mudo. A dor explodiu em ambos os lugares, "Ahhhh que merda..." gemi baixo, mas o instinto maternal foi mais forte. Em segundos estava de pé, ignorando a tontura, tomando meu pequeno nos braços.
Um trovão estrondoso sacudiu as janelas do hotel, fazendo Louis se encolher contra meu peito, seus soluços partindo meu coração. Girei pelo quarto, balançando-o suavemente, tentando acalmá-lo. Foi então que notei a ausência de Leonardo. Teria sido tudo um sonho?
"Shh shh meu pequeno. Está tudo bem, eu estou aqui." falei tentando acalmá-lo, ainda incomodada. Eu não me lembrava de ter ido para a cama.
Como se respondendo minha dúvida silenciosa, ele surgiu na porta, sem camisa, a calça social amarrotada, os pés descalços e o rosto marcado pelo sono recente. A visão me pegou desprevenida.
"Posso entrar?" sua voz rouca enviou um arrepio involuntário por minha espinha.
Assenti, ainda ninando Louis que continuava chorando. Leonardo se aproximou, a preocupação gravada em suas feições. "O que está acontecendo? Por que ele está chorando? Como posso te ajudar?"
Antes que pudesse responder, Bella começou a resmungar, acordando com o barulho. Olhei de um filho para outro, sentindo aquela conhecida sensação de impotência maternal.
Para minha surpresa, Leonardo se inclinou sobre a cama. "Ei, princesa," chamou com uma suavidade que não combinava com sua figura imponente. "Tio Léo está aqui."
Algo dentro de mim se quebrou ao ver minha filha, ainda sonolenta, estender os bracinhos para ele. Ela se aninhou em seu ombro largo, seus pequenos dedos se entrelaçando em seu pescoço como se o conhecesse há anos. Engoli o nó que se formou em minha garganta.
"Pronto, stellina." ele falou e o olhei sem entender. "É estrelinha em italiano." ele falou e sorri me sentindo absorvida pelo momento.
"O que acontece com ele?" Leonardo perguntou baixinho, notando que os soluços de Louis começavam a diminuir.
"Ele... não gosta de barulhos altos. Trovões são os piores." Desviei o olhar, incapaz de confessar que os gritos violentos de Peter haviam traumatizado meu filho. A vergonha de não ter conseguido protegê-lo adequadamente queimava em meu peito.
Algo em meu silêncio deve ter revelado mais do que minhas palavras, pois seu rosto assumiu uma expressão dura.
"Já pensou em passar com ele na terapia?" ele falou, e neguei.
"Peter diz que terapia é para louco e já não basta eu passar." ele riu sem graça, mas eu sentia a tensão que saia do seu corpo. Ele se aproximou e me inclinei beijando as costas da minha filha que dormia tranquilamente nos braços dele.
Concordei, fechando os olhos, mas meu coração se recusava a desacelerar. A situação era surreal, em todos esses anos, Peter nunca havia se levantado uma única vez para acalmar os gêmeos. E agora este homem, praticamente um estranho, estava ali, oferecendo conforto e proteção como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Abri os olhos lentamente, permitindo-me estudar seu rosto relaxado, aparentemente adormecido. A luz fraca da vela destacava seus traços fortes, e algo dentro de mim se contorcia, tentando desesperadamente alcançar memórias que pareciam estar ali, mas sempre fora de alcance.
"Pare de me secar e vá dormir," ele murmurou repentinamente, seus olhos se abrindo com um brilho divertido. Um sorriso sedutor curvou seus lábios, arrancando um sorriso involuntário dos meus.
"Obrigada," sussurrei. "Por ajudar com as crianças. Mas não precisava..."
"Não há o que agradecer," ele respondeu simplesmente, seu olhar intenso dizendo muito mais do que suas palavras.
Um novo trovão ribombou lá fora, mas desta vez, envolta pelo calor dessa estranha família improvisada, nem Louis se mexeu.
Fechei meus olhos, me permitindo relaxar pela primeira vez em anos, sentindo uma paz que não conseguia explicar. Foi então que uma imagem surgiu em minha mente: um quarto escuro, uma tempestade como essa, e a mesma voz rouca sussurrando "stellina" em meu ouvido. Meu coração disparou com a força daquela memória fragmentada, mas antes que pudesse agarrá-la, ela escapou como água entre os dedos, me deixando apenas com a certeza perturbadora de que aquela não era a primeira vez que eu adormecia ao lado de Leonardo Martinucci.

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