Leonardo
Pequenos dedos curiosos exploravam meu rosto e abdômen, me arrancando do sono profundo. Abri os olhos lentamente, encontrando dois pares de olhos brilhantes me estudando com interesse infantil.
"Oi, tio Léo!" Bella sussurrou, ou pelo menos tentou, sua vozinha animada ecoando no quarto silencioso.
"Você domiu aqui?" Louis questionou, seus dedinhos ainda cutucando minha bochecha com fascínio.
Pisquei algumas vezes, ajustando minha visão à luz fraca da manhã que se infiltrava pela janela precária. Amber ainda dormia profundamente no seu lado da cama, seu rosto sereno pela primeira vez desde que a reencontrei.
"Vim ontem à noite," respondi baixinho, tentando não acordá-la. "Quando vocês já estavam dormindo. E por que estão acordados tão cedo?"
"Por quê?" Bella inclinou a cabeça, curiosa.
"Domi é chato." Louis falou.
"Certo, vim para proteger vocês dos trovões," sorri, bagunçando seu cabelo.
"Eu tenho medo de tovão," Louis confessou, seus olhos grandes fixos em mim. "Mas se você ficar aqui, eu não tenho mais."
Aquela confissão inocente apertou meu coração. Me espreguicei discretamente, tentando ignorar o desconforto da noite mal dormida em uma cama pequena demais para quatro pessoas.
Sentei-me devagar, observando o quarto à luz do dia. A precariedade era ainda mais evidente: a vela havia se transformado em uma poça de cera sobre o criado-mudo, as paredes manchadas de umidade contavam histórias de muitos invernos negligenciados, e o papel de parede descascava em vários pontos.
"Ei, picollinos," chamei sua atenção, mantendo a voz baixa. "Vou até meu quarto me trocar. Depois voltamos para acordar a mamãe, okay? Vamos para um lugar mais legal."
"Tipo aquela casa gande?" Bella perguntou, seus olhos brilhando.
"Melhor ainda," prometi, levando um dedo aos lábios. "Mas primeiro, deixem a mamãe dormir mais um pouquinho. Ela está cansada."
"A mão dela ainda tá dodói," Louis comentou, olhando preocupado para Amber.
"Por isso mesmo precisamos deixá-la descansar," afirmei, sentindo a raiva contra Martina borbulhar novamente em meu peito.
Me levantei da cama, fazendo novamente um sinal de silêncio para eles, enquanto me encaminhava para a porta.
"Lembre-se, quietinhos." falei ao sair, mas as risadas explodiram assim que fechei a porta, e neguei com a cabeça, sorrindo involuntariamente. Entrei no meu quarto com o peito aquecido, e peguei meu celular sobre o criado mudo, me sentando na cama. Disquei para Magnus imediatamente.
"Senhor?" sua voz soou alertada mesmo àquela hora.
"Preciso da suíte presidencial do Royal Club preparada em uma hora," instruí, passando a mão pelos cabelos desgrenhados.
"Claro senhor, conseguiu convencer a senhora Bayer a sair dai?" ele questionou.
Após uma rápida higiene improvisada e de colocar o resto de minhas roupas, voltei ao quarto de Amber. As crianças abriram a porta antes mesmo que eu batesse, seus sorrisos largos me recebendo.
"Pelo visto não fizeram o que eu pedi." falei e eles levaram as mãozinhas a boca.
Amber estava sentada na cama, seus cabelos escuros bagunçados pelo sono, os olhos ainda pesados. Algo naquela visão doméstica fez meu estômago dar uma volta completa.
"Bom dia," sorri, apoiando-me no batente da porta. "Arrume suas coisas. Vocês vêm comigo."
"Para onde?" ela perguntou, sua voz ainda rouca de sono.
"Para um lugar onde você não precisará se preocupar com velas derretidas ou trovões," respondi, observando as crianças pularem animadas ao seu redor.
"Leonardo, eu não acho que..." ela começou, mas a interrompi gentilmente.
"Não é um pedido, Amber," mantive minha voz suave, mas firme. "Não vou deixar vocês aqui." minha intensão estava mais do que clara, "Conversamos ontem a noite, e acredito que é o melhor para todos."
O lapso não passou despercebido por ela, seus olhos se arregalando levemente. Mas antes que pudesse dizer algo, Louis pulou em seu colo, exclamando animadamente sobre ir "para uma nova aventura".
Observei a cena, sentindo aquela familiar sensação de pertencimento crescer em meu peito. De alguma forma, em menos de 24 horas, aquela pequena família improvisada havia se tornado minha prioridade absoluta, e eu faria qualquer coisa para mantê-los seguros, mesmo que isso significasse enfrentar a fúria de Martina depois.
“Então vamos?” Falei batendo as palmas e Amber se encolheu pressionando a mão na cabeça, e aquilo não passou despercebido por mim.

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