Amber
O celular ainda estava firme na minha mão. O visor brilhava com o endereço que Uria havia acabado de me mandar. Meu coração estava batendo tão forte que eu mal conseguia respirar.
Minha mente gritava com todas as possibilidades. Se eu contasse a Leonardo, Uria poderia desaparecer com Bella e levá-la para um lugar onde nunca mais a encontraríamos. Mas se eu fosse sozinha, corria o risco de cair direto em uma armadilha.
E eu sabia que era uma armadilha.
Mas nada disso importava.
O rosto da minha filha preenchia cada canto da minha mente. Bella, assustada, chorando, chamando por mim. Seu rostinho sujo de lágrimas, os cachos bagunçados, os olhos aterrorizados enquanto me procurava, esperando que eu a salvasse. O que aquela mulher podia estar fazendo com ela? Será que estava trancada em algum lugar escuro, sem entender o que estava acontecendo? Será que estava com fome, sem sua comida favorita? Será que estava com frio, sem os cobertores macios que sempre a aconchegavam à noite?
Ou…
A náusea subiu pelo meu estômago como um veneno, me tomando por completo. Pressionei os olhos com força, tentando afastar os pensamentos mais sombrios, aqueles que me faziam querer gritar até que o mundo inteiro ouvisse minha dor.
Eu não podia falhar com minha filha.
Minhas mãos tremiam enquanto largava o celular sobre a cama e me forçava a me mover. Minhas pernas estavam pesadas, como se estivessem presas em correntes invisíveis, mas eu segui em frente. Cada segundo perdido era um segundo que Bella passava longe de mim.
Entrei no closet e puxei as portas com força, o som ecoando pelo quarto silencioso. Fileiras de roupas penduradas me encaravam de volta, mas nada daquilo importava. Não importava a cor, o tecido, a marca. Nada disso faria diferença onde eu estava indo.
Escolhi uma calça confortável, preta, e uma blusa escura de mangas compridas. O casaco leve foi por precaução, para esconder qualquer tremor involuntário que pudesse me denunciar. Eu precisava de mobilidade. Precisava me mover rápido se fosse necessário.
Mas só isso não bastava.
Fui até a gaveta de acessórios e puxei a pequena faca dobrável. O metal gelado contra meus dedos me fez estremecer, mas segurei com firmeza. Meus olhos fixaram-se na lâmina ainda fechada. Eu nunca fui uma mulher violenta. Sempre tentei resolver as coisas com lógica, com controle. Mas agora, tudo era diferente.
Agora, eu faria o que fosse preciso.
Respirei fundo e coloquei a faca na bolsa, sentindo seu peso repousar contra o tecido. Meus dedos então deslizaram até o dispositivo de choque portátil. Toquei a superfície fria, meus pensamentos rodando a mil.
Se Uria tentasse algo…
Se qualquer coisa ameaçasse minha filha…
Não hesite, Amber.
Joguei o dispositivo na bolsa e fechei o zíper.
Minhas mãos ainda tremiam quando saí do closet. Mas, dessa vez, não era só medo.
Era determinação.
Quando me olhei no espelho, mal me reconheci.
Meu rosto estava abatido, os olhos fundos, a pele pálida. A mulher que me encarava não parecia eu mesma. Era uma versão quebrada, consumida pelo desespero e pela necessidade de lutar.
Respirei fundo e saí do quarto.
As escadas pareciam mais longas do que nunca. A cada passo, meu coração batia mais rápido. Eu precisava sair sem levantar suspeitas. Se qualquer um da casa suspeitasse do que eu estava prestes a fazer, me impediriam.
A cozinha estava silenciosa quando entrei. Maria, a cozinheira, estava lavando alguns pratos, cantarolando baixinho.
Assim que me viu, franziu o cenho.
"Senhora Martinucci?" Ela enxugou as mãos e se virou para mim, me observando com atenção. "Você está se sentindo bem?"
Minha boca estava seca.
"Estou… estou bem."
Ela não pareceu convencida.
"Tem certeza, querida? Você está pálida. Não quer um chá? Algo para acalmar um pouco?"
Balancei a cabeça. "Não, Maria. Eu só… preciso sair um pouco. Tomar um ar."

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