Leonardo
"Pronto papà" atendi o telefone assim que me afastei da sala, já reconhecendo o número italiano.
"Leonardo, che casino è questo?("Que bagunça é essa?)" a voz grave de Tomaso Martinucci soou do outro lado, misturando italiano e português como sempre fazia quando estava nervoso. "Que história é essa de sequestro? Em que confusão você se meteu?"
Passei a mão pelo rosto, tentando manter a calma. Era tudo que eu não precisava agora, meus pais se metendo nessa história.
"Non ti preoccupare (não se reocupe), papà. Está tudo sob controle."
"Sob controle?" ele riu sem humor. "Os jornais americanos estão falando que você sequestrou alguém! Como isso pode estar sob controle?"
"É uma história complexa que não quero discutir por telefone."
"Ah, claro. Você nunca quer discutir nada, sempre nos mantendo afastados de sua vida. O que fizemos para merecer isso, bambino?" ele suspirou.
"Só não quero preocupá-los à toa. Sei como resolver isso. Na verdade, tudo já está encaminhado. Logo saberão de toda a verdade."
"Que verdade, Leonardo. Sua madre e sua nona estão desesperadas aqui. Você vai ser preso, meu filho?" comecei a rir, tentando aliviar a tensão daquela ligação.
"Preso? Quem disse isso?" me encostei na parede, acalmando meu corpo que esperava outro tipo de embate.
"Os jornais! Foi arranjar confusão de novo com esse Calton? Sabe que ele não vale nada, desde criança, sempre foi uma péssima influência." meu pai estava bufando e eu conseguia imaginá-lo sentado em sua cadeira confortável, vermelho como um pimentão.
"Ele que se meteu comigo. Roubou algo importante de mim, e agora eu o farei pagar."
"Encerre logo isso. Não quero mais confusão com esse ser desprezível." sua voz estava dura.
"Farei isso, quanto antes." falei apenas para apaziguar seu coração.
"E a Martina? Ela tem ligado todos os dias chorando, dizendo que você cancelou o casamento..."
A paz que me invadia sumiu. "Por favor, pai. Vocês sabem muito bem que não existe possibilidade de um casamento."
"Ma figlio..."
"Não," cortei. "Vocês sabem a verdade. Não precisam fingir. Logo vou encerrar aquele contrato e provar todos os crimes dela."
"Deveria esquecer isso, foi um acidente." fechei os olhos com força.
"Não foi um acidente e eu posso provar. Com a Bayer de volta..." mordi a língua, sabendo que tinha falado demais.
Houve um momento de silêncio tenso antes dele voltar a falar. "Então você encontrou aquela funcionária? A que hackeou nossos sistemas?"
"Sim."
"Ótimo. Já era hora dela pagar pelo mal que fez à nossa família."
Fechei os olhos com força, sentindo o peso daquela mentira me sufocando. Como explicar que Amber era inocente? Que ela tinha descoberto a verdade sobre Martina e por isso...
"Hmm, acho que tenho uma ideia melhor," pisquei para ela. "Que tal atrás daquele vaso grande? Se você se abaixar direitinho, ninguém vai te ver."
Ela bateu palmas silenciosamente e correu para o esconderijo. No mesmo instante, ouvi a voz de Louis:
"Mamãe! Acho que a Bella veio pa cá!"
"Shhh!" Bella me pediu, rindo baixinho de seu esconderijo.
Me encostei na sacada, fingindo naturalidade quando Amber apareceu carregando Louis. Nossos olhos se encontraram por um momento, e mesmo com toda a tensão entre nós, não pude evitar sorrir ao ver seu cabelo bagunçado e as bochechas coradas da brincadeira.
"Viu a Bella, tio Leo?" Louis perguntou, seus olhos vasculhando o ambiente.
"Não vi ninguém por aqui," respondi sério, ignorando a risadinha que veio de trás do vaso.
Amber ergueu uma sobrancelha, tendo claramente ouvido também, mas entrou na brincadeira. "Então vamos procurar em outro lugar, Louis."
Assim que eles saíram, Bella pulou de seu esconderijo. "Você é o melhor tio do mundo!" ela declarou antes de sair correndo para encontrar outro lugar para se esconder.
Fiquei ali, sorrindo como um idiota, pensando em como aquelas crianças tinham o poder de fazer qualquer problema parecer menor.
E em como eu faria qualquer coisa para proteger essa família que o destino tinha me devolvido.
Mesmo que para isso precisasse enfrentar minha própria família.

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