Leonardo
O silêncio no carro era ensurdecedor. Pelo retrovisor, via os pequenos ainda assustados, e Amber... ela parecia ter construído um muro ao seu redor, os cabelos presos em um coque tão apertado que chegava a parecer doloroso.
"Louis," chamei suavemente quando chegamos ao hotel. O menino ergueu os olhos vermelhos para mim. "Vem cá, campeão."
Assim que saímos do carro, o peguei no colo. Seu pequeno corpo ainda tremia.
"Sabe o que eu vi hoje?" falei, ajeitando-o em meus braços. "Vi um garotinho muito corajoso, que tentou defender a mãe dele."
"Mas eu só cholei," ele fungou, escondendo o rosto em meu ombro.
"Ei," levantei seu queixo delicadamente. "Chorar não significa que você é fraco. Significa que você tem sentimentos, que se importa. E você foi muito, muito forte hoje."
"O papai... ele disse..."
"Ele está errado," cortei, sentindo meu sangue ferver só de lembrar as palavras de Calton. "Você é um menino incrível, Louis. E eu estou muito orgulhoso de você."
Seus olhinhos se encheram de lágrimas novamente, e aquilo quebrou meu coração em mil pedaços.
"Sabe o que guerreiros corajosos merecem depois de uma batalha?" tentei mudar o clima. "Sorvete!"
"Sovete?" Bella, que estava quietinha no colo de Amber, finalmente se manifestou.
"É," sorri para ela. "O maior e mais gostoso sorvete de Colorado Springs. O que vocês acham?"
"Podemos mesmo?" Louis perguntou baixinho.
"Claro que podem, piccolo. Magnus?"
"Sim, senhor?" olhei para a expressão que mudava no rostinho dos pequenos.
"Qual a melhor sorveteria da cidade?"
"A Sweet Dreams, senhor. Fica a dez minutos daqui."
"Perfeito." falei sorrindo, mas Amber permanecia imersa em seu mundo.
Voltamos para o carro, e agora as crianças falavam sem parar, inventando e criando teorias do que comeriam na sorveteria. Um ar muito mais relaxado do que antes.
"B?" a chamei, mas ela olhava para um ponto fixo pela janela, de uma forma que ninguém parecia poder se aproximar. Olhei para Magnus que estava tão ciente quanto eu de que as palavras de Calton tinham sido certeiras.
Na sorveteria, os olhos das crianças brilharam ao ver a quantidade de sabores disponíveis. Magnus garantiu uma mesa discreta, longe das janelas.
"Quero chocolate e molango!" Bella declarou, parecendo mais animada.
"E você, Louis?"
"Pode ser... pode ser banana e cocolate?" ele perguntou timidamente.
"Pode ser o que você quiser," garanti. "E podem escolher todos os complementos que quiserem também." Eu estava me divertindo com a expressão de surpresa em seus rostinhos redondos.
"Tio Leo?" a voz de Bella tremeu. "Ele vai contar po papai onde a gente tá?"
Amber puxou a mão da minha como se tivesse levado um choque.
"Não, principessa," tentei manter a voz calma enquanto fazia sinal para Magnus pedir a conta. "Ninguém vai contar nada para ninguém."
Mas enquanto conduzia minha família assustada de volta ao carro, sabia que era mentira. Em questão de horas, aquela foto estaria em todos os lugares.
E Calton saberia exatamente como nos desmoralizar.
"Louis ainda tá com medo?" Bella perguntou baixinho ao irmão quando os coloquei no carro.
"Não," ele respondeu, mas sua mãozinha procurou a da irmã. "O tio Leo disse que eu sou forte."
Entrei no carro sentindo o peso do mundo nas costas. Como eu poderia protegê-los se nem mesmo um simples sorvete conseguíamos tomar em paz?
"Magnus," chamei enquanto ele dirigia. "Ligue para Hobbins. Quero uma coletiva de imprensa. Vou soltar as ações de Calton sobre a Bayer nos últimos 3 anos."
"Sim, senhor."
Olhei para Amber pelo retrovisor. Ela tinha voltado a se fechar em seu casulo, olhando pela janela, como se procurasse uma rota de fuga.
E talvez ela precisasse.
Porque agora, depois daquela foto, o inferno realmente iria começar.

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