Leonardo
Atendi o telefone por puro reflexo, mas assim que ouvi a voz estridente de Martina, percebi que tinha feito a escolha errada. Ainda assim, era melhor que enfrentar os olhos marejados de Amber naquele momento, olhos que me faziam querer mandar tudo para o inferno e simplesmente abraçá-la e beijá-la até que todo o mal-entendido entre nós se dissipasse.
"Como assim não posso subir?" Martina gritou do outro lado da linha. "Estou na recepção e esses incompetentes não querem me deixar passar! Sou sua noiva, isso é um ultraje!"
"É exatamente isso," não consegui conter o riso amargo. A palavra 'noiva' agora tinha um gosto estranho na boca. "Você não vai subir."
"Não pode me impedir de ir ao seu quarto! Ainda sou sua..."
"Pode ficar em qualquer quarto do hotel, Martina," cortei sem paciência, minha voz saindo mais dura do que pretendia. "Menos no meu. Não quero você lá."
"É por causa daquela mulher, não é?" sua voz destilava veneno. "Dela e daquelas crianças!"
Ri de novo, mas dessa vez sem humor. Como ela conseguia fazer algo tão precioso soar tão sujo? "Pense o que quiser. Não vai subir para minha suíte."
"Leonardo, precisamos conversar! As coisas estão fugindo do controle e..."
"Concordo," passei a mão pelo rosto, sentindo o peso do dia nos ombros. "Te encontro no restaurante do hotel em dez minutos."
Desliguei antes que ela pudesse responder. Caminhei pelo hall majestoso do Villa Eleganza, observando os lustres de cristal e o mármore polido que refletia a luz dourada da tarde. Antes, esse lugar representava tudo que eu tinha conquistado - poder, luxo, controle absoluto. Agora...
Agora minha mente criava imagens diferentes. Duas crianças correndo por ali, suas risadas ecoando pelo mármore. Louis tropeçando em seus próprios pés enquanto perseguia a irmã, Bella exigindo ser carregada nos ombros para tocar o lustre mais baixo. O hotel inteiro tinha mudado de significado desde que descobri a existência dos gêmeos.
Chacoalhei a cabeça, tentando afastar essa fraqueza momentânea. Desde quando eu, Leonardo Martinucci, tinha ficado tão... vulnerável?
Martina já me esperava no restaurante, sentada estrategicamente onde todos podiam vê-la. Usava um vestido vermelho que mais parecia uma segunda pele, o decote profundo deixando pouco para imaginação. Sua magreza excessiva ficava ainda mais evidente nas roupas justas, algo que muitos considerariam como padrão de beleza, mas para mim agora...
Agora só conseguia pensar nas curvas suaves de Amber, em seu quadril largo que minhas mãos conheciam tão bem, naquela boca em formato de coração que não conseguia esconder nenhuma emoção. Na forma como seus olhos brilhavam quando ria, como seu corpo todo se inclinava quando estava interessada em algo...
"Estou muito ferrado," murmurei para mim mesmo, ajeitando a gravata enquanto me sentava de frente para Martina.
"Eles são seus, Martinucci?" a olhei sério pronto para colocá-la em seu lugar. "Me traiu dessa forma?"
"Não..."
O som dos tiros veio sem aviso. O vidro espelhado explodiu em milhares de pedaços, transformando o restaurante elegante em um cenário de caos em questão de segundos. Meu corpo reagiu por instinto, me joguei sobre Martina, protegendo-a com meu corpo enquanto gritos de pânico enchiam o ar.
O cheiro de pólvora invadiu o ambiente, misturado ao tilintar dos cristais quebrados e o som de passos desesperados. Pratos caíam, pessoas gritavam, cadeiras eram arrastadas.
"Todo mundo no chão!" alguém gritou, mas eu já estava procurando uma rota de fuga, minha mente em completo pânico.
Meu coração disparou, mas não era por medo dos tiros. Amber e as crianças estavam lá em cima. Sozinhos. Desprotegidos.
E pela primeira vez na vida, eu, Leonardo Martinucci, estava no lugar errado, na hora errada, com a pessoa errada.
Precisava chegar até eles. Agora.

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