Leonardo
O som da porta nos congelou no lugar. Amber tentou se afastar, mas mantive minha mão em sua cintura, já sabendo quem era antes mesmo de olhar. Só uma pessoa no mundo tinha a audácia de trancar a porta depois de entrar.
Minha nonna estava parada na entrada, sua pequena figura imponente mesmo apoiada na bengala de madeira antiga que pertenceu ao meu avô. Seus olhos astutos nos estudavam com uma mistura de surpresa e divertimento que eu conhecia muito bem - a mesma expressão que tinha quando me pegava roubando biscoitos na cozinha quando criança.
Amber finalmente se virou e, ao ver minha avó, praticamente saltou do meu colo, seu rosto ficando da mesma cor de seus cabelos. A forma como ela tentava ajeitar a blusa, evitando olhar para qualquer um de nós, era adorável.
"Nonna," chamei suavemente, tentando esconder o sorriso.
"O que significa isso, Leonardo?" ela perguntou em italiano, nos observando como uma aguia. "Primeiro aquela loira histérica me expulsa do quarto dizendo que você precisa descansar, e quando volto encontro você..." fez um gesto dramático com a mão livre, "fazendo... isso!"
"Nonna," puxei a mão de Amber, trazendo-a de volta para perto de mim. Ela resistiu um pouco, mas acabou cedendo. "Esta é Amber Bayer. Amber, minha avó, Rosa Martinucci."
"Muito prazer, senhora," Amber murmurou, ainda mortificada.
"Prazer?" Nonna ergueu uma sobrancelha perfeitamente delineada. "O prazer parecia ser todo dele até agora."
"Nonna!" não consegui conter o riso, enquanto Amber parecia querer evaporar. "Venha aqui."
Ela se aproximou, o som da bengala marcando cada passo no piso hospitalar, seus olhos negros nunca deixando Amber. Mesmo aos 78 anos, Rosa Martinucci tinha a mesma presença que comandava uma das maiores famílias de Positano.
"Lembra quando te contei que havia alguém, que não era Martina?"
"Si," ela respondeu, seus olhos brilhando com entendimento. "Ma non pensavo(Mas não pensava) que você estaria se agarrando com ela no hospital! Acabou de levar um tiro, per l'amor di Dio!(Pelo amor de Deus)"
"Foi só um beijo," tentei amenizar, sentindo Amber encolher ao meu lado.
"Um beijo?" Nonna bufou. "Estava mais para... como vocês jovens dizem? Ah sim, 'amasso'! E se aquela..." procurou a palavra certa, "megera da Martina entrasse?"
"Não resisti," confessei, apertando a mão de Amber. "Estava com saudades."
Amber parecia querer que o chão a engolisse, mas minha avó suavizou o olhar ao ver nossos dedos entrelaçados.
"Bem, pelo menos essa não faz escândalo por tudo," murmurou, estudando Amber com mais atenção. "Ma é melhor ir embora antes que os outros voltem."
Olhei para Amber, odiando ter que deixá-la ir. "Quando terá alta?" ela questionou.
"Ainda não sei," suspirei. "Mas logo estarei em casa."
"Preciso pensar no que dizer às crianças," Amber mordeu o lábio, preocupada. "Já foi dificil dizer a eles por que você não estava lá agora cedo, e por que não nos recebeu em sua casa, por sorte..."
"Crianças?" os olhos de Nonna brilharam como se fosse Natal. "Che bambini? (Que crianças?)"
"Amber tem gêmeos," expliquei, sentindo seu corpo tenso ao meu lado. "Um lindo casal."
Depois que elas saíram, me recostei nos travesseiros, um sorriso ainda brincando em meus lábios. Minha nonna sempre teve um dom especial para ler as pessoas. Em cinco minutos, tinha visto em Amber o que eu demorei semanas para descobrir, aquela pureza de alma que a fazia tão especial.
E Martina... bem, nonna a tinha definido perfeitamente em uma palavra: megera. Em todos esses anos, ela nunca tinha escondido sua antipatia por minha "noiva", sempre dizendo que havia algo de falso nela. Como sempre, Rosa Martinucci estava certa.
A porta se abriu novamente, trazendo de volta a realidade na forma dos meus pais e Martina.
"Onde está sua nonna?" mamãe perguntou, olhando ao redor do quarto.
"Estava cansada," respondi suavemente. "Pedi para Magnus levá-la para descansar."
"Fez bem," papai assentiu, sua expressão séria. "O médico virá em breve falar sobre sua alta."
Martina se aproximou da cama, sua mão pousando em meu braço bom. "Já não era sem tempo. Precisamos voltar para Positano, você precisa se recuperar adequadamente."
"Sobre isso," papai pigarreou, "precisamos conversar, filho. Sua segurança..."
"Depois," cortei, já sabendo onde aquela conversa iria chegar. "Estou cansado agora."
Mas enquanto eles discutiam entre si sobre minha recuperação, meus pensamentos vagavam para uma certa ruiva e dois pequenos que, neste momento, provavelmente estavam conhecendo o lado mais doce e feroz da família Martinucci.
Positano teria que esperar. Meu lugar era aqui.

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