Leonardo
"Nada de depois, Leonardo. Vamos falar agora sobre isso." Seus olhos, tão parecidos com os meus, me estudavam com uma mistura de preocupação e decepção que eu conhecia bem demais.
"Martina nos atualizou sobre a situação," ele começou, sua voz grave carregando aquele tom que usava nas reuniões de diretoria. "Por que está se envolvendo com essa mulher, Leonardo? Procurando briga novamente com Peter Calton? Vimos as notícias. Você deu uma coletiva de imprensa direcionada a ela."
Lancei um olhar cortante para Martina, que permanecia próxima à janela com aquele sorriso ensaiado nos lábios.
"Só quero seu bem, amor," ela se aproximou, tentando tocar meu braço. Me desviei como se seu toque queimasse. "Não acho justo você trazer todo esse tormento apenas por uma boa ação. Podemos pagar um bom advogado para ela e..."
"Saia." A palavra saiu como um chicote.
"Como?" ela piscou, fingindo confusão.
"Saia do quarto."
Martina imediatamente olhou para minha mãe, seus olhos se enchendo de lágrimas calculadas.
"Leonardo!" mamãe me repreendeu. "Que modo é esse de tratar sua..."
"Minha o quê, mamma?" cortei. "Você vai se casar com Martina?"
"Como assim? Não entendo..."
"Então não há motivo para ela estar aqui. Saia," me dirigi novamente à Martina. "E se possível, volte para sua casa."
"Leonardo, você está sendo indelicado," papai interviu.
"Indelicado?" deixei escapar uma risada seca. "Indelicado é vocês me tratarem como uma criança que precisa de ordens. Sei exatamente o que estou fazendo. E se essa é a opinião de vocês, podem voltar para Positano. Não irei a lugar algum. Eu sou americano, para o desgostos de vocês. Deveriam ter me feito na Itália, se queriam algo diferente."
"Meu filho, não é só isso...Martina acha que essa mulher o está seduzindo..." minha mãe falou se aproximando.
"Ela sempre acha alguma coisa." me remexi sentindo a dor do meu braço. "Mas eu não chamei nenhum de vocês aqui. Como podem ver já estou bem. Se essa reunião familiar," olhei para Martina, "Exceto você!" ela ficou ainda mais chocada. "Foi para discutir minha vida e meus negócios, saibam que tudo vai continuar da forma que está. Continuarei ajudando a senhorita Bayer e seus filhos contra os abusos de Calton."
Martina soltou um soluço teatral, e minha mãe a abraçou. "Non ti preoccupare, cara. Ele está irritado pelo que aconteceu, logo volta ao normal."
Bufei, observando a encenação barata. Era incrível como ela conseguia manipular minha mãe tão facilmente.
"Vamos para o hotel," mamãe declarou. "Voltamos amanhã quando você estiver mais calmo, mio figlio (meu filho)."
"Quero ficar na suíte presidencial," Martina murmurou, ainda fingindo chorar.
"Claro, minha querida, Leonardo não..."
Não consegui conter o riso. "Você sabe que aquele não é seu lugar."
"Ela é nossa convidada," mamãe insistiu. "Ficará onde quiser."
Fingi irritação, mas por dentro estava gargalhando. Martina era tão previsível, só queria provocar Amber. Mal sabia que ela e as crianças estavam bem longe e agora sob a proteção da Martinucci mais tinhosa da família.
"E o hotel é meu. Se contente no quarto que lhe dei, que é tão bom quanto." falei a ignorando.
"O que você esconde dentro daquele lugar, Leonardo?" ela me acusou, e joguei minha cabeça para trás, sentindo o efeito do remédio começar a passar.
Nos encaramos em silêncio, anos de mágoa não dita pesando entre nós.
"Você precisa esquecer o passado, Leonardo. Viva, encontre alguém."
"Como o senhor esqueceu a Francesca?" as palavras escaparam antes que pudesse contê-las.
Ele recuou como se tivesse levado um tapa, seu rosto empalidecendo. Sem dizer mais nada, caminhou até a porta e saiu.
Peguei o celular imediatamente.
"Magnus? Tranque a suíte presidencial. Ninguém entra lá. Ninguém. Nem mesmo meus pais."
"Sim, senhor. Mais alguma coisa?"
"Como eles estão?"
Consegui ouvir risadas infantis ao fundo.
"Sua avó está organizando uma caça ao tesouro. Nunca vi as crianças tão felizes."
Sorri, sentindo meu coração mais leve.
"Ótimo. Me mantenha informado."
Desliguei e me recostei nos travesseiros, exausto, mas satisfeito. Em breve, muito breve, todos saberiam a verdade. E então ninguém, nem mesmo meus pais, poderia negar que meu lugar era ao lado de Amber e das crianças.

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