Entrar Via

Proibida para Mim: Apaixonado pela filha do meu amigo romance Capítulo 101

Heloisa Moura

A noite chegou devagar, com o céu tingido de um azul profundo e salpicado de estrelas. A estufa estava silenciosa agora, só o farfalhar das folhas e o som distante dos grilos preenchiam o espaço entre nós. Vittorio e eu estávamos sentados no chão, encostados à parede de vidro, uma taça de vinho entre as mãos, os pés descalços tocando o chão frio de pedra.

Por um instante, o silêncio se tornou espesso. Aquele tipo de silêncio que não incomoda, mas que carrega peso. O peso doce e agridoce das ausências.

— Você também sente, não sente? — perguntei, virando o rosto para ele.

Vittorio demorou um segundo para responder. Seus olhos estavam fixos em algum ponto do jardim noturno, mas quando se voltaram para mim, estavam cheios daquela saudade mansa que só os pais conhecem.

— Todo dia. — Ele suspirou, com um sorriso meio torto. — A casa ficou maior sem ele, mesmo com todos os planos, mesmo com toda a beleza... falta o riso dele ecoando pelos corredores.

Encostei a cabeça em seu ombro, e juntos ficamos ali, pensando no mesmo menino de olhos curiosos e riso contagiante. Lorenzo. Nosso pequeno universo de gente. Nosso ponto de partida e, tantas vezes, nosso norte.

— Minha mãe disse que ele colheu maçãs ontem e que fez “a melhor torta do mundo”, segundo o papai. — Sorri, lembrando da mensagem de voz que ouvira mais cedo. — E que está dormindo com meu cachecol, porque “tem cheiro de mamãe”.

Vittorio fechou os olhos por um instante, como se quisesse guardar aquela imagem dentro de si.

— Ele ama você de um jeito tão inteiro… — murmurou. — E eu… às vezes me pego imaginando como será quando ele vir e correr por entre as parreiras, perguntando mil coisas, querendo plantar sua própria uva, criar seu próprio vinho.

— "Per Bambino" — brinquei, enxugando discretamente uma lágrima. — Vinho sem álcool, claro.

Ele riu, a risada baixa e aconchegante.

— Claro. Com notas de amor incondicional e final de tarde na Toscana. Será que ele vai ser tão ligado aos vinhos como nós?

Ficamos assim por um tempo, embalados pela lembrança e pela espera. A saudade de Lorenzo não doía como ausência, mas como presença diluída — como uma flor que ainda não desabrochou no jardim, mas que já sabemos que vai florir.

— É o que mais desejo. Você acha que ele vai gostar daqui? — perguntei, quase num sussurro. — Da estufa, da vinícola, desse pedaço de mundo que estamos construindo e que nos deu tanto amor? Onde nosso sentimento nasceu.

— Acho que ele vai sentir o que a gente sente. Vai saber que tudo isso também é dele. — Vittorio me olhou nos olhos, firme e sereno. — Estamos deixando um rastro de amor para ele seguir. E ele vai entender. Porque Lorenzo já nasceu sabendo o que é amor.

Abracei-o mais apertado, sentindo o peito se aquecer, mesmo sob o manto frio da noite.

— Logo ele estará aqui. Correndo, tropeçando, rindo alto. Colhendo flores comigo, misturando tintas, inventando nomes para os vinhos...

— E questionando por que não temos uma safra de suco de morango com bolhas.

— Com rótulo holográfico e tudo — completei, rindo, com os olhos marejados.

Vittorio me beijou o alto da cabeça, em silêncio. E naquele instante, ali no coração da Toscana, sob as estrelas e entre promessas sussurradas, sentimos que nosso lar já estava completo. Mesmo com a distância, mesmo com a saudade. Porque o amor sabia o caminho de volta. E Lorenzo… Lorenzo era amor em forma de menino.

No dia seguinte, Sr. Luiz veio até a casa, nos cumprimentar, mas também falar sobre uma preocupação dele. Seu filho Matheu.

— Patrão, desculpa interromper, mas queria falar com o senhor. — Olha para mim desconfiado, como se pedisse que saísse silenciosamente. Quando faço intenção de me levantar, as mãos do Vittorio me segura.

— Talvez tenha tentado — disse Vittorio, calmo. — Mas às vezes o medo do julgamento pesa mais do que a verdade.

— E agora? — perguntou, quase num sussurro. — O que eu faço?

Me aproximei, pousando uma mão sobre o ombro dele.

— Agora, o senhor abre a porta. Escreve uma carta. Faz um telefonema. Diz a ele que está pronto para ouvi-lo. O resto… o amor dá conta. Sempre dá.

Ele assentiu, em silêncio, os olhos marejados. Quando saiu, o ar pareceu mais leve, como se algo antigo tivesse sido quebrado ali, entre a dor e a esperança.

Ficamos em silêncio por um tempo depois que ele se foi. Apenas o som das cigarras noturnas preenchendo os vãos da nossa respiração.

— Você acha que eles vão dar certo? — perguntei, voltando a me recostar no ombro de Vittorio.

— Acho que eles já estão dando certo. Do jeito deles. Errando, tropeçando, mas com o coração no lugar certo. E isso… é tudo.

Sorri. No fundo, sempre soube. O amor é um vinho bom: precisa de tempo, de paciência, de cuidado com cada detalhe. Às vezes amarga, às vezes surpreende. Mas sempre, sempre deixa um gosto que vale a pena.

E lá fora, sob o céu estrelado da Toscana, senti o futuro germinando com força. Com Lorenzo. Com Matheu e Isabella. Com todos os amores que ousam florescer, mesmo em meio ao medo.

Porque no fim das contas, é disso que o mundo precisa. De quem ame com coragem.

Histórico de leitura

No history.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: Proibida para Mim: Apaixonado pela filha do meu amigo