Matheu e Isabella
Voltamos no fim da tarde, quando o sol começava a se esconder atrás das colinas, tingindo tudo com aquele dourado que só a Toscana sabe oferecer. O carro subiu a estradinha de terra que eu conhecia desde criança, mas que agora parecia outra — ou talvez fosse eu quem tivesse mudado.
Isabella dormia encostada em meu ombro, o rosto sereno, uma das mãos descansando sobre a barriga que começava a se desenhar sob o vestido leve. Era estranho pensar que dentro dela havia uma vida. Nosso amor, feito gente. Um filho que ainda não conhecemos, mas que já parecia nos conhecer.
— Chegamos — murmurei, com um beijo leve em sua testa.
Ela abriu os olhos devagar, piscando contra a luz suave do entardecer. Sorriu. Aquele sorriso que sempre me desmontava.
— Pronta? — perguntei.
— Sempre estive. É você quem está com cara de quem vai desmaiar.
Ri, nervoso. Não era mentira.
Descemos do carro de mãos dadas. O ar cheirava a lavanda, uva madura e madeira antiga. E a lembrança da minha infância veio como um vendaval: eu correndo por entre as parreiras, escondido do meu pai, sonhando com coisas que não sabia dar nome.
Agora, eu sabia. Amor. Liberdade. Raízes e asas ao mesmo tempo.
Quando nos aproximamos da casa principal, vimos Heloísa no jardim, agachada junto a algumas roseiras. Ela nos viu, largou as luvas no chão e veio correndo, os olhos arregalados de emoção.
— Vocês voltaram!
Antes que eu dissesse qualquer coisa, ela nos envolveu num abraço quente, cheio de perguntas silenciosas.
— Viemos… para ficar — falei, a voz mais firme do que eu esperava. — E temos uma notícia.
Vittorio apareceu logo depois, enxugando as mãos num pano de linho, como se já soubesse. Trocou um olhar rápido com Heloísa, daqueles que dizem mais do que mil palavras.
Segurei a mão de Isabella com mais força. Ela assentiu, e eu respirei fundo.
— Vamos nos casar.
O silêncio durou um segundo e meio. Talvez dois. Então os olhos de Heloísa se encheram de lágrimas e ela nos puxou de novo para perto, sem dizer uma palavra. Vittorio sorriu, o sorriso orgulhoso e discreto de quem entende o que significa lutar por amor.
— Vocês vão precisar de ajuda com tudo — disse ele, calmo. — Mas primeiro... entrem. Vocês estão em casa.
Minha garganta apertou. Aquelas palavras… Vocês estão em casa. Eu não sabia o quanto precisava ouvi-las até que as ouvi.
Nos sentamos no terraço. O céu ia escurecendo devagar, como se o tempo tivesse desacelerado para nos dar espaço. Isabella contou sobre os primeiros enjoos, sobre a médica doce que conhecemos em Veneza, sobre como chorou quando viu o coração batendo pela primeira vez na tela do ultrassom.
— E ela já tem nome? — perguntou Heloísa, com os olhos brilhando.
— Sim... — disse Isabella, sorrindo. — Nossa preciosa Aurora...
Vittorio nos serviu um pouco do vinho da casa. E quando ergueu a taça para brindar, disse algo que levarei comigo para sempre:
— À coragem de amar, mesmo quando o mundo tenta convencer do contrário.
Tocamos as taças com delicadeza. Brindamos ao amor, ao nosso filho, à nova vida que nascia ali, entre uvas, memórias e promessas.
E naquela noite, enquanto o riso ecoava pelo terraço, e Isabella se encostava em mim com os olhos fechando devagar, eu soube: o amor, quando é verdadeiro, sempre encontra o caminho de volta.
Mesmo que precise cruzar a distância entre Veneza e a vinícola. Mesmo que venha com medo, dúvidas e histórias inacabadas. Porque amor de verdade não precisa ser perfeito — só precisa ser inteiro.
E o nosso... era.
Os dias que seguiram foram como um vendaval doce. A casa se encheu de vozes, passos apressados, tecidos estendidos sobre cadeiras, flores sendo testadas em arranjos improvisados, receitas rabiscadas com pressa nas bordas de cadernos antigos. Isabella flutuava entre tudo, com as mãos na barriga e os olhos iluminados por aquela felicidade que não se inventa — só se vive.
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