Lorenzo Bianchi
Mais uma viagem com meus pais, hoje vinhemos visitar meu avô, como diz meu pai um velho turrão. Mas sinto como se meu coração tivesse ficado na Itália. Lembrar dos olhos da Aurora, tentando segurar as lágrimas, usando de uma força que nem ela imaginava que existia, me fez querer ficar, mas meus pais jamais aceitariam que ficasse sem motivos aparente.
— Lorenzo, está acontecendo alguma coisa? Quer conversar? — Minha mãe aparece e do nada sente que tem algo errado comigo.
— Mãe, como você descobriu que amava meu pai?
— Filho, minha história com seu pai, é bem complexa. Quanto mais tentava me aproximar, mais ele se afastava.
— Assim como a história do tio Matheu e da tia Isa?
— Ambos são histórias complicadas, meu amor. Mas no fim, deu tudo certo.
— Mãe, eu acho que estou apaixonado... mas não tenho certeza se ela sente o mesmo.
Minha mãe se sentou ao meu lado no degrau da varanda, cruzando os braços devagar como quem se preparava para escutar algo importante. O sol começava a se esconder atrás das colinas, tingindo o céu de um laranja quente, como se até ele estivesse tentando aquecer o que eu sentia por dentro.
— Então… — ela disse, com aquele meio sorriso que só as mães têm — apaixonado, é?
Desviei o olhar, envergonhado, chutando uma pedrinha com o sapato.
— Talvez. Não sei. É confuso. Quando estou com ela, tudo parece leve, natural. A gente se entende sem falar. Mas, ao mesmo tempo, tem algo preso aqui dentro — apontei para o peito — como se as palavras não saíssem do jeito certo. Como se eu estragasse tudo só de tentar.
Minha mãe me olhou com uma ternura silenciosa. Não tinha pressa. Nunca teve. Ela sabia escutar com o coração, como se as pausas entre as palavras também dissessem alguma coisa.
— Amar, Lorenzo… é correr esse risco. A gente nunca tem garantia de que vai ser recíproco. Mas o que importa mesmo é o que isso te ensina sobre você. Sobre o que você sente, sobre o quanto está disposto a cuidar de alguém — ela pousou a mão sobre a minha. — E também sobre o quanto você aguenta esperar.
Assenti, devagar. A imagem da Aurora, com a testa franzida de preocupação e os olhos tentando esconder o que sentia, voltava toda hora. Lembrei da última vez em que a vi antes de viajar. Estávamos cheios de tinta, rindo à toa, e por um instante achei que ela fosse dizer algo... mas se calou. Como se engolisse o próprio coração.
— Mãe… ela é diferente. Não sei explicar. Não é só porque é bonita, ou porque a gente cresceu junto. É porque quando eu olho para ela, sinto que estou no lugar certo. Mesmo quando ela está brava comigo, mesmo quando a gente discorda. Ela me faz querer ser melhor.
Minha mãe me apertou num abraço demorado, como fazia quando eu era pequeno e sonhava com trovões.
— Então você já sabe, filho. Pode ainda não ter nome para isso… mas o sentimento está aí. E se for amor mesmo… ele vai encontrar um jeito. O amor tem dessas teimosias. Ele espera. Ele volta. Ele cresce até em silêncio.
Ficamos ali por um tempo, em silêncio. O vento balançava as folhas do limoeiro do meu avô, e o cheiro da terra úmida invadia o ar.
No fundo, eu sabia que alguma coisa tinha mudado. Não só entre mim e Aurora, mas dentro de mim. Como se eu tivesse deixado de ser só um menino e começado, aos poucos, a entender que crescer também era isso: sentir sem saber o que fazer com o que se sente.
Naquela noite, antes de dormir, escrevi o nome dela numa folha qualquer do meu caderno. Só para ver como ficava no papel.
Só para ter certeza de que ela ainda estava comigo, mesmo a quilômetros de distância.
Aurora.
Nome de quem nasce com a luz.
Nome de quem talvez, um dia, me ensine a amar de verdade.
Quando finalmente fui para o quarto, fiquei olhando as luzes de Nova Iorque, esse lugar não é para mim, tenho saudades da Toscana, dos vinhedos. Agora entendo porque maus pais resolveram morar lá.
Peguei o celular da cômoda, hesitando por alguns segundos antes de abrir a conversa com a Aurora. A tela me encarava, fria, como se me perguntasse: tem certeza?
Não tinha. Mas chamei mesmo assim.
Toquei no botão de chamada e levei o aparelho ao ouvido. A espera me deixou mais nervoso do que eu queria admitir. Então, ela atendeu.
— Lorenzo? Tá tudo bem?
A voz dela. Só de ouvir, meu peito já se acalmava. A saudade me deu um soco no estômago.
— Tá sim… só… queria ouvir você.
Do outro lado, ela ficou em silêncio por um instante. Ouvi um barulho de folhas, talvez ela estivesse na varanda.
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