Lorenzo Bianchi
Voltar para a Itália, mesmo que por uma semana, foi como respirar fundo antes de mergulhar. Os vinhedos ainda estavam lá, estendidos como braços abertos, e o cheiro da terra me envolveu como um velho cobertor. Cada canto da casa, cada chiado do assoalho, parecia sussurrar “bem-vindo de volta”, mas eu sabia — não era um recomeço, era uma despedida adiada.
A semana passou depressa. Revi os amigos do vilarejo, ajudei meu pai na adega, ouvi histórias novas e antigas do nonno, como se ele quisesse me deixar um pouco mais de si antes da partida. E, entre um dia e outro, Aurora.
Nos víamos sempre que podíamos, mas nunca falamos muito sobre o que viria. Ela não perguntava quando eu voltaria. Eu não dizia quando partiria. Era como se estivéssemos tentando empurrar o tempo com as mãos, só para ficar mais um pouco dentro daquele agora.
Na véspera da minha volta a Nova Iorque, mandei uma mensagem curta.
Lorenzo:
Me encontra no parreiral. Hoje. Antes do pôr do sol.
Ela respondeu com um “sim” e um coração pequeno, vermelho, como se aquilo fosse tudo o que restava dizer.
Cheguei antes, o caderno embaixo do braço, como sempre. O céu já começava a se pintar de laranja e rosa, espalhando cores por cima das folhas verdes. O vento era leve, mas frio. Véspera de outono.
Ela apareceu entre as fileiras de uvas com o vestido de sempre, os cabelos soltos, e algo nos olhos que eu ainda não sabia decifrar. Chegou perto, sem pressa. Ficamos frente a frente por alguns segundos, e eu tive a sensação de que, se falasse, quebraria alguma coisa invisível entre nós.
— Vai mesmo? — ela perguntou, baixo.
Assenti. Meu peito doeu como se uma corda estivesse sendo puxada por dentro.
— Amanhã de manhã. Sozinho, dessa vez.
Ela mordeu o lábio, desviando os olhos por um instante.
— E vai ser feliz lá?
Demorei para responder. Peguei o caderno, abri na última página. Lá estava ela. Sentada nos degraus da varanda, as mãos sujas de tinta, o céu pintado ao fundo.
— Vou tentar. Mas vai ser difícil sem isso aqui.
Ela olhou para o desenho, depois para mim.
— Isso aqui é só papel, Lorenzo.
— Não. — Eu fechei o caderno devagar. — Isso aqui é você.
Silêncio. Ela se aproximou mais um pouco. Pôs a mão no meu rosto, leve como o toque de um pensamento.
— Eu não vou te prender aqui. Nunca quis isso. Vai viver o que você tem que viver. Mas...
— Mas?
— Mas me escreve. Me desenha. Me liga. Sonha comigo, se der.
Senti os olhos arderem. Assenti, engolindo tudo o que queria dizer e não conseguia.
— Prometo. E você… me espera?
Ela não respondeu com palavras. Só me puxou num abraço. Firme, inteiro, como quem segura alguém que está partindo e voltando ao mesmo tempo. Ficamos ali, entre o cheiro das uvas e o céu que começava a escurecer, como se o tempo tivesse sido gentil só por um instante.
Antes de ir embora, ela tirou algo do bolso: uma fita vermelha, velha, manchada de tinta nas pontas. Amarrou no meu pulso.
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