Aurora Rossi
Seis meses.
Seis estações curtas de uvas amadurecendo e corações tentando esquecer.
Desde que Lorenzo partiu para Nova Iorque, meu coração parece encolher um pouco mais a cada dia. A saudade dele não é só ausência — é presença demais em tudo. No cheiro do parreiral ao entardecer. Nos degraus da varanda onde ele costumava desenhar. Nas páginas em branco do meu caderno, onde antes cabiam nossas conversas silenciosas.
Todas as noites, antes de dormir, envio uma mensagem. Às vezes um texto longo, às vezes só um “penso em você”. Sei que ele lê. O aplicativo me mostra aquele maldito “visualizado”. Mas as respostas... vêm com menos frequência. Mais curtas. Mais frias. Como se ele estivesse congelando, pouco a pouco, do outro lado do oceano.
Hoje, no impulso de sentir algo dele, qualquer coisa, abri o perfil dele nas redes sociais.
Fazia semanas que eu evitava. Como se olhar fosse tornar tudo mais real.
A primeira foto que apareceu foi como um soco:
Ele estava sorrindo, o rosto iluminado, taça de vinho na mão. E ao lado dele... uma garota.
Loira. Linda. Delicada de um jeito quase cinematográfico. O tipo de beleza que parece encaixar perfeitamente em um cenário de Nova Iorque. Eles estavam perto. Muito perto. Os olhos dele não estavam nos dela, mas havia algo ali. Intimidade demais. Familiaridade demais.
E eu... eu congelei.
Senti meu peito se apertar como se estivesse caindo de algum lugar alto e invisível. Uma parte de mim tentou ser racional — pode ser só uma amiga, uma colega da faculdade. Mas outra parte, a que ainda usava a fita vermelha no pulso, sabia. Lorenzo estava seguindo em frente. Sem mim.
Meus dedos tremiam quando disquei o número dele.
Toque. Toque. Toque.
Nada.
Tentei de novo. Mais uma vez. Cada vez com menos esperança.
Naquela noite, não dormi. Fiquei sentada na beira da cama com o celular nas mãos, esperando um sinal, uma resposta, qualquer coisa. Mas tudo o que recebi foi silêncio.
Na manhã seguinte, o sol entrou pela janela, mas nada em mim parecia despertar. Com os olhos ainda ardendo do choro mal contido, tentei ligar mais uma vez.
Chamou. Chamou.
E então... alguém atendeu.
— Alô?
A voz era suave. Quase musical. Um leve sotaque francês.
— Lorenzo? — minha voz saiu baixa, quebrada.
Do outro lado, silêncio por um segundo, depois:
— Ah... não. Desculpa. É a Camille. Ele... ele está no banho.
O mundo parou por um instante. Camille. O nome da legenda. A garota da foto. Ela.
— Ah... certo. — tentei manter a compostura, mas algo dentro de mim cedeu. — Pode dizer que liguei?
— Claro. Quem gostaria que eu diga que ligou?
O nó na garganta apertou.
— Aurora.
— Ah. Aurora... — ela hesitou, como se reconhecesse o nome. — Eu... vou avisar, tá bem?
Desliguei antes de ouvir mais.
Fiquei ali, encarando o vazio do quarto, como se tudo tivesse ficado mais frio de repente. Não chorei. Não gritei. Só... permaneci.
Talvez eu tivesse entendido errado. Talvez ele ainda pensasse em mim.
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