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Proibida para Mim: Apaixonado pela filha do meu amigo romance Capítulo 109

Lorenzo Bianchi

Ela estava ali.

Aurora.

E por um instante, o tempo fez silêncio dentro de mim.

O salão da galeria estava cheio — artistas, enólogos, curadores, flashes discretos — mas eu só conseguia enxergar ela.

A menina do parreiral. A garota com cheiro de tinta.

A mulher que ela se tornou.

Inteira. Forte. Serena.

Quando nossos olhos se encontraram, senti um aperto no peito.

Não era culpa. Era perda.

E talvez um pouco de vergonha também.

Ela parecia tão dona de si. Diferente e, ao mesmo tempo, exatamente como eu lembrava.

E foi aí que vi.

A tela atrás dela.

Promessa Incompleta.

O título sozinho já me desmontou.

Mas a pintura... aquela pintura...

Era nós dois.

Era o parreiral.

Era o céu dourado da nossa última tarde.

Era eu, indo embora, e ela... ficando.

Um traço quase imperceptível unia duas silhuetas distantes, como se ainda restasse algo, uma linha fina entre o que foi e o que não terminou de ser.

Tive vontade de falar.

De explicar.

De pedir desculpas por cada mensagem não respondida, cada ligação ignorada, cada noite que ela passou esperando algo de mim enquanto eu fingia que estava ocupado demais com meus estudos, com a cidade, com qualquer coisa que me afastasse daquela dor de sentir saudade.

Mas antes que eu conseguisse dizer mais do que um “está linda”, Camille apareceu.

Camille, com seus olhos claros e sua presença expansiva, sempre soube entrar nas horas erradas.

Ou talvez eu é que nunca soube dizer onde era o meu lugar.

Aurora ficou firme. Não recuou.

Mas eu vi nos olhos dela — o brilho que já foi meu agora estava coberto por uma dignidade madura, quase cruel.

Ela se apresentou com elegância, disse o que tinha que dizer... e foi embora.

Como quem fecha um capítulo sem bater a porta.

Como quem se despede sem gritar.

E eu fiquei ali, parado, com Camille ao lado, segurando um copo de vinho que de repente parecia amargo demais.

*********

Naquela noite, não consegui dormir. Camille dormia tranquilamente ao meu lado. O hotel era confortável, moderno, silencioso. Mas dentro de mim, tudo era ruído. Fiquei olhando para o teto, com o caderno de anotações no colo e a mente longe.

Passei páginas, rabisquei algumas ideias para minha apresentação, mas só uma palavra se repetia entre os rabiscos:

Aurora.

Lembrei da fita vermelha. Da promessa. Do beijo tímido entre as parreiras. Da forma como ela me olhava, antes. Eu a deixei. E ela fez o que tinha que fazer. Cresceu. Brilhou. Aprendeu a viver sem mim.

E eu? Fiquei em Nova Iorque, cercado de prédios e vinhos premiados, com uma sensação de que tudo que ganhei não cabia no vazio que deixei para trás.

************

Na manhã seguinte, entre uma palestra e outra, abri o catálogo da mostra e parei na página dela.

Aurora Rossi – Escola de Arte de Veneza. 18 anos. Selecionada para exposição internacional por mérito excepcional.

Ali estava a prova: ela não precisava de mim para ser extraordinária. E, mesmo assim, eu queria voltar no tempo.

Tarde demais? Talvez.

Mas algo dentro de mim dizia que ainda havia tinta suficiente nessa história para mais um traço.

Não para apagar o que passou.

Mas para, quem sabe, tentar um novo começo.

Eu não consegui mentir. Não consegui suavizar.

— Sim. Deixei. Porque eu precisei. Porque tudo isso... me pegou de surpresa. E eu não posso fingir que não senti nada. Ela foi tudo e nada ao mesmo tempo, cresci ao lado dela, Camille, você entende isso?

Ela levantou de súbito. Os olhos claros cheios d'água.

— Então era isso? Todo esse tempo comigo... e ela ainda está aí, dentro de você?

Respirei fundo. Passei a mão pelos cabelos.

— Não é tão simples, Camille. Eu gosto de você. A gente teve momentos bons. Mas eu acho que nunca fechei direito aquela porta... E ver a Aurora ontem... me mostrou o quanto eu deixei coisas inacabadas.

— Ela te retratou num quadro! Você acha que isso é pouco? — ela esbravejou. — Aquilo era uma resposta. Uma ferida exposta. E mesmo assim você foi lá, cutucar. Por quê?

— Porque talvez não quero fugir mais. Porque ela merecia mais do que silêncio. Porque eu... — hesitei, baixando o tom. — Porque talvez parte de mim ainda seja dela.

Camille me olhou por alguns segundos. O orgulho lutando contra a dor. Ela respirou fundo, tentando se recompor.

— Você sabe que eu nunca fui cega, não é? Eu sempre vi como você falava dela, mesmo sem dizer o nome. Sempre soube que ela existia. Mas eu esperei. Achei que com o tempo...

— Que com o tempo eu esqueceria?

— Não. Que com o tempo você escolheria. Você me escolheria. Me enxergaria como sou e estou para você inteiramente.

Silêncio. Ela pegou a bolsa devagar, sem histeria, sem mais gritos.

— Eu vou procurar outro quarto. — ela fala com lágrimas nos olhos — Amanhã temos o último dia da mostra. Você vai apresentar sua palestra. Faça direito. Pelo menos isso.

Assenti, sem forças para discutir.

Antes de sair, ela parou na porta e olhou por cima do ombro.

— Sabe o que dói, Lorenzo? Não é que você ainda ame ela. É que você nunca tentou amar outra pessoa de verdade.

E então, ela se foi.

E eu fiquei ali, sozinho no quarto.

Com a certeza de que tinha ferido alguém bom. E a dúvida cruel de se ainda era tempo de consertar qualquer coisa com Aurora.

Talvez o amor fosse isso: Um vinho raro, que exige maturação. Mas se deixado aberto por tempo demais... evapora.

Fechei os olhos.

Amanhã seria meu último dia em Florença. E talvez... meu último traço nessa história.

Mas se ela aceitasse me ouvir... Eu não deixaria nada incompleto de novo.

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