Aurora Rossi
Dei três passos antes de ouvir a água se agitar atrás de mim. O som apressado dos passos dele contra a grama encharcada me alcançou como um eco daquilo que ele ainda não queria soltar.
— Aurora, espera! — a voz dele veio embargada, como se tivesse acabado de perceber o que acabara de acontecer. — Eu… eu não quero que seja assim.
Parei. Não porque queria, mas porque minhas pernas simplesmente se recusaram a seguir. Fechei os olhos com força, lutando contra a vontade de virar e me perder de novo naquele olhar. Mas ele já estava ali, ao meu lado. Perto demais. Com o peito arfando, os olhos tão perdidos quanto o meu coração.
— Você tem noção do que acabou de me dizer? — ele perguntou, com a voz mais baixa agora, como se pisasse em um território frágil. — Você acha que é isso que significa para mim? Um brinquedo?
Eu respirei fundo, mas continuei de costas, o rosto levemente inclinado para o chão.
— Eu não acho, Lorenzo… eu sei.
O silêncio dele foi mais alto do que qualquer grito. Como se minhas palavras tivessem sido o tapa que ele precisava — mas que nunca esperou.
— Eu não trouxe ela aqui por você — ele disse, e a justificativa me fez sorrir com amargura. — Foi tudo uma coincidência. Eu nem sabia que você estaria…
— Coincidências não anulam escolhas. — Virei para encará-lo, finalmente. — Você escolheu estar com ela. Você escolheu dar um lugar para ela na sua vida, até na casa dos meus pais. E agora… agora me beija como se o resto não existisse? Você acha as coisas se consertam assim? Num dia manda flores e bilhetes, no outro chega com a Camille e apresenta a todos como sua namorada, num outro momento me beija como se nada, mas existisse e qual vai ser o próximo passo? Anunciar a todos que vai casar com a Camille. Se isso não é brincar, não sei do que se trata.
Ele abaixou o olhar por um instante, e foi ali que vi: o abalo. O choque de quem achou que ainda tinha algum controle sobre tudo, mas perdeu no momento em que sentiu — de verdade — o que estava prestes a deixar escapar.
— Porque você não me falou nada depois das flores? — ele pergunta visivelmente abalado.
— Porque vi que você tinha seguido em frente sem mim, e jamais iria te prender ao meu lado simplesmente porque um dia fomos próximos. Ou porque crescemos juntos.
— Eu nunca parei de sentir sua falta. — ele confessou, quase em um sussurro. — Mas eu me afastei porque achei que era o certo. Porque eu estava quebrado… e você também.
— E achou que agora seria diferente? Que eu ia simplesmente esquecer o que doeu, apagar o que machucou, só porque sentiu minha falta ou diz que sentiu. Lorenzo, você nem sabe o que quer de verdade.
Lorenzo balançou a cabeça, os olhos marejados. Não era de lágrimas. Era da confusão. Da impotência. Da verdade que ele não queria ver, mas que agora se fazia inevitável.
— Eu queria consertar. — ele disse. — Mas talvez só tenha quebrado mais.
Cruzei os braços, tentando proteger a parte de mim que ainda queria estender a mão. Mas não era hora disso. Ainda não.
— Vá para casa, Lorenzo. — falei, firme. — Não por ela. Não por mim. Mas por você. Pense. Escolha. Mas não me procure até saber com quem — e com o quê — você realmente quer ficar.
Me afastei de novo, desta vez com passos firmes, e ele não tentou me seguir.
E ali, pela primeira vez, eu senti: ele tinha finalmente ouvido.
O caminho de volta parecia mais curto, mas bem mais pesado. Meus cabelos pingavam sobre os ombros, a roupa ainda grudada no corpo e a alma… bem, essa parecia ensopada também — de tudo o que eu não queria mais sentir.
As duas se entreolharam em silêncio. Não precisavam falar para se entender.
— Você foi forte. — tia Helô disse, depois de alguns segundos. — Às vezes, a força não está em aguentar… mas em saber quando soltar.
Engoli em seco. Queria acreditar nisso. Queria mesmo.
— Ele disse que sente minha falta. Que nunca me esqueceu.
— E você? — minha mãe perguntou, me olhando nos olhos. — Ainda ama ele?
Demorei para responder. A verdade não vinha simples.
— Eu acho que sim… — sussurrei. — Mas amar não é mais suficiente. Não depois de tudo.
Minha mãe me puxou para um abraço apertado, e pela primeira vez naquele dia, deixei que o corpo relaxasse. Deixei que alguém me segurasse, enquanto eu ainda tentava me manter firme.
Tia Helô se levantou e começou a preparar um chá, como sempre fazia quando as emoções ultrapassavam as palavras. Era o jeito dela de cuidar.
— Fique tranquila, meu bem. O amor machuca, sim. Mas ele também ensina. E no fim… você sempre escolhe o que fazer com ele.
Fechei os olhos, encostada no ombro da minha mãe, e deixei o calor da casa me envolver. Não sabia o que viria depois. Não sabia o que Lorenzo escolheria. Mas naquele momento, eu estava em casa. E era o bastante.

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