Heloisa moura
Fazia muito tempo que não me sentia tão… irritada.
Vittorio tinha o dom de mexer comigo de um jeito que ninguém mais conseguia. Ele me provocava, me desafiava, me fazia querer gritar e beijá-lo na mesma intensidade.
Mas o que mais me irritava era a maldita confiança que ele tinha.
"Você percebe que não consegue ficar longe de mim."
Quem ele pensa que é?
Cruzo os braços, observando ele se afastar como se soubesse exatamente o que estava fazendo comigo. E talvez soubesse.
Porque, no fundo, ele estava certo.
Vittorio sempre foi minha maior fraqueza. E minha maior tentação.
Fecho os olhos por um instante, tentando recuperar o controle. Desde que ele chegou, tenho evitado ao máximo ficar sozinha com ele. Mas agora, depois dessa conversa, depois desse olhar intenso, sei que fugir não vai mais adiantar.
Ele está aqui. E ele está esperando por mim…..
Mais tarde naquela noite, depois do jantar, subi para o meu quarto e me jogo na cama. Meus pensamentos estão um caos.
Ficar perto de Vittorio de novo era como estar em um campo minado. Qualquer passo em falso e eu explodiria.
Pego meu celular e rolo a tela sem prestar atenção. Minhas mãos ainda tremem um pouco, e minha respiração não está exatamente normal.
Ótimo. Agora até meu corpo me traía. Uma batida na porta me faz congelar. Eu sei quem é antes mesmo de perguntar.
— Heloisa. — A voz dele atravessa a madeira, rouca e controlada. — Posso entrar?
Por um segundo, pensei em fingir que estava dormindo. Mas quem eu quero enganar?
Levanto e caminho até a porta, hesitante. Meu coração b**e forte enquanto minha mão alcança a maçaneta.
Respiro fundo antes de abrir. E lá está ele.
Vittorio se encosta no batente, as mangas da camisa dobradas, o olhar fixo em mim com aquela intensidade que me faz esquecer como respirar.
— O que você quer? — Minha voz sai firme, mas sei que ele percebe a hesitação.
— Só conversar.
Cruzo os braços.
— Já conversamos o suficiente hoje.
Ele sorri de lado.
— Não acho que já tenha terminado.
Reviro os olhos, mas dou um passo para trás, deixando ele entrar.
Ele observa meu quarto rapidamente antes de se virar para mim, como se estivesse escolhendo as palavras.
— Você realmente achou que eu não viria atrás de você?
Solto uma risada sem humor.
— Achei que você estivesse ocupado demais fingindo que eu não significava nada.
Ele estreita os olhos, e em um instante, está perto o suficiente para que eu sinta seu cheiro amadeirado e familiar.
— Você nunca foi nada para mim, Heloisa. — Sua voz cai para um tom mais baixo. — Mas eu não sou bom em admitir o que você realmente é.
Minha respiração vacila. Porque, naquele momento, vejo algo diferente nele. Algo cru, sem defesas.
— E o que eu sou, Vittorio? — pergunto, desafiando-o.
Ele levanta a mão e desliza os dedos pelo meu rosto, como se estivesse tentando encontrar a resposta ali.
— Minha ruína.
Fecho os olhos por um segundo, sentindo a eletricidade entre nós.
— Então por que está aqui?
— Porque não sei viver sem a minha ruína.
E então, antes que eu possa dizer qualquer coisa, Vittorio segura minha nuca e me beija. Dessa vez, não há hesitação. Não há dúvidas. A única coisa que existe é o inevitável. Eu e ele.
Os lábios de Vittorio são quentes, urgentes. Ele me beija como se quisesse tirar o ar dos meus pulmões, como se estivesse tentando me lembrar de tudo que eu tentei esquecer.
E, droga, eu lembro.
Cada toque. Cada sensação. Cada vez que desejei que ele dissesse as palavras certas, mas ele apenas me olhava como se eu fosse a única coisa que fazia sentido.
Minhas mãos encontram seus cabelos, puxando-o para mais perto, enquanto ele aperta minha cintura, me prendendo contra ele. O beijo não é suave. É desesperado. Como se ambos soubéssemos que no momento em que nos soltássemos, tudo voltaria a desmoronar.
Mas então, a realidade me atinge como um choque. Eu o empurro. Não com força suficiente para afastá-lo completamente, mas o suficiente para que seus olhos me encarar confusos.
— Heloisa…
Minha respiração está entrecortada, meu coração descompassado. Passo a língua pelos lábios inchados, tentando encontrar as palavras certas.
— Isso não muda nada.
A frase sai em um sussurro, e sei que estou tentando convencer a mim mesma mais do que a ele.
Os olhos de Vittorio brilham com algo que não consigo decifrar. Ele não discute, não tenta me persuadir. Apenas me observa, como se pudesse ver tudo o que estou sentindo sem que eu precise dizer uma única palavra.
— Então me diga para ir embora. — Sua voz é baixa, desafiadora. — Olhando nos meus olhos.
Meu estômago se contorce.
Por que ele sempre faz isso? Por que sempre j**a essas cartas que me fazem duvidar de mim mesma?
Engulo em seco, tentando ignorar a forma como meu corpo ainda está tremendo do toque dele. Abro a boca, pronta para dizer as palavras que ele quer ouvir. Mas não consigo.
O silêncio entre nós pesa. Vittorio percebe. E sorri.
— Eu sabia.
Fecho os olhos, frustrada.
— Você é impossível.
— Eu sou o único que diz a verdade entre nós.
Minha raiva cresce, junto com o medo. Medo do que estou sentindo. Medo do que ele significa para mim.
— Você acha que pode simplesmente aparecer aqui, me beijar e tudo vai ficar bem? — Minha voz sai mais forte agora. — Não funciona assim, Vittorio.
Ele suspira, passando as mãos pelos cabelos, claramente irritado.
— E o que você quer que eu faça, Heloisa? Quer que eu vá embora? Quer que eu finja que não estou completamente fodido por você?
Minhas mãos tremem.
— Eu quero que você me deixe pensar!
— Pensar? — Ele solta uma risada amarga. — Você já pensou demais. O problema é que pensar não vai mudar o que sentimos.
Olho para ele, a frustração crescendo dentro de mim.
— E se eu não quiser sentir isso?
Ele se aproxima de novo, me encurralando contra a parede.
— Então pare de me olhar desse jeito. Pare de tremer quando eu te toco. Pare de me beijar como se o mundo fosse acabar.
Minha respiração falha.
— Isso está ficando perigoso, Heloisa.
Meu coração dispara novamente, mas dessa vez não tem nada a ver com medo.
— Eu sei.
Ele levanta a mão e roça os dedos no meu rosto, traçando uma linha invisível até minha boca.
— Você quer que eu vá embora?
A pergunta paira entre nós. Queria dizer não, mas não poderia arriscar.
— É melhor você ir, meu pai pode voltar
Antes que eu possa dizer mais alguma coisa, seus lábios tomaram os meus outra vez, e então ele se afasta saindo do meu quarto.
A atmosfera do jantar é sofisticada, como sempre. Meu pai gosta de impressionar seus convidados, e desta vez não é diferente. O restaurante privado escolhido exala requinte, com vinhos selecionados e pratos elaborados. Mas nada disso prende minha atenção. Estou inquieta.
Vittorio está sentado ao meu lado, a postura impecável, a expressão controlada. Mas eu conheço ele bem o suficiente para saber que, por trás daquela máscara de calma, algo o incomoda. E logo descubro o quê.
— Heloisa, preciso falar com você sobre sua proposta de trabalho e uma oportunidade excelente — meu pai diz, erguendo a taça de vinho antes de continuar. — A Casa Blanca.
Congelo no lugar. Pois minha ideia era ir trabalhar nessa vinícola. É uma das mais respeitadas do mundo, com vinhedos que se estendem por hectares e uma tradição impecável no mercado.
— Fui contatado por um velho amigo, o Sr. Bernard. Ele quer que você vá conhecer a Casa Blanca. Ele está interessado no seu trabalho e quer você lá.
Sinto os olhos de Vittorio queimando em mim, mas não olho para ele.
— Pai… isso é um grande passo.
— Exatamente! — Meu pai sorri, satisfeito. — E adivinhe só? O filho dele, Augustus, está vindo te buscar pessoalmente amanhã.
Agora sim, olho para Vittorio.
Seu maxilar está travado, o olhar afiado como lâmina. Droga.
— Ele poderia ter mandado um motorista, mas Bernard fez questão de que Augustus viesse pessoalmente — Meu pai continua, como se não houvesse um furacão se formando à nossa mesa.
Tento disfarçar o desconforto e forço um sorriso.
— Isso foi... atencioso da parte dele.
— Sim, sim, o Augustus é um rapaz muito promissor! Trabalhou nos melhores vinhedos da França antes de assumir parte dos negócios da família. Tenho certeza de que vocês vão se dar muito bem.
Vittorio solta um riso seco. Um som baixo, mas carregado de algo que só eu percebo. Raiva. Ciúmes.
— E você já aceitou essa proposta, Heloisa? — Sua voz é casual, mas os olhos dizem outra coisa.
Engulo em seco.
— Ainda não…
Meu pai franze o cenho.
— O que quer dizer com ‘ainda não’? Até esses dias seu sonho era conseguir trabalhar lá e é uma oportunidade única, filha. Você não pode desperdiçar.
Vittorio se inclina ligeiramente para frente, apoiando os cotovelos na mesa, os olhos fixos em mim.
— Sim, Heloisa. Você não pode desperdiçar.
Eu poderia matá-lo por esse tom provocador.
— Eu preciso pensar — digo, escolhendo as palavras com cuidado.
Meu pai suspira, mas assente.
— Tudo bem, mas pelo menos conheça a vinícola antes de decidir. Augustus chegará pela manhã.
E com isso, o assunto está encerrado. Mas a tempestade ao meu lado não passou despercebida. E, pelo olhar de Vittorio, sei que essa noite ainda está longe de acabar.

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