Hugo e Ava Moura
Minha casa está tão vazia, a Heloísa estando na França e o Vittorio voltou para Itália, ficamos apenas a Ava e eu, nesta imensidão de casa, meus churrascos aos domingos já não são os mesmos, pois não tem o humor ácido do Vittorio, não tem o sorriso da minha menina.
— Querido, acho que fizemos errado quando aceitamos a proposta do pessoal da Casa Blanca. Nossa filha pode pensar que a entregamos de bandeja para eles. — Fala a Ava irritada mais uma vez.
Ela não aceita o acordo que fiz, com os Casablanca, pois acredita que a Heloísa, está apaixonada por alguém que ela não sabe ainda.
— Ava, querida, a Heloísa sabe muito bem se virar, se ela não quiser casar com o Augustus é apenas ela dizer não e voltar para casa, falamos com o Vittorio e ela pode trabalhar com ele. O que acha?
— Hugo, não quero pressionar a Helô, em absolutamente nada.
Neste momento meu celular vibra e quando olho o visor vejo o nome do Augustus. Coloco no viva voz atendendo de imediato.
— Bom dia Augustus, quais são as novidades?
— A Heloísa ainda não chegou? — pergunta ele surpreso.
— Do que está falando?
— A Heloísa não aceitou meu pedido e foi embora ontem mesmo durante o jantar.
— Como assim, foi embora?
Minha cabeça gira enquanto seguro o telefone com mais força do que deveria. O quê? A Heloísa foi embora? Sem avisar?
— Como assim, Augustus? O que aconteceu exatamente? — minha voz sai mais alta do que o normal, o que faz Ava se aproximar, os olhos arregalados.
— Eu… eu fiz o pedido, e ela simplesmente disse que não. Agradeceu, mas deixou claro que não queria seguir com o casamento. Então saiu da mesa e foi embora. Achei que teria voltado para casa. — A voz dele carrega um misto de frustração e incredulidade.
Sinto meu estômago afundar. Olho para Ava, que cruza os braços, visivelmente irritada.
— Eu avisei, Hugo! Nossa filha não queria isso! Agora ela está sozinha, sabe-se lá onde!
Meu coração dispara. Não, não. Heloísa não faria isso. Ela pode ser teimosa, mas nunca irresponsável. Pego o telefone e disco para minha filha, mas a ligação cai direto na caixa postal. Tento novamente, e nada.
— Ela não atende.
— Ligue para o Vittorio — sugere Ava, com a voz trêmula. — Ela pode ter ido para a Itália.
Aperto o contato do meu melhor amigo e levo o telefone ao ouvido, sentindo meu corpo inteiro tenso. Depois de três toques, ele atende.
— Hugo? O que foi?
— Vittorio! Pelo amor de Deus, me diga que a Heloísa está com você!
Há um breve silêncio antes de ele responder:
— Sim, ela está aqui. Chegou hoje de manhã.
Fecho os olhos e solto um longo suspiro. Ava leva as mãos ao rosto, aliviada.
— Ela está bem? O que aconteceu? — pergunto, passando a mão pelo cabelo.
— Bem? — Vittorio ri sem humor. — Ela está furiosa, Hugo. Disse que vocês venderam ela para os Casablanca e que não quer saber de mais nada disso. Chegou dizendo que quer trabalhar comigo aqui na vinícola.
Ava solta um pequeno som de indignação.
— Meu Deus… eu sabia que ela estava infeliz, mas não pensei que reagiria assim.
Engulo em seco. Heloísa sempre foi decidida, mas isso… isso era mais do que eu esperava.
— Vamos para a Itália — Ava declara, sem espaço para discussão.
E, pela primeira vez em muito tempo, eu não discuto.
— Conseguimos as passagens?
Ela apenas balança a cabeça afirmativamente. Sinto o maxilar travar.
— Não vai dizer nada?
Ela suspira, enfim me encarando.
— O que você quer que eu diga, Hugo? Que você estava certo? Que forçar um casamento por conveniência foi uma ideia brilhante? Nossa filha está machucada. E, sinceramente, não sei se ir até lá para obrigá-la a voltar seja o melhor.
Passo as mãos pelo rosto, frustrado.
— Ela está tomando decisões impulsivas. O que acha que vai acontecer quando ela perceber que vida de vinhedo não é um conto de fadas? Quando ela finalmente notar que o Vittorio está preso em seu próprio luto, por algo que não sabemos o que é, e que não há futuro naquela vinícola?
Ava se levanta, os olhos brilhando com uma emoção que não sei decifrar.
— Então talvez seja isso que ela precise, Hugo. Talvez ela precise descobrir por si mesma. Quebrar a cara e tentar se reerguer.
— Ou talvez ela precise que a gente a proteja de cometer um erro.
Ava solta um riso sem humor.
— Como se já não tivéssemos cometido o nosso próprio erro antes, não é?
Engulo em seco.
Não respondo, porque sei que ela tem razão.
Em poucas horas, estamos a caminho do aeroporto, o silêncio entre nós preenchendo o carro como um peso invisível. Meu pensamento é um só: Heloísa. E a pergunta que não me deixa em paz.
O que realmente levou minha filha a fugir?

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