Heloísa Moura
Assim que saio pela porta da frente, encontro Matteo esperando perto da caminhonete do vinhedo. Ele sorri de leve ao me ver.
— Tudo certo? — ele pergunta, abrindo a porta do passageiro para mim.
— Tudo certo — respondo, entrando no carro. — Agora vá encontrar Isabella. Eu me viro com o resto.
Ele ri, ligando o motor.
— Você é mais esperta do que eu pensava, Heloísa.
— E você mais romântico do que aparenta — retruco, com um sorriso.
Enquanto a caminhonete se afasta, sinto a adrenalina percorrer meu corpo. O jantar com Vittorio me espera. E, por mais arriscado que seja, pela primeira vez em muito tempo, sinto que estou exatamente onde deveria estar.
O trajeto até o restaurante é pontuado pelo crepúsculo que pinta o céu em tons de laranja e lilás. O vento fresco entra pela janela aberta da caminhonete, bagunçando meus cabelos enquanto meus pensamentos giram em torno do jantar com Vittorio. Não sei se estou mais ansiosa pela conversa em si ou pelo risco que corro ao estar ali.
Assim que Matteo me deixa na esquina próxima ao restaurante, agradeço com um aceno discreto. Ele sorri, cúmplice.
— Boa sorte, Heloísa. Espero que esse compromisso valha a pena.
— Espero que seu encontro também valha — retruco, piscando antes de me virar e seguir a pé pelo calçadão de pedras.
O restaurante escolhido por Vittorio é um pequeno bistrô à luz de velas, discreto e elegante, aninhado entre as ruelas do centro histórico. O aroma de ervas frescas e pão assado paira no ar enquanto atravesso a entrada de madeira rústica.
Logo o avisto, sentado em uma mesa perto da janela. Vittorio está impecável como sempre: camisa branca, mangas dobradas até os cotovelos, e o cabelo castanho levemente desalinhado, como se tivesse passado os dedos por ele enquanto esperava. Quando seus olhos encontram os meus, ele se levanta imediatamente, um sorriso suave curvando seus lábios.
— Heloísa — ele diz, puxando a cadeira para mim. — Achei que tivesse desistido.
— Eu quase desisti — admito, sentando-me. — Mas parece que hoje é uma noite para arriscar.
Os olhos de Vittorio brilham com algo entre curiosidade e alívio.
— Que bom. Porque eu também estou arriscando muito ao estar aqui.
Um garçom aparece, discreto, oferecendo o cardápio. Recusamos com um aceno, e Vittorio pede vinho tinto da região, sem sequer perguntar. Ele sabe que é meu preferido.
O vinho chega, e brindamos em silêncio. Lá fora, as primeiras estrelas surgem no céu escurecido. Dentro de mim, a mesma dualidade: o medo de me perder e o desejo de, finalmente, me encontrar.
— Então, Vittorio — digo, erguendo a taça —, que seja uma noite de verdades.
Ele sorri, mas em vez de brindar, segura delicadamente minha mão sobre a mesa, os dedos aquecendo minha pele fria.
— Que seja, Heloísa — ele murmura, os olhos presos nos meus. — Mas, se eu puder escolher uma verdade para começar… é que nunca deixei de esperar por esse momento.
Meu coração dispara, e por um instante, o mundo ao redor desaparece. Não há responsabilidades, riscos ou segredos. Apenas nós dois, sob a luz suave das velas, reconstruindo algo que nunca deixou de existir.
Sem pensar, aperto sua mão de volta, um sorriso sincero se formando em meus lábios.
— Então, Vittorio… que seja o recomeço que a gente sempre quis, mas nunca teve coragem de viver.
Ele se inclina sobre a mesa, e antes que eu perceba, seus lábios encontram os meus em um beijo suave, cheio de promessas silenciosas.
E, pela primeira vez em muito tempo, sinto que estou exatamente onde deveria estar.
Os lábios de Vittorio se afastam dos meus com a mesma delicadeza com que me tocaram, como se ele temesse quebrar o encanto daquele instante. Quando abro os olhos, encontro os dele — intensos, suaves, carregados de algo que vai além das palavras.
— Eu esperei tanto por isso — ele murmura, acariciando de leve minhas mãos entre as dele. — Esperei pelo dia em que você olharia para mim sem as barreiras que sempre nos separaram.
Meu peito se aquece, e um sorriso involuntário surge nos meus lábios.
— Eu também. Mas, por tanto tempo, achei que era tarde demais… que havíamos perdido a chance.
Vittorio balança a cabeça, como se afastasse qualquer dúvida.
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