Heloísa Moura
Saio de lá, arrasada, claro que o Vittorio foi para lá porque quis, lógico que aconteceu algo entre eles, e ele deve está cansado, eu que me iludi pensando que ela o drogou.
Desde mais cedo o Vittorio estava estranho, arredio, como fui burra em acreditar que ele ia falar com meu pai e assumir o que estava acontecendo entre nós dois.
Não passei de uma aventura, de mais uma em sua cama.
Entro em casa sem dizer uma palavra para ninguém. Minha mãe me chama da sala, mas ignoro, subo as escadas apressada, sentindo o nó na minha garganta apertar ainda mais. Assim que entro no quarto, fecho a porta e encosto nela por alguns segundos, tentando controlar a respiração, tentando segurar as lágrimas que já me cegam.
Como fui tola. Como pude acreditar que Vittorio sentia algo verdadeiro por mim? Desde o começo, tudo foi intenso, mas talvez tenha sido apenas para mim. Ele nunca disse que queria algo sério. Nunca prometeu nada. Fui eu quem se entregou por inteiro, quem acreditou que algo especial existia entre nós.
Cruzo o quarto em passos apressados e abro o armário. Pego a mala no alto da prateleira e a coloco sobre a cama. Começo a jogar minhas roupas dentro dela, sem me importar em dobrar nada. Só quero sair daqui. Voltar para Nova Iorque, para minha vida. Longe dele.
Cada peça que coloco na mala é um pedaço da ilusão que estou tentando arrancar de mim. O perfume dele ainda está na minha pele, como um lembrete cruel do que aconteceu essa noite. Será que enquanto estava comigo, ele já planejava ir para a cama dela depois?
Mordo o lábio com força, reprimindo um soluço. Não vou chorar por Vittorio. Não mais.
Depois de horas organizando tudo, sento na beira da cama, exausta, observando minha mala pronta. Meu voo sai amanhã cedo. Vou embora antes que ele sequer perceba.
Mas, como se o universo se divertisse em me torturar, ouço vozes no andar de baixo. Vozes familiares.
Meu coração aperta quando reconheço a dele.
Vittorio está aqui.
Levanto devagar, caminho até a porta e a abro, espiando pelo corredor. O som das conversas vem do andar de baixo, da sala de jantar.
Respire fundo, Heloísa. Você consegue enfrentar isso.
Com passos firmes, desço as escadas e me deparo com minha família reunida. Meus pais, … e ele.
Vittorio levanta o olhar e me encara. Por um instante, algo passa por seus olhos – surpresa? Cansaço? Culpa? – mas logo ele retoma sua expressão séria.
Finjo que não vejo. Finjo que ele não me destruiu.
Caminho até a mesa e me sento, pegando um copo d’água. Meus dedos tremem ao segurar o vidro.
— Você sumiu hoje, filha — minha mãe comenta, servindo-se de um pedaço de carne. — Pensei que fosse ficar sem o jantar.
— Não estava com fome — respondo, mantendo minha voz firme.
Vittorio continua me observando, e aquilo me incomoda. Ele não tem o direito de me olhar assim.
— Vai viajar amanhã? Voltar conosco? — meu pai pergunta, notando minha mala perto da porta.
Assinto.
— Sim. Já fiquei tempo demais. Está na hora de voltar para minha vida.
A frase pesa no ar. Sei que Vittorio entende o significado. Sei que ele sabe que estou falando dele.
Mas não vou desmoronar. Não na frente dele.
Engulo em seco e levo o copo aos lábios, sentindo o olhar dele queimando minha pele.
Se ele quer falar algo, que fale. Se não, que me deixe partir.
— O espumante ainda precisa de cuidados — ele fala sem me olhar.
— Hoje a tarde dei os últimos ajustes nele, a coloração e a fermentação estão perfeitas, próximo mês você poderá lançar sem problemas. Está faltando apenas o nome, sugiro que seja *ricordi* (lembranças), pois retrata todas as lembranças do passado ao lado da Liliane já que voltaram.
Saio da sala voltando para meu quarto antes que as lágrimas caiam revelando algo desconhecido para meus pais.
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