Heloísa Moura
Não consigo dormir direito, meu bebê está inquieto, como se sentisse a presença do pai. Sorrio com meu pensamento.
O Vittorio está aqui, em minha casa, a praticamente um passo de distância. Involuntariamente levanto da minha cama e vou até o quarto no qual sei que ele está.
Abro a porta devagar, sentindo um frio na barriga. A luz do corredor ilumina o quarto o suficiente para que eu veja a silhueta de Vittorio na cama. Ele está deitado de lado, respirando profundamente, como se estivesse realmente dormindo. Mas eu o conheço bem demais para acreditar nisso.
Dou um passo hesitante para dentro, sentindo o coração acelerar. Meu bebê se mexe em meus braços, resmungando baixinho, e meu instinto é balançá-lo suavemente para acalmá-lo. Não quero acordar Vittorio, mas ao mesmo tempo, quero que ele acorde. Quero que me veja. Quero que perceba que estou aqui, assim como ele está.
— Sei que você não está dormindo — murmuro, encostando-me no batente da porta.
Por um momento, há apenas silêncio. Então, ele se move. Lentamente, vira-se na cama, e mesmo no escuro, sinto seu olhar pousar sobre mim. É intenso. Carregado de tudo o que nunca dissemos um ao outro.
— Você sempre soube demais sobre mim — ele responde, a voz rouca da madrugada.
Engulo em seco. Não sei o que esperava encontrar aqui, mas a presença dele parece ainda mais avassaladora do que durante o dia. Talvez seja a quietude da noite. Ou talvez seja porque, no fundo, ainda sou aquela garota que amou Vittorio com toda a intensidade da juventude.
— Ele sente você — digo, olhando para meu bebê, que agora está mais calmo. — Desde que chegou, ele não para quieto. Como se soubesse que o pai está por perto.
Vittorio se senta devagar, apoiando os antebraços sobre os joelhos. A luz fraca revela sua expressão cansada, mas seus olhos estão fixos no pequeno ser em meus braços. Ele abre a boca, mas hesita.
— Posso senti-lo?
Minha respiração falha por um instante. Tento decifrar o que vejo em seu rosto: arrependimento, esperança, medo? Talvez tudo isso. E talvez eu também sinta um pouco de cada coisa.
Mas, mesmo com todas as dúvidas, dou um passo à frente. E, com o coração acelerado, levanto a blusa expondo a barriga para que ele sinta nosso filho.
Vittorio hesita por um momento, seus olhos presos à minha barriga como se não soubesse ao certo o que fazer. Então, devagar, ele estende a mão. Seus dedos roçam minha pele com delicadeza, e um arrepio percorre meu corpo.
Seus olhos encontram os meus antes que ele espalme a mão inteira sobre minha barriga. É um toque suave, quase temeroso. Meu bebê, que até agora estava inquieto, se move novamente, como se respondesse ao contato.
Vittorio prende a respiração.
— Ele… ele realmente sente — ele murmura, mais para si mesmo do que para mim.
Assinto, incapaz de dizer qualquer coisa. O momento é tão íntimo, tão cheio de significados, que palavras parecem desnecessárias.
Ele começa a acariciar minha pele em movimentos lentos, como se tentasse memorizar cada detalhe. Fecho os olhos por um instante, permitindo-me sentir. Permitir-me lembrar.
— Eu deveria ter estado aqui antes — sua voz é baixa, carregada de culpa.
Meu peito aperta. Sei disso. Ele sabe disso. Mas o passado não pode ser mudado. Só o que temos é este instante.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Proibida para Mim: Apaixonado pela filha do meu amigo