Heloisa Moura
Acordo com o som de vozes alteradas do lado de fora do quarto. Meu coração dispara, e um aperto na garganta me impede de respirar direito. Ainda estou fraca, mas forço meu corpo a se erguer na cama, ignorando a dor que percorre minhas costas.
O dia já amanheceu. A luz do sol atravessa a janela do hospital, e o cheiro forte de remédios me lembra que ainda estou ali.
Antes que eu possa me situar, a porta se abre com força, e meu pai entra no quarto, os olhos furiosos.
— Você não vai a lugar nenhum, Heloísa!
Vittorio está ao lado da cama, de braços cruzados, a expressão fria e tensa. Sei que ele está se segurando. Seu maxilar travado me diz que a paciência dele está no limite.
— Pai… — Minha voz sai fraca, mas ele me interrompe.
— Não, Heloísa! Você está frágil, vulnerável, e esse homem está se aproveitando disso!
Sinto um frio na barriga. Minha cabeça ainda pesa por conta dos remédios, mas a indignação começa a crescer dentro de mim.
— Não é verdade!
— Não é? — Ele me encara, os olhos cheios de raiva e dor. — Você acha que está tomando essa decisão porque quer, mas, na verdade, ele está manipulando você!
Vittorio solta um riso incrédulo ao meu lado.
— Isso é um absurdo…
— É mesmo? — Meu pai avança um passo, sem tirar os olhos de mim. — Heloísa, pensa! Você quase perdeu seu filho! Você está emocionalmente instável! Ele está se aproveitando disso para te levar embora!
A dor no peito aumenta.
— Pai, por favor… — Tento manter a calma, mas minha voz já carrega exaustão.
— Ele já te abandonou uma vez! Quem garante que não vai fazer de novo?
Meu estômago se revira. Ele está me fazendo questionar algo que eu já resolvi dentro de mim. Mas não posso permitir isso.
— Pai, chega.
— Filha, eu só estou tentando proteger você.
— Eu sei. — Engulo em seco e aperto os dedos contra o lençol. — Mas você não pode decidir minha vida por mim.
O silêncio que se segue é cortante.
Meu pai sempre esteve ao meu lado, me apoiou em todos os momentos. Mas agora, ele está tentando me afastar do homem que eu amo.
E eu não vou permitir isso.
Me viro para Vittorio, que me encara com um misto de alívio e expectativa. Seguro sua mão e aperto com força, buscando nele a certeza que já carrego dentro de mim.
Então, olho para meu pai e digo, sem hesitação:
— Eu vou com o Vittorio.
O silêncio pesa no ar, carregado de tensão. Meu pai me encara como se eu tivesse acabado de traí-lo. Seus olhos escuros, antes cheios de amor e proteção, agora transbordam mágoa e fúria.
— Você não sabe o que está fazendo, Heloísa — ele murmura, quase em súplica.
Minha garganta aperta, porque sei que estou machucando meu pai. Mas essa decisão é minha.
— Eu sei exatamente o que estou fazendo — minha voz sai firme, mesmo que por dentro eu esteja tremendo.
O peito do meu pai sobe e desce rapidamente, sua respiração pesada denuncia sua frustração. Ele aperta as mãos em punhos ao lado do corpo.
— Ele te iludiu. Está te convencendo de que vocês podem ser uma família, mas isso é mentira!
Sinto Vittorio se mover ao meu lado. Seu corpo inteiro exala tensão.
— Chega, Hugo! — Sua voz sai cortante. — Eu amo a sua filha! E amo o filho que estamos esperando!
Meu pai solta um riso sarcástico, balançando a cabeça.
— Amor? Vittorio, você fugiu para a Itália e a deixou aqui, sozinha no passado! E deixou que ela voltasse Grávida! Agora quer me convencer que mudou. O que mudou??
Vittorio fecha os olhos por um instante, como se estivesse reunindo forças.
— Eu cometi erros, eu sei disso! E me arrependo todos os dias! Mas eu voltei! Eu estou aqui agora, e nada, nada, vai me afastar da Heloísa de novo.
Meu coração aperta ao ouvir isso. Eu sinto a verdade nas palavras dele.
Meu pai passa as mãos pelos cabelos, exasperado.
— Você está manipulando minha filha! Ela está frágil, vulnerável! Ela quase perdeu esse bebê!
A dor do que aconteceu ainda é recente, ainda queima dentro de mim. Mas não foi Vittorio quem me machucou. Meu pai precisa entender isso.
— Pai… — suspiro, sentindo um nó na garganta. — Eu quero estar com ele. Você precisa aceitar isso.
Ele me olha como se não acreditasse no que estou dizendo.
— Você realmente acha que Vittorio é um homem confiável? Que ele vai cuidar de você e desse bebê?
Respiro fundo, ignorando o medo que ainda assombra meu peito.
— Sim.
O olhar do meu pai se estreita, e ele balança a cabeça, inconformado.
— Se você sair daqui com ele, Heloísa… — Sua voz embarga. — Não volte para mim quando ele te magoar de novo.
Meu coração despenca.
Sinto um aperto sufocante no peito, como se algo estivesse se partindo dentro de mim. Meus olhos se enchem de lágrimas, mas eu as contenho.
Vittorio aperta minha mão, me dando força.
Eu queria que meu pai entendesse. Que me apoiasse. Mas se ele escolheu me dar as costas por isso… então não há nada mais que eu possa fazer.
Engulo em seco e levanto o queixo.
— Eu te amo, pai. Mas essa é a minha vida.
Antes que eu possa dizer qualquer coisa, a porta se abre e Ava entra. Seu olhar alterna entre nós dois, mas sua expressão está indecifrável.
— O médico disse que você já pode ir para casa.
Assinto lentamente, tentando ignorar a mistura de emoções que isso me causa.
Casa. Mas qual delas? Minha mãe se aproxima e segura minha mão.
— Eu sei que você já decidiu. Mas quero que tenha certeza, Heloísa.
Vittorio se mexe ao meu lado, impaciente.
— Ava, não comece…
Ela o ignora e continua olhando para mim.
— Eu sei que você ama o Vittorio. Mas também sei que está frágil agora. As coisas estão acontecendo muito rápido. Você realmente quer sair daqui direto para a casa dele?
Respiro fundo. Sei que Ava quer o meu bem. Mas estou cansada dessas insinuações de que estou sendo manipulada.
— Sim, mãe. Eu quero.
Ela analisa meu rosto, como se procurasse algum sinal de dúvida. Mas não vai encontrar.
— Então eu vou respeitar isso.
O alívio que sinto é imediato.
— Obrigada.
Ela assente, mas antes de sair, lança um olhar afiado para Vittorio.
— Espero que não a machuque.
Vittorio ergue uma sobrancelha, cruzando os braços.
— E eu juro que nunca vou machucá-la.
Minha mãe parece satisfeita — ou pelo menos conformada. Então, com um último olhar para mim, ela sai do quarto.
Vittorio solta um suspiro pesado.
— Eu tenho a leve impressão de que eles não vão me perdoar tão cedo.
Não consigo evitar um sorriso fraco.
— Eles só precisam de tempo.
Ele me puxa para um abraço e murmura contra meu cabelo:
— Podemos dar todo o tempo do mundo para eles. Desde que isso não signifique perder você.
Me permito relaxar contra ele, fechando os olhos por um instante.

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