Hugo Moura
O dia parecia se arrastar enquanto eu tentava focar no trabalho. Me tranquei na minha sala na empresa, tentando me ocupar com relatórios, reuniões e qualquer coisa que me mantivesse longe dos pensamentos que me atormentavam desde a conversa com Ava.
Mas a verdade era que nada conseguia afastar aquela voz insistente na minha cabeça. O neto que eu ainda nem conhecia já tinha se tornado uma presença constante nos meus pensamentos.
Soltei um suspiro pesado e apertei as têmporas, sentindo a tensão latejar. Peguei uma caneta e comecei a rabiscar distraidamente uma folha em branco quando o telefone fixo da minha mesa tocou, arrancando-me do torpor. Franzi o cenho. Ninguém me ligava diretamente ali a menos que fosse algo realmente importante.
— Hugo Moura — atendi, tentando manter a voz firme.
Do outro lado, uma voz masculina carregada de um sotaque italiano preencheu o silêncio.
— Signore Moura, perdoe-me, mas como não obtive resposta do Signore Vittorio sobre a venda da propriedade, decidi ligar para o senhor para saber se iremos prosseguir?
Meu corpo enrijeceu instantaneamente.
— Como assim a venda da propriedade? — Minha voz saiu mais cortante do que eu pretendia.
Houve um breve silêncio antes que o homem continuasse, hesitante.
— A propriedade da família na Toscana. O Signore Vittorio iniciou negociações há algumas semanas, mas desde então não obtivemos mais retorno. Como se trata de um bem familiar, e de sociedade, achei prudente contatá-lo diretamente antes de avançarmos com qualquer outro interessado.
O ar pareceu sumir dos meus pulmões. Me inclinei para frente, apertando o telefone com força.
— Vittorio está vendendo a propriedade da família? Sem sequer mencionar isso para mim? — Meu tom era baixo, mas carregado de incredulidade e irritação.
— Bom…, sim, Signore. Até onde sabemos, ele é o responsável pelos trâmites. Mas se houver alguma questão a ser discutida, ficamos à disposição para esclarecer qualquer detalhe. — A voz do homem soava diplomática, cuidadosa. Ele sentiu provavelmente o peso da minha reação.
Fechei os olhos por um momento, tentando conter a onda de fúria que ameaçava me dominar. Aquela propriedade era mais do que um simples pedaço de terra. Era parte da nossa história. O lugar onde passamos verões inteiros, onde memórias foram criadas, onde minha filha cresceu correndo pelos vinhedos sem preocupações.
E agora, Vittorio queria simplesmente se livrar disso sem sequer me consultar?
Abri os olhos novamente, a determinação crescendo dentro de mim.
— Nada será vendido até que eu fale com ele — declarei com firmeza. — Não tome nenhuma decisão até segunda ordem. Eu mesmo vou resolver isso.
— Entendido, Signore Moura. Estarei aguardando seu retorno. — O homem desligou, e o silêncio voltou a preencher minha sala.
Soltei o telefone na mesa e passei as mãos pelo rosto, sentindo a frustração ferver dentro de mim.
Primeiro, ele me tirou a minha filha.
Agora, queria apagar o passado como se nada importasse?
Levantei-me abruptamente. Eu não ia deixar isso acontecer.
— Hugo, seja razoável. A propriedade não gera lucro. É um gasto desnecessário. Já passou da hora de nos livrarmos disso, além disso, meu filho está chegando e preciso me estabilizar aqui em Nova Iorque, onde a Heloisa quer ficar.
Bati a mão na mesa, interrompendo seu discurso.
— Não cabe a você decidir isso sozinho! Se a propriedade está no nome da família, então é uma decisão conjunta. E eu não autorizei nada.
Vittorio me encarou por um momento, seus olhos avaliando minha reação. Então, ele se levantou lentamente, ajeitando o paletó.
— Você sempre mostrou um sentimentalismo que nunca sentiu. Isso é um negócio, Hugo. Nada mais. Se quiser manter essa relíquia do passado, sugiro que me compre a minha parte. Caso contrário, a venda seguirá em frente. Ah, e ao invés de se importar com uma casa velha, deveria visitar sua filha, ela é uma pessoa, tem sentimentos e está sofrendo por conta de sua arrogância.
Cruzei os braços, apertando os dentes para conter a raiva. Ele queria me forçar a comprar algo que já era meu por direito. O cinismo dele não tinha limites. E ainda coloca minha filha no meio dessa história.
— Eu vou resolver isso — afirmei, firme. — Mas não se atreva a tomar mais nenhuma decisão sem me consultar. Isso não acabou. E no que diz a respeito da Heloisa, ela fez sua escolha quando decidiu ficar com você.
Ele apenas sorriu de lado e deu de ombros.
— Faça como quiser. Só não demore. Há interessados que não vão esperar para sempre. — ele vai em direção à porta mais para no meio do caminho — caso você se importe, o nome do seu neto é Hugo Lorenzo.
Vittorio saiu da sala como se tivesse acabado de concluir uma reunião de negócios qualquer, e eu fiquei ali, sentindo o peso da situação se intensificar sobre mim.
Eles decidiram dar meu nome a esse bebê. Meu neto...

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