Vittorio Bianchi
Saio do quarto em silêncio, certificando-me de que Heloísa está em sono profundo. A respiração dela é tranquila, mas sei que sua mente está longe disso. Cada pesadelo que Liliane plantou nela ainda a assombra. E eu não posso permitir que isso continue.
Pego minha jaqueta no encosto da cadeira e deslizo para fora da casa sem fazer barulho. O ar da madrugada é frio, carregado com aquela energia densa de algo prestes a acontecer. O carro está estacionado logo ali, esperando. Quando ligo o motor, um arrepio sobe pela minha espinha. Esta noite pode mudar tudo.
Dirijo até um galpão abandonado na zona industrial. Hugo já está me esperando ao lado de um carro preto, as mãos enfiadas nos bolsos do casaco. Seus olhos brilham sob a luz fraca do poste mais próximo. Ele sempre teve esse ar de quem já viu e fez mais do que deveria.
Assim que desço do carro, ele se aproxima.
— Tem certeza disso, Vittorio? — sua voz é baixa, mas carregada de significado.
Encaro-o com firmeza.
— Liliane cruzou a linha. Ela acha que pode continuar jogando esse jogo, mas eu não vou esperar para ver qual é a próxima jogada dela.
Hugo solta um suspiro, passando a mão pelos cabelos.
— O cara está lá dentro. Ele quer falar com você antes de decidir qualquer coisa.
Faço um breve aceno e caminho até a entrada do galpão. As portas estão entreabertas, revelando um espaço iluminado apenas por algumas lâmpadas fracas. O cheiro de ferrugem e óleo impregnado no ar me faz franzir o nariz.
No centro do lugar, um homem está sentado sobre uma mesa de madeira, os braços cruzados. Ele é alto, magro, com um rosto anguloso e olhos que parecem enxergar além do obveio. O tipo de pessoa que você não quer como inimigo.
Ele me observa por um momento antes de falar.
— Então você é Vittorio.
Não respondo de imediato. Quero avaliar quem está diante de mim. Hugo mencionou que ele poderia ajudar, mas esse tipo de homem nunca faz nada de graça.
— Quero que Liliane desapareça da vida de Heloísa — digo, indo direto ao ponto.
Ele sorri de canto.
— Desaparecer pode significar muitas coisas. O que exatamente você quer?
Sinto a tensão se espalhar pelo meu corpo, mas minha voz sai firme.
— Eu quero que ela não seja mais uma ameaça. Que deixe minha família em paz.
O homem observa minhas expressões atentamente antes de se levantar, caminhando devagar ao meu redor.
— Eu posso resolver isso. Mas tudo tem um preço.
Espero por um momento antes de perguntar.
— Hugo, a Heloisa nunca foi mais uma em minha cama. Ela é a mulher da minha vida, a mãe do meu filho. Não sei o que seria da minha vida sem ela do meu lado. Hugo, eu fugi desse sentimento, Deus é testemunha do quanto eu fugi.
— Faça ela feliz...
— Procure sua filha, ela sente sua falta e só estará feliz quando você a perdoar, quando você estiver ao lado dela. Vai esperar seu neto nascer para procurá-la? Você a conhece, ela é teimosa igual a você.
Hugo assente, o olhar carregado de algo que beira a compreensão. Mas também há dúvida ali. Talvez ele saiba que não há caminho fácil para o que estamos prestes a fazer. Talvez ele esteja se perguntando se vale a pena. Mas para mim, essa pergunta não existe. A resposta sempre será sim.
Sem mais palavras, entro no carro e ligo o motor. Minhas mãos estão firmes no volante, mas minha mente está uma tempestade. Liliane sempre soube manipular as pessoas ao seu redor. Se ela descobrir que estou por trás disso, que tomei essa decisão sem hesitar, não duvido que ela tente um último golpe. O problema é que desta vez, eu estou preparado.
O caminho de volta para casa é silencioso, exceto pelo ronco baixo do motor cortando a madrugada. Quando chego, o céu já dá sinais de que em breve começará a clarear. Entro sem fazer barulho, subindo as escadas como um fantasma. Ao abrir a porta do quarto, encontro Heloísa ainda adormecida, os cabelos espalhados pelo travesseiro, o rosto sereno. Mas eu sei que dentro dela, a tormenta não passa.
Deito ao seu lado, puxando-a para perto. Ela se ajeita contra mim, instintivamente, como se sempre soubesse onde é o seu lugar. Respiro fundo, sentindo seu perfume, deixando que a sensação de tê-la nos meus braços alivie, nem que seja por um momento, o peso da escolha que acabei de fazer.
— Vittorio… — sua voz surge baixa, um sussurro contra minha pele.
— Shhh, estou aqui, meu amor. — Murmuro, passando os dedos pelos seus cabelos.
Ela se aconchega ainda mais, suspirando. Sei que ela quer acreditar que tudo ficará bem. E, por mais que eu tenha vendido minha alma esta noite, por mais que tenha cruzado uma linha sem volta, eu farei de tudo para que seja verdade.
Eu só espero que o preço não seja mais alto do que estou disposto a pagar.

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