Hugo Moura
As horas se passavam e ninguém vinha trazer notícias da minha filha.
Até que as portas se abrem e o médico que a atendeu disse que a Ava e eu podíamos entrar, quando entrei no quarto e vi o Vittorio segurando aquele bebê fui levado há vinte anos atrás. Quando vivi esta cena quando ele pegou Heloísa em seus braços pela primeira vez.
Uma sensação de desconforto me atinge, entretanto, não posso ser injusto — o Vittorio ama a Heloísa de verdade. Eu vejo isso agora, mais do que nunca. Está no modo como ele segura aquele bebê. Nos olhos marejados, no cuidado atento, na respiração que ele prende como se qualquer movimento brusco pudesse ser demais para aquele ser tão pequeno e precioso.
É o mesmo olhar de vinte anos atrás, mas agora mais maduro, mais consciente do valor da vida que carrega nos braços.
Vittorio ergue os olhos e me encara. Há algo ali… um tipo de respeito silencioso. Ele se aproxima devagar, e quando para na minha frente, estende o bebê com delicadeza.
— Quer segurar o seu neto, Hugo?
Por um segundo, o ar some dos meus pulmões. Meu neto.
Assinto, sem conseguir dizer uma palavra. Meus braços se abrem por instinto e, quando sinto o peso leve e quente do pequeno Hugo Lorenzo aninhado contra o meu peito, é como se algo dentro de mim se partisse e se reconstruísse ao mesmo tempo.
A emoção me toma por completo. É diferente de tudo que já senti. Como explicar o que é segurar o filho da sua filha? Como dar nome à força desse laço, à intensidade desse amor que nasce tão rápido e tão fundo?
Meu coração dispara, os olhos ardem, e eu só consigo olhar para aquele rostinho sereno, para as mãos minúsculas que se movem devagar, como se tocassem o mundo pela primeira vez.
— Ele é… — minha voz falha, e preciso engolir o choro antes de continuar — ele é perfeito.
Ava se aproxima e passa a mão nas minhas costas, me apoiando em silêncio. Vittorio apenas observa, respeitando o momento.
Ali, com meu neto nos braços, tudo o que antes parecia ruído se acalma. Os erros, as dores, os medos… Por um instante, desaparecem. Tudo o que resta é esse amor puro, arrebatador. A certeza de que, apesar de tudo, algo muito certo nasceu neste dia.
E talvez, só talvez, esse bebê seja o elo que vai nos ajudar a consertar o que foi quebrado.
Quando saio do quarto junto com a Ava uma sensação de paz me atinge.
— Ava, sinto que a Heloísa vai ser uma mãe maravilhosa e o Vittorio vai ajudar lá a crescer. Fui um idiota virando as costas para eles.
— Hugo, as pessoas estão propicias a cometerem erros, mas a partir do momento em que elas decidem perdoar de coração, a vida delas mudam. Sei o quanto você ama o Vittorio, e sei o quanto doeu esse tempo que passou afastado dele. Perdoe, e se aproxime novamente dele, vocês são família, sempre foram. E agora ele é o noivo da sua filha e pai do seu neto.
Assinto absorvendo as palavras da Ava ela tem razão. Nunca vi o Vittorio como um amigo, sempre o tive como irmão, me senti traído sim quando descobri o que tinha acontecido entre ele e a Heloísa, mas o que importa é que ninguém vai cuidar e amar a Heloísa como ele.
…Eu sei disso agora. E talvez, no fundo, sempre soube. Só estava cego demais pela dor, pelo orgulho ferido, para enxergar o óbvio.
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